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Governo do Canadá suspende publicidade no Facebook e Instagram

Rafael Ascensão,

A decisão - que envolve um investimento anual de 7,5 milhões de dólares - surge depois de a Meta e a Google terem bloqueado as notícias canadenses em resposta a uma lei aprovada pelo governo canadiano

O governo do Canadá anunciou que vai suspender todo a sua publicidade no Facebook e Instagram.

A decisão – que envolve um investimento publicitário anual de 7,5 milhões de dólares (cerca de 6,9 milhões de euros) – surge depois de a Meta e a Google terem bloqueado as notícias canadenses em resposta à lei aprovada pelo governo que requer que as plataformas tecnológicas compensem os meios de comunicação pelos seus conteúdos partilhados nas plataformas.

“Nós decidimos tomar a decisão necessária de suspender toda a publicidade do Governo do Canadá no Facebook”, referiu num tweet o ministro canadiano Pablo Rodriguez, acrescentando que “não podemos continuar a pagar por anúncios no Meta enquanto eles se recusam a pagar a sua justa quota parte aos meios de comunicação canadenses“.

A projeto de lei Online News Act, aprovado no último mês, está em fase de finalização. O objetivo passa por estabelecer regras de forma a fazer com que as plataformas tecnológicas – como a Meta ou a Google – negoceiem acordos comerciais e repartam dividendos com os meios de comunicação canadianos pelos seus conteúdos.

De acordo com o projeto de lei, a Google e a Meta arrecadam atualmente 80% de toda a receita de publicidade digital no Canadá, “dinheiro que costumava ser investido nos meios de comunicação do país, que davam notícias locais e regionais”, referiu Pablo Rodriguez noutra publicação no Twitter.

O governo do país da América do Norte mostra-se confiante de que ainda sejam possíveis negociações – conforme também referiu o ministro Rodriguez, ao afirmar que “acreditamos que existe um caminho e estamos dispostos a continuar a falar com estas plataformas”.

No entanto, Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá, não demonstra sinais de recuo. Numa entrevista esta quarta-feira, Trudeau referiu que “isto não é apenas uma disputa pela publicidade, é uma disputa pela democracia“, acrescentando que “vai ao núcleo de uma sociedade livre e informada, capaz de tomar decisões responsáveis numa democracia”, conforme é citado pela MediaPost.

O objetivo do governo passa por equilibrar a divisão das receitas provenientes da publicidade no meio digital, que foram sendo gradualmente absorvidas pelas plataformas em detrimento dos jornais e publicações produtoras dos conteúdos.

Embora ainda não tenha comentado os desenvolvimentos recentes, a Meta já havia dito que as notícias no Canadá representam muito pouco valor económico para a empresa e que acredita que os meios de comunicação no país beneficiam da publicidade que recebem no Facebook e Instagram, refere a MediaPost.

O mesmo meio de comunicação adianta ainda que o Quebecor e a Cogeco Communications, duas das principais organizações de comunicação social, já anunciaram que também vão suspender a publicidade nas plataformas da Meta.

Desde 2008, fecharam mais de 450 meios de comunicação nos Canadá, 64 dos quais nos últimos dois anos, segundo a Reuters.

Também na Austrália já aconteceu uma situação similar, com a aprovação da The News Media Bargaining Code durante uma semana, por parte do governo australiano, lei desenhada para que as grandes plataformas tecnológicas presentes no país fossem obrigadas a pagar aos meios de comunicação locais pelos seus conteúdos. Esta ação levou a que a Meta banisse por completo das suas plataformas os meios de comunicação australianos, de forma a não ter de pagar pelos conteúdos. O boicote durou uma semana.

A Meta forçou assim uma renegociação dos termos da lei. Mais tarde, já com as negociações fechadas, o governo australiano considerou a lei um sucesso, apontando os cerca de 30 acordos comercias estabelecidos entre a Google e a Meta e os media australianos. Hoje são distribuídos anualmente cerca de 200 milhões de dólares (perto de 125 milhões de euros) pelos meios de comunicação locais.

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