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“Até haver um sim do lado da Cofina é um tema abstrato”, diz CEO da Media Capital

Lusa,

A compra da Cofina, a 'morte' da TDT, uma plataforma nacional de streaming e as oportunidades no negócio móvel são alguns dos temas abordados pelo CEO da Media Capital em entrevista à Lusa.

O presidente executivo da Media Capital afirma que a compra da Cofina “é um tema abstrato” para o grupo, sem desenvolvimentos até agora, não tendo desde que assumiu o cargo em julho se sentado ainda para negociar com aquela empresa.

Em entrevista à Lusa, quando questionado sobre ponto de situação de eventuais negociações após o esclarecimento das duas empresas ao mercado em março, Pedro Morais Leitão afirmou não saber responder, “porque depende tudo da Cofina”.

“Se eu me sento com a Cofina? Não, não me sentei com a Cofina nunca. Desde que entrei aqui nunca me sentei com a Cofina”, afirma o gestor, que cumpre um ano na liderança executiva da Media Capital em julho.

Em 02 de março, às 22:34, o jornal Observador escreveu ‘Media Capital, dona da TVI, em negociações para comprar Cofina, que detém Correio da Manhã’. A notícia levou no dia seguinte a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) a determinar a suspensão das ações da Cofina e da Media Capital, “aguardando informação relevante ao mercado”.

Em 03 de março, a Media Capital, que tem Mário Ferreira como presidente do Conselho de Administração, informou, então, que estava “atenta e disponível para analisar oportunidades de negócio”, mas quanto à aquisição da Cofina ou de ativos do grupo de Paulo Fernandes que “nada” existia “de relevante“.

E sobre uma eventual consolidação do setor, também Pedro Morais Leitão voltou agora a dizer que, “não sendo imprescindível”, a Media Capital “não se pode imiscuir dela”.

Ainda em 02 de março, antes, também a Cofina já tinha prestado esclarecimentos, depois do pedido da CMVM. A dona do Correio da Manhã e liderada por Paulo Fernandes esclareceu que”, pela sua natureza de sociedade gestora de participações sociais, avalia em permanência todas as oportunidades de negócio que possam valorizar os seus ativos, numa perspetiva de compra ou de venda”.

“Se eu me sento com a Cofina? Não, não me sentei com a Cofina nunca. Desde que entrei aqui nunca me sentei com a Cofina”

O grupo disse que tinham sido “realizadas abordagens preliminares por diversos assessores externos, com vista a encetar possíveis negociações, que estão a ser objeto de análise pela sociedade, sem que haja, na presente data, qualquer decisão ou conversações, entre a Cofina e, nomeadamente, a Media Capital ou os seus acionistas, relacionadas com a matéria da referida notícia”.

Esclarecimentos que as declarações agora do CEO da Media Capital corroboram.

Até haver um sim do lado da Cofina para nós é um tema abstrato (…) Até hoje eu não vi um papel assinado pela Cofina”, sublinha Pedro Morais Leitão.

A notícia de compra ou de combinação de negócios entre as duas empresas em março aconteceu em véspera de se cumprir três anos do anúncio da desistência da Cofina em comprar a TVI após falhar a operação de aumento de capital (11 de março de 2020), o que ditou um destino diferente para a Media Capital, com Mário Ferreira a tornar-se acionista de referência.

Entretanto, em 14 de maio de 2020, Mário Ferreira entrou na estrutura acionista da Media Capital através da Pluris Investments, com 30,22%, prometendo trazer novo ‘fôlego’ à dona da TVI.

TDT “está morta” e licença deve ser renovada até 4 anos

O CEO da Media Capital afirma, em entrevista à Lusa, que a TDT “está morta” e propõe a renovação da licença apenas até quatro anos, acrescentando que é preciso encontrar forma de medir audiências no telemóvel.

“Estamos com dificuldade em enterrá-la”, afirma Pedro Morais Leitão, referindo-se à Televisão Digital Terrestre (TDT), cuja licença foi atribuída à Meo/Altice Portugal em outubro de 2008 por 15 anos e cuja concessão termina este ano. “Na minha opinião ela está morta”, diz o presidente executivo (CEO) da dona da TVI e CNN Portugal, acrescentando que o enquadramento legal nesta área foi ficando desatualizado com o tempo.

Questionado sobre qual é a solução, Pedro Morais Leitão admite que, “tendo chegado a este ponto, obviamente não pode ser em janeiro de 2024 fazer cair a TDT”. Mas “também não é alternativa” empurrar “com a barriga durante sete anos e daqui a sete anos alguém acordar e dizer que estamos na mesma situação em que estamos hoje”, defende.

A proposta de Pedro Morais Leitão é renovar a licença da TDT por três ou quatro anos.

Obviamente não pode ser em janeiro de 2024 fazer cair a TDT”. Mas “também não é alternativa” empurrar “com a barriga durante sete anos e daqui a sete anos alguém acordar e dizer que estamos na mesma situação em que estamos hoje.

