Exclusivo IAPMEI tem milhões em atraso nos apoios às empresas
Na origem do problema está “o elevado volume de projetos em análise nesta fase final do atual período de programação", explica o presidente do Compete, a entidade que emite as ordens de pagamento.
O IAPMEI tem em atraso dezenas de pedidos de reembolso de apoios europeus, há vários meses, que ascendem a vários milhões de euros. A situação está a penalizar a tesouraria das empresas, mas o Governo promete uma “resolução tão breve quanto possível”.
Miguel é gerente de uma empresa que tem um projeto com financiamento do Portugal 2020. O seu investimento foi encerrado em agosto de 2020, mas teve de esperar três anos para que o IAPMEI efetuasse o encerramento do projeto. No entanto, depois de ter sido dada autorização para o pagamento da última tranche de incentivo, foi confrontado com o facto de o IAPMEI não ter verbas para efetuar os reembolsos.
Contactada a instituição, o gestor foi informado de que não existe “qualquer previsão de disponibilidade de verbas por parte do IAPMEI de forma a retomar os pagamentos às empresas”. O responsável desabafa que a situação, “de extrema gravidade”, “penaliza a sua tesouraria”, e estranha o facto de estas verbas não estarem “cativas para os projetos aprovados e, portanto, à disposição dos respetivos promotores dos projetos de investimento”.
Este não é caso único. O ECO teve conhecimento de várias empresas em situações semelhantes, desde PME a grandes empresas, passando pelas associações, que, por sua vez, pagam incentivos às empresas associadas.
A Associação Empresarial da Região de Leiria (Nerlei), por exemplo, está à espera há vários meses de 1,3 milhões de euros em reembolsos do IAPMEI. “Há duas semanas tivemos a indicação de que a situação estava resolvida, mas não está”, conta ao ECO Henrique Carvalho. “Este atraso causa-nos grandes problemas, porque não podemos transferir as verbas devidas às empresas nossas associadas”, explica o secretário-geral da Nerlei.
Na génese do problema está “o elevado volume de projetos que estão em análise nesta fase final do atual período de programação, o que exige um esforço significativo das equipas” do Compete, explica Nuno Mangas. Ou seja, o Portugal 2020 tem de ser encerrado este ano, já foram lançados os primeiros concursos do PT2030 e, até 2026, está a decorrer o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que tem 4,15 mil milhões de euros para as empresas, cujos projetos também passam pelo IAPMEI.
Mas o que tem o Compete a ver com os atrasos nos pagamentos do IAPMEI? A transferência de verbas para o IAPMEI é feita pela Agência para a Coesão & Desenvolvimento (AD&C), que assume o “papel de entidade pagadora na rede de sistemas de incentivos”. “O Compete coordena a rede de sistemas de incentivos e é quem emite as ordens de pagamento. A AD&C transfere depois as verbas para o IAPMEI”, explicou ao ECO fonte oficial da AD&C.
“A demora verificada no pagamento a algumas empresas está identificada e está relacionada com o elevado volume de projetos que estão em análise nesta fase final do atual período de programação”, explica ao ECO Nuno Mangas. “É ainda importante destacar que estes pagamentos estão a ser realizados com as verbas de reembolsos, o que acrescentou um componente adicional à complexidade do processo”, detalhou.
O Ministério da Economia garante que os atrasos verificados não são diferentes dos verificados em quadros anteriores e que os esforços das autoridades nacionais estão focados em evitar a devolução de verbas a Bruxelas. “Com o aproximar do encerramento do Portugal 2020, e na exata medida do que sucedeu nos programas comunitários que o antecederam, o foco recai em antecipar quebras futuras dos valores aprovados, garantindo assim a plena absorção das verbas comunitárias“, justificou ao ECO fonte oficial da Horta Seca.
“Este mecanismo implica um circuito de transferências de verbas dos organismos intermédios dos sistemas de incentivos para a AD&C, e desta para os organismos intermédios e/ou para os beneficiários finais, verificando-se alguns constrangimentos pontuais de tesouraria“, acrescenta a mesma fonte. “Todavia, no presente mês já se verificou uma intensificação do regular fluxo financeiro dos reembolsos e subsequentes pagamentos, que será reforçado nos próximos meses”, garante o gabinete de António Costa Silva.
Os atrasos não são de hoje. Há empresas que já concluíram os seus projetos no âmbito do PT2020 há dois anos e que só agora estão a ser auditadas para posteriormente poderem encerrar o projeto. “As auditorias físicas demoram, depois há pedidos de esclarecimento das faturas e isso cria atrasos e estrangulamentos de tesouraria”, contou ao ECO um beneficiário.
Nos inquéritos de conjuntura da AEP, já em outubro, a quase totalidade das empresas considerava “imperioso reduzir a burocracia” em matéria de fundos europeus. No inquérito de janeiro, quando questionados sobre os outros fatores ou riscos que consideram relevantes para a evolução da atividade empresarial em 2023, os empresários, além dos problemas conjunturais (inflação, taxas de juro, evolução dos mercados), continuaram “a destacar uma forte preocupação quanto aos ‘velhos’ constrangimentos como a carga fiscal demasiado elevada, insuficientes apoios ao investimento e atrasos nos fundos estruturais (PRR, PT 2030)”.
“Compreendemos o impacto que este atraso pode ter nas empresas e estamos comprometidos na resolução tão breve quanto possível”, diz Nuno Mangas. “Continuaremos a trabalhar de perto com todas as partes envolvidas para assegurar que as empresas recebam os pagamentos devidos de forma mais rápida e eficiente”, acrescenta o responsável máximo do Compete 2030.
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