CEO da Global Media nega ligação do milionário brasileiro Daniel Dantas ao fundo que controla o grupo
Garcia Pereira afirmou que o fundador do WOF é Daniel Dantas. "Esse é mais um dos muitos disparates que, às vezes por ignorância, outras por clara má-fé, tenho lido ou ouvido", atira o CEO do grupo.
José Paulo Fafe, CEO do Global Media Group, nega que exista alguma ligação entre o empresário brasileiro Daniel Dantas e o World Opportunity Fund (WOF), instrumento que controla o grupo dono do Jornal de Notícias, TSF e Diário de Notícias.
Questionado pelo +M/ECO sobre se o WOF tem, diretamente ou indiretamente, alguma relação com o Daniel Dantas e o Opportunity, empresa de gestão de ativos fundada em 1994 pelo empresário brasileiro Daniel Dantas, Verónica Dantas e Dório Ferman, o CEO da Global Media responde que “esse é mais um dos muitos disparates que, às vezes por ignorância, outras por clara má-fé, tenho lido ou ouvido sobre o World Opportunity Fund e o Global Media Group”.
A informação foi avançada num artigo de opinião escrito esta sexta-feira pelo advogado Garcia Pereira e publicada no site Notícias Online.
No artigo, Garcia Pereira escreve que “o World Opportunity Fund – cujo fundador é o empresário, banqueiro e milionário brasileiro Daniel Dantas – tem, por seu turno, um historial de suspeitas de envolvimento em operações e ligações perigosas, tendo mesmo sido objeto de várias investigações criminais acerca de esquemas de corrupção e de lavagem de dinheiro ou branqueamento de capitais“.
“Já agora, tenho alguma curiosidade de saber se ao escrever esse disparate, o dr. Garcia Pereira o faz enquanto destacado causídico na área laboral, ou enquanto mandatário de alguns membros daquilo que eu costumo chamar de ‘casta’ do Global Media, leia-se, dos funcionários mais bem remunerados, nomeadamente dos Srs. Domingos Andrade, Pedro Cruz, Bruno Mateus ou António Santos, que o escolheram como advogado”, atira José Paulo Fafe. O jornalista Pedro Cruz, entretanto, declarou ao ECO que Garcia Pereira não é nem nunca foi seu advogado.
A ERC, recorde-se, está a tentar esclarecer dúvidas relativas à propriedade e responsabilidade pelo controlo da Global Media. No dia 29 de dezembro, a entidade reguladora escrevia que pediu ao grupo informação adicional sobre o “cumprimento das obrigações de transparência da titularidade, de modo a esclarecer dúvidas relativas à propriedade e responsabilidade pelo controlo deste grupo de média”, em linha com o que transmitiu na Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto da Assembleia da República, no passado dia 21 de dezembro.
“A ERC não hesitará em tomar novas diligências se subsistirem dúvidas relativamente à titularidade do capital do fundo [que detém a Global Media]”, garantia a recém presidente do Conselho Regulador da ERC, Helena Sousa, no dia 21 de dezembro na comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, por requerimento do PCP e do BE, sobre a situação na Global Media Group.
No final de julho, o fundo de investimento World Opportunity Fund, com sede nas Bahamas, um chamado “paraíso fiscal”, passou a deter 51% do capital social da Páginas Civilizadas, a qual controla, diretamente e indiretamente, 50,25% da Global Media e 22,35% da agência de notícias Lusa. Helena Sousa adiantou no Parlamento que pediu informações adicionais ao procurador daquele fundo, para clarificar o nome e a respetiva percentagem de participação dos detentores de unidades no fundo.
“Em resposta, o procurador do fundo declarou, e cito: ‘as percentagens detidas pelos investidores do WOF encontram-se dispersas e não conferem qualquer direito de voto ou de designar ou remover órgãos de administração do WOF’”, explicou a presidente da ERC, acrescentando que o regulador não está ainda esclarecido relativamente a esta matéria e aguarda mais informações. Na informação disponibilizada no Portal da Transparência, o fundo identificou como órgãos de administração a sociedade UCAP Bahamas Ltd e o francês Clement Ducasse.
Contactada no final desta semana pelo +M, a ERC remeteu a resposta para o comunicado enviado no dia 29, dizendo não pretender prestar declarações adicionais sobre o Grupo Global Media. “Oportunamente o Conselho Regulador adotará uma decisão”, respondeu na sexta-feira, quando questionada sobre se já tinha recebido a informação adicional pedida.
José Paulo Fafe, por seu turno, diz que “respondemos aos pedidos feitos mais uma vez pela ERC“, acrescentando que pediram à entidade reguladora mais uns dias para entregar o regulamento do fundo, um dos documentos solicitados. A resposta da Global Media terá sido dada nesta última semana, “dentro do prazo, que terminava no dia 4“.
De acordo com o artigo 14º da Lei da Transparência, a ERC tem poderes para, em caso de incumprimento de deveres de transparência, para “suspender o exercício do direito de voto e dos direitos de natureza patrimonial inerentes à participação qualificada em causa“.
A origem do fundo lançará alguma luz sobre a questão. O milionário brasileiro Daniel Dantas, que em 2017 entrou pela primeira vez no Bloomberg Billionaires Index, e que de acordo com a Bloomberg tinha um património estimado em 1,8 mil milhões de dólares, é também conhecido pelas polémicas e escândalos de corrupção e investigações como Satiagraha e Chacal, das quais acabou por ser absolvido.
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