Isto porque “todas as dúvidas tecnológicas que existem sobre o próximo passo serão, em princípio, resolvidas nos próximos três ou quatro anos e, até lá, façamos um esforço sério” para encontrar uma solução, desafia o gestor. Portugal tem fibra ótica, cabo, satélite para chegar às casas das pessoas “e estamos aqui a manter um sistema de estradas nacionais [TDT] que quem o paga são os privados”, prossegue, referindo que a RTP também paga, mas que os privados contribuem para a empresa de media pública através da contribuição para o audiovisual (CAV).

O gestor participou no concurso da TDT de 2001, de 2008 e agora, em 2023, na consulta pública, conhecendo o “historial” da Televisão Digital Terrestre “como poucas pessoas” em Portugal.

Agora, é exatamente por conhecer” que considera que “as pessoas que não sabem o suficiente” sobre o assunto “não estão a pensar o suficiente”, diz.

“Começámos por ter televisões em sinal aberto” e “para fazer as televisões de sinal aberto privada tirámos as antenas que originalmente eram da RTP e entregámo-las a um operador de transmissão, na altura a Portugal Telecom”, entretanto, era caro pelo que a TVI “foi a única” que decidiu montar a sua própria rede, a Reti.

Em parte, e “em resultado disso, em 1998, a TVI pediu a insolvência (…) pela necessidade de investimento que teve” esse projeto, recorda.

“A dita década dourada em que a TVI viveu tinha a sua própria rede de transmissão e fazia cobertura nacional com custos inferiores aos custos que paga agora”, cobrindo “100% do país”, aponta Pedro Morais Leitão.

A Media Capital percebe “perfeitamente o histórico todo” da TDT, que a Altice Portugal investiu na plataforma, “teve que pagar dinheiro por isto” e que, “obviamente”, pretende ser ressarcida pelo investimento que fez. “Esse investimento foi feito na expectativa de uma licença de 15 anos, agora estamos a renová-la por mais sete” sem “ninguém pensar qual é o próximo passo”, alerta.

Pedro Morais Leitão refere que trouxe o tema para o debate “dado que este parece ser um assunto menor para a Altice ou para a RTP” e “mais indiferente” para a SIC do que para a TVI. “Para nós não é indiferente continuar a operar durante sete anos, não é indiferente”, salienta.

A Media Capital já falou com o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva sobre o assunto, referindo o gestor que “obviamente” que o governante “está atento” ao tema e ao número de pessoas que recebem os sete canais na plataforma gratuita (RTP1, SIC, TVI, AR TV, RTP3 e RTP Memória).

“Somo sensíveis a isso, a questão é o custo a que isso está a ser feito”, prossegue. “São 150 mil lares, que é o número para efeitos de receitas publicitárias que consideramos hoje” e “achamos que os oito milhões de euros que pagamos [o setor] anualmente chegam para pôr televisão por via digital em todas essas casas“.

Quanto à medição de audiências, Pedro Morais Leitão diz que vê “oportunidades de melhoria”. A metodologia de medição de audiências é construída pela Comissão de Análise de Estudos de Meios que reúne anunciantes, agências e os meios.

A Plural, obviamente, tem interesse em trabalhar para todas as plataformas de ‘streaming’. Portanto, se a pergunta for [se] gostaríamos que a Plural participasse, contribuísse para uma plataforma de ‘streaming nacional, a resposta é sim.

Tenta-se concertar as vontades de muitas pessoas, as opiniões de muitas pessoas num esforço hercúleo para que isto seja uma coisa pacífica e é verdade que normalmente quem perde vê sempre com mais cuidado os problemas da metodologia, que à partida normalmente todos conhecemos“, refere, quando questionado sobre o tema.

Os acionistas que entraram na Media Capital vindos de fora do setor, prossegue, “foram surpreendidos por muitas dessas diferenças e, portanto, obviamente que fizeram o esforço de as corrigir tão rapidamente como possível, tendo aprendido nos últimos três anos que fazer a concertação” de todas as vontades “é complicado, demora tempo e às vezes exige umas posições de fundo com um bocadinho mais de força”, refere.

Para Pedro Morais Leitão, uma oportunidade de melhoria de longo prazo tem a ver com “medir as audiências que agora estão nos telemóveis, nos ‘tablets'”. Ou seja, “85% do tráfego dos nossos ‘sites’ está em telemóvel neste momento”, refere, apontando que esta é uma tendência que se tem vindo a assistir. “Acho que temos que arranjar uma maneira de medir”, adianta, apontado que é uma oportunidade de longo prazo porque não há ainda “nenhuma solução imediata” para ser aplicada neste âmbito.

Media Capital disponível a estudar plataforma de ‘streaming’ liderada por RTP

O presidente executivo (CEO) da Media Capital admite, em entrevista à Lusa, estar disponível para estudar a proposta da RTP se esta quiser liderar uma plataforma de ‘streaming‘, desde que a Plural produza “de forma relevante” para a mesma.

“A Plural, obviamente, tem interesse em trabalhar para todas as plataformas de ‘streaming‘. Portanto, se a pergunta for [se] gostaríamos que a Plural participasse, contribuísse para uma plataforma de ‘streaming nacional, a resposta é sim”, afirma Pedro Morais Leitão, que cumpre um ano na liderança executiva da Media Capital em julho.

