“Se não lutarmos juntos morremos sozinhos”, diz diretor do Expresso
João Vieira Pereira, diretor do Expresso, defendeu que os meios de comunicação social precisam de se sentar e fazer uma "autorregulação", pois sem isso "não vamos chegar longe".
“Se não lutarmos juntos morremos sozinhos”, defendeu João Vieira Pereira, diretor do Expresso, no quinto Congresso dos Jornalistas, a decorrer até domingo. Os meios de comunicação social precisam de se sentar e fazer uma “autorregulação”, pois sem isso “não vamos chegar longe”.
No painel “Financiamento do jornalismo de imprensa e online“, o diretor do semanário do grupo Impresa alertou para o que classifica de “roubo indiscriminado de conteúdos”. “Passamos a vida a roubar conteúdos uns aos outros”, atirou, considerando que existe uma grande incapacidade dos media de se juntar e estabelecer um conjunto de linhas comuns.
A pirataria (partilha ilegal de edições inteiras de notícias ou jornais), aliada ao facto de se ler pouco em Portugal e de o mercado ser pequeno, ajuda também a explicar parte da crise da comunicação social, apontou, reforçando a necessidade de um compromisso entre os diferentes meios, para em conjunto resolver os problemas.
O diretor do Expresso defendeu ainda que a única forma de se conseguir financiamento público passa pelo apoio à criação de emprego — como através da redução da TSU — referindo que isso ajudaria à criação de postos de trabalho e a combater a precariedade dos jornalistas. É uma medida de apoio que “não entra em competição com quem vende mais ou tem mais audiência”, mas que é antes um apoio dado a quem cria mais emprego, argumenta João Vieira Pereira.
Lusa gratuita não colhe unanimidade
Luísa Meireles, diretora da Lusa, lamentou que tenha falhado o negócio da compra da agência pelo Estado por recuo do PSD. “Faltou um entendimento de regime, estava tudo pronto e houve um recuo da parte do PSD, lamento profundamente”, disse. O negócio implicava que o serviço da Lusa passaria a ser gratuito, o que seria importante para poupar dinheiro aos órgãos jornalísticos e lhes permitir investir mais em jornalismo próprio, defendeu a diretora de informação da agência noticiosa.
“Deve haver aqui um cocktail de medidas, mas o fornecimento da Lusa é básico”, disse, avançando mais tarde uma taxa sobre as operadoras — tendo em conta que os telemóveis são o meio mais utilizado para consumo de informação — como outra medida possível de financiamento dos media.
A ideia de um serviço Lusa gratuito para todos os media nacionais não foi aceite de forma unânime.
Miguel Pinheiro mostrou-se contra a ideia de uma Lusa gratuita para todos os meios de comunicação. Isso iria matar os “jornais mais frágeis”, pois estes iriam apoiar-se na produção da Lusa para conteúdos e não nos seus jornalistas, justifica o diretor executivo do Observador.
A imprensa local é importante para fazer escrutínio local e não para publicar as notícias sobre outros sítios dadas pela Lusa. “Como salvamos o jornalismo se todos os jornais dão a mesma notícia? À pluralidade do jornalismo não vai ajudar de certeza”, argumentou ainda.
David Pontes, diretor do Público, também se mostrou avesso à ideia. Isso faria com que “qualquer chafarrica que tenha registo na ERC possa ter acesso aos conteúdos da Lusa”, atirou. Mas não só. Se já é vivenciado o problema de as pessoas acharem que podem ter acesso gratuito à informação, a oferta de conteúdos da Lusa ainda iria agravar essa situação, além de trazer problemas no que concerne à pluralidade de informação, argumentou.
Embora concedendo que “pode e deve haver apoios públicos pois o momento é grave”, David Pontes defende que se deve deixar a escolha nas mãos dos cidadãos.
Carlos Rodrigues apontou alguns daqueles que considera serem erros dos decisores jornalísticos. Em primeiro lugar, o jornalismo tem sido vítima de autossuficiência temática, em que todos seguem a mesma agenda, referiu o diretor-geral editorial da Medialivre (ex-Cofina), apontando ainda uma “alienação do relacionamento com os públicos” e de uma “secundarização dos desafios tecnológicos”.
Rodrigues disse também que se devia analisar a possibilidade de a RTP ser financiada unicamente pelo Orçamento de Estado, pois dessa forma ir-se-ia ganhar transparência e permitira libertar uma “quantidade enorme de recursos” para o resto dos meios, algo que seria “mais estrutural” do que outras hipóteses avançadas de financiamento.
O diretor-geral editorial da Medialivre deixou ainda um alerta quanto aos eventuais apoios estatais: “Se houver a suspeita que é o Estado que passa a financiar o jornalismo, nós damos mais um passo em direção ao abismo. Muito cuidado com todos os apoios que possam ser confundidos”, afirmou, tendo ainda defendido que este não é o momento para debater “apoios públicos” por estar a decorrer uma campanha eleitoral.
Já Inês Cardoso, diretora do Jornal de Notícias, defendeu a taxação sobre as plataformas tecnológicas — incluindo as plataformas de inteligência artificial — sendo algo que deve mais ser feito “rapidamente” mas mais ao nível da União Europeia.
Incentivos à leitura, à literacia mediática, medidas fiscais ou medidas de coesão — tendo em conta que Portugal tem “tantas