Perceção da JMJ foi mais negativa junto da esquerda e mais positiva entre entidades oficiais, organizações e jovens
O sentimento foi mais positivo após a realização da JMJ. A retirada do cartaz em Algés, que denunciava abusos sexuais na Igreja, levou a um sentimento mais negativo durante o evento.
A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) registou diferentes perceções na população portuguesa, dependendo das comunidades. Enquanto o impacto foi negativo junto da comunidade política de esquerda, a perceção foi positiva junto de entidades oficiais e organizações, trendjackers (páginas de humor que retrataram as situações mais caricatas que aconteceram durante a JMJ) e jovens.
Esta é uma das conclusões do estudo “Jornadas Mundiais da Juventude: Análise da Perceção Social”, da LLYC, que utilizou técnicas de inteligência artificial, NLP (natural language processing) e SNA (social network analysis), para analisar o debate e a conversação social sobre o evento durante oito meses, processando mais de 450 mil impactos geolocalizados, (330 mil tweets e 118 mil notícias), entre 1 de janeiro e 17 de agosto de 2023.
Segundo o estudo, “a comunidade política de esquerda, ao longo do tempo, registou um decréscimo do número de tweets associados a um sentimento positivo e um aumento de tweets associados a um sentimento negativo, passando de 26,71% (entre janeiro e julho) para 43,02% (entre 7 e 17 de agosto).
Ao longo do ano, as denúncias de abusos sexuais na Igreja, a limpeza da Avenida Almirante Reis ou o cartaz alusivo aos abusos retirado em Algés, foram os principais temas abordados pela comunidade política de esquerda.
Por outro lado, os perfis com maior tendência para conversa positiva encontram-se junto das entidades oficiais e organizações, trendjackers e jovens. Estes grupos destacaram temas como testemunhos de participantes, a preparação dos espaços para o evento, agradecimentos às entidades organizadoras e outras equipas de trabalho, anúncios das entidades organizadoras e do Governo, nomeadamente limitações de circulação e tolerância de ponto, ou a união demonstrada pelos jovens durante o evento.
O sentimento sobre a organização do evento foi mais positivo após a realização do mesmo, para o que contribuíram os agradecimentos das entidades. Por outro lado, a retirada do cartaz em Algés com as denúncias dos abusos sexuais na Igreja Católica levou a que as críticas à Igreja tivessem um sentimento mais negativo nos dias em que decorreu o evento.
De uma forma geral, os temas relacionados com o investimento, retorno financeiro, circulação e transportes e crítica à Igreja foram mais preponderantes em território nacional, tendo reunido mais 25% de perfis em Portugal do que na conversa global.
No total, estes temas representaram 33% do volume de menções em Portugal, junto de um universo de cerca de 50% de utilizadores portugueses. A nível nacional, o investimento e as críticas à Igreja são também dois dos temas que agrupam mais interações, apresentando médias de 13,1 e 11,9 interações por perfil, respetivamente.
Por outro lado, a partilha de vivências e testemunhos é mais frequente na conversa global do que em Portugal, sendo que cerca de 24% do volume de menções analisadas a nível global correspondem à partilha de testemunhos dos participantes nas jornadas. Em Portugal esta taxa foi de apenas 12%.
O facto de 69% dos tweets e notícias sobre a JMJ terem sido escritos nas línguas portuguesa e espanhola, “reflete a relevância do evento para os participantes de vários países da América Latina, da Península Ibérica e de outras partes do mundo”, refere-se no estudo.
O número total de mensagens (somando-se as publicações no X e as notícias) na língua espanhola (37,3%) superou mesmo o peso das mensagens em português (32%). Seguiram-se a língua inglesa (17,2%), francesa (7%) e italiana (3,4%).
No entanto, analisando em separado, a maior parte das notícias foram escritas em português (44,7%). Neste campo a língua inglesa (21,9%) superou mesmo a espanhola (18%). Por outro lado, analisando apenas as publicações no Twitter, o espanhol ultrapassa em larga medida (44,2%) a língua portuguesa 27,5%).
Entre os utilizadores portugueses do X (ex-Twitter), foram os locais onde decorreu o evento – Parque Tejo, Parque Eduardo VII, Praça do Comércio, Jardim Vasco da Gama e Alameda – aqueles que suscitaram o maior interesse entre os utilizadores do X (média de 7,7 tweets por conta), destacando-se a polémica sobre a atribuição do nome do cardeal patriarca à ponte sobre o rio Trancão. Segue-se a partilha de testemunhos e vivências dos participantes das jornadas (7,6 tweets) e a segurança (7,5 tweets).
Outro tema que também suscitou bastante discussão foi o da segurança, que registou uma média de 7,5 tweets por conta.
Já o menor número de mensagens por perfil aconteceu em torno do tema do retorno financeiro expectável da JMJ (2 tweets/conta), do investimento (3.8 tweets/conta) e das críticas feitas à igreja (3 tweets/conta), pelo que se conclui que a conversa em torno destes territórios se apresentou de uma forma mais dispersa (distribuída por mais perfis), segundo o estudo.
Entre todos os temas debatidos no X sobre a JMJ em Portugal, registou-se uma média 5,4 tweets por perfil.
O pico da conversa sobre os principais temas decorreu em julho (34% do volume de tweets analisados em Portugal), seguido pelo mês de agosto (29%).
Enquanto janeiro foi dominado pelo tema do investimento na JMJ (mês em que foram anunciados os custos de construção do altar-palco) – cobrindo 3,53% do total da conversa analisada – entre março e junho, o tema da organização foi o que assumiu maior destaque.
Já em julho verificou-se um crescimento “acentuado” em todos os temas, enquanto na transição para agosto registou-se uma queda de volume da conversa entre todos os temas, à exceção das críticas à igreja (que tiveram mesmo um aumento de 0,47 pontos percentuais face ao mês anterior) e das mensagens do Papa e da JMJ (que aumentaram 2,78 pontos percentuais durante os dias do evento).
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.