Saber viver é uma arte, mas com segurança

  • Rosália Amorim
  • 28 Outubro 2024

O que se passou nos últimos dias, sobretudo na região metropolitana de Lisboa, pode deitar a perder qualquer campanha, por mais artística e bem-intencionada que possa ser.

“Portugal is Art” é a nova campanha internacional do Turismo de Portugal, apresentada pelo ministro da Economia no congresso da APAVT, em Huelva, Espanha, no último sábado. A arte dos portugueses passa por receber bem, cozinhar ainda melhor e proporcionar experiências ao turista que nos visita.

Hoje a economia e a cultura têm um papel crucial na atração de visitantes, criam ganhos diretos e indiretos para a economia e contribuem para o crescimento do país. Gerar mais valor para o destino e para as empresas equivale a criar mais empregos, mais valor acrescentado e uma imagem reforçada de Portugal dentro e fora de portas.

Só o VAB (valor acrescentado bruto) gerado no segmento da distribuição turística (agências de viagens) equivale a 2,4% do PIB em 2022, segundo o último estudo da EY para a Associação Portuguesa das Agências da Viagens e Turismo de Portugal (APAVT), tornado público na última sexta-feira. As estimativas preliminares do valor económico para 2023, baseadas em dados do inquérito às agências e estatísticas provisórias do Turismo (INE), apontam para uma continuação do crescimento em valor (para 6 960 M€ de VAB) e maior representatividade face ao PIB (para 2,6% do produto interno bruto). Estes resultados traduzem a evolução positiva da procura turística em Portugal e o aumento dos preços registado no pós pandemia.

Para continuar em alta, é preciso não esquecer que a cultura é a alma do negócio. Representa a identidade de um povo. É essa alma e oferta diversificada que a nova campanha (veja abaixo) agora comunica junto dos mercados externos.

A fusão entre o tradicional e o novo traduzem a arte de ser da nação. Promover o património, as paisagens, sabores, ondas e tradições nunca é demais. Em cada esquina, de cada cidade ou aldeia, pode estar uma expressão criativa. Fora dos grandes museus, também há arte em cada ruela ou praceta e essa diferenciação agarra o turista que procura conhecer um destino por inteiro.

Enoturismo, gastronomia, turismo literário, termas e bem-estar, surf e festivais de música, museus são vários dos produtos turísticos em alta. A aposta que agora se faz, com financiamento público, destina-se a nove mercados: Reino Unido, Irlanda, Espanha, França, Alemanha, EUA, Brasil, Países Baixos e Bélgica.

Mas Portugal será mesmo arte? Se olharmos na perspetiva das tradições, da ligação entre as técnicas inovadoras e as técnicas artesanais, por exemplo na vinha e no enoturismo, podemos encontrar essa arte de saber fazer e criar. A forma como os nossos artistas e arquitetos têm reinterpretados os espaços públicos também nos deve orgulhar. A história reinterpreta-se todos os dias e a arte também, sempre em partilha com os olhos curiosos que chegam de todas as partes do mundo. A arte moderna ou a gastronomia são outras manifestações da marca Portugal que devemos evidenciar cá e lá fora.

Esta campanha insere-se numa das medidas incluídas no ‘Programa Acelerar a Economia’. Além da divulgação do que temos de melhor, o desafio passa também por não esquecer o capital humano. É esse o nosso elemento distintivo. O que seria de Alfama sem o espírito de bairro alimentado por quem ainda lá vive ou o que seria da Nazaré sem as mulheres que vestem as sete saias, calçam os tamancos e nos abordam na rua e perguntam: ‘ah miga, queres um quartinho?’.

A marca Portugal é um ativo difícil de quantificar pela sua grandiosidade. E os poderes públicos nunca podem esquecer de que, para lá das propagandas, o bem-estar de um povo e os problemas estruturais têm impacto na imagem nacional. Se queremos continuar a projetar o turismo como um fator de desenvolvimento é importante cuidar da segurança dos bairros e da política da imigração, com critério. O que se passou nos últimos dias, sobretudo na região metropolitana de Lisboa, pode deitar a perder qualquer campanha, por mais artística e bem-intencionada que possa ser. Harmonia e estabilidade, precisa-se! Não só na política, mas na sociedade – que ainda vai tendo a arte de saber viver, por vezes com tão pouco, mas com um sorriso na cara e um fado no coração.

  • Rosália Amorim
  • brand, marketing & communication director do portuguese cluster da EY

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