Em 09 de maio, durante o congresso da APDC, o presidente da RTP, Nicolau Santos, disse que se a estação pública, a SIC e a TVI estivessem juntos a produzir conteúdos para o ‘streaming’ teriam outra capacidade, ao que o CEO da Impresa, Francisco Pedro Balsemão, respondeu: “A Opto está disponível para falar convosco”.

Portanto, “se a RTP quiser liderar uma plataforma de ‘streaming’, estamos dispostos a estudar na condição de que a Plural vá produzir de forma relevante para essa plataforma”, diz Pedro Morais Leitão, que insiste na importância do telemóvel no negócio das televisões.

“Talvez mais importante do que isso, um esforço mais importante e que me parece mais produtivo” é o que diz respeito ao móvel, acrescenta, admitindo que é “mais fácil falar de ‘streaming‘” porque a Netflix está presente na casa dos consumidores de conteúdos televisivos.

A inovação “de que eu estou a falar sobre o móvel não nos entrou em casa por nenhuma plataforma internacional, mas é por isso mesmo que tem mais viabilidade. O negócio móvel, onde neste momento está o maior tempo de atenção dos nossos espetadores, é um negócio ainda local”, aponta o CEO da dona da TVI e da CNN Portugal.

“O telemóvel é o maior meio de comunicação social e continua a ser legislado, continua a ser tratado, do ponto de vista de negócio, continua a ser visto por nós próprios – que usamos diariamente – como uma plataforma de telecomunicações”.

Isto porque não se entra no negócio do móvel a partir de Nova Iorque ou Pequim, sendo que “a atividade é regulada e é gerida por plataformas locais”. Referindo-se à “dita luta entre o global e o local”, Pedro Morais Leitão considera que “guerra neste momento em Portugal está no telemóvel”.

O país foi pioneiro “em muitas coisas” e as operações de telecomunicações “migraram muito rapidamente para televisão paga, portanto, aquilo que há 30 anos era totalmente rentabilizado através da voz fixa, hoje em dia é rentabilizado pela Internet, o acesso à Internet e pela televisão paga”, argumenta o gestor.

Mas, agora, “a voz fixa desapareceu e a voz móvel também – diria – só não desapareceu porque ainda há pessoas que não gostam de usar as aplicações para falar”, prossegue.

Há 20 anos que a voz, do ponto de vista tecnológico, já devia estar a ser feita como se fosse apenas um negócio de acesso à Internet, como se fosse uma plataforma sobre a Internet”, aponta.

O ‘streaming‘ é “muito interessante” e tem valor, mas “queremos considerar seriamente o contexto em que estamos, a evolução que tivemos recentemente, falemos seriamente sobre a utilização de conteúdos no móvel”, desafia Pedro Morais Leitão.

Atualmente, “o telemóvel é o maior meio de comunicação social e continua a ser legislado, continua a ser tratado, do ponto de vista de negócio, continua a ser visto por nós próprios – que usamos diariamente – como uma plataforma de telecomunicações”, considera.

Em Portugal, diz, “há três plataformas físicas [operadores] e duas plataformas virtuais”, uma relação de “um para um”, enquanto a nível europeu “há 100 plataformas físicas, 600 virtuais”, ou seja, “um para seis”, portanto, “devia haver 16” plataformas virtuais.

O modelo de negócio das telecomunicações “foi transferido para a televisão paga e, portanto, de repente, tivemos três gigantes de infraestrutura a entrar-nos pela porta adentro no setor da televisão ao longo dos últimos 20 anos”, constata.

Depois, “com o beneplácito de toda a gente (…) do lado do setor dos media, pela natureza precária do setor, dissemos que sim senhor, ainda bem que vem dinheiro das infraestruturas aqui para dentro, mas agora de repente eles estão cá dentro e (…) são grandes”, salienta Pedro Morais Leitão.

O telemóvel é o meio de comunicação social em si e, portanto, gostávamos que nos ouvissem, gostava que também aí, tal como na televisão digital terrestre [TDT], que alguém nos ouvisse e parece que vamos fazendo o ‘business as usual’, a continuidade do dia-a-dia, e isso mais tarde paga-se“, avisa.

Estas “alterações estruturais” envolvem a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), a Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom), os ministérios da Cultura e das Infraestruturas.

Isto são tantas peças envolvidas, depois temos os operadores por outro lado, depois tudo isto está dividido em setores e de repente temos 20 capelinhas que têm que se alinhar para haver uma mudança que já aconteceu”, comentou. Mas tal como no caso da TDT, “são processos que demoram muito tempo“.

Por isso, “é preciso também começarmos a criar a sensibilidade do regulador que há aqui coisas a passarem-se que afetam o negócio e que há oportunidades que se não são um bocadinho consentidas, mesmo que não encaixem exatamente no figurino da lei, (daqui) a 20 anos vamos novamente estar a pagar”, avisa o gestor.

“Repito, estamos em 2023, temos um problema na televisão terrestre”, o qual começou a ser discutido em 1999, há 25 anos, exemplifica o CEO.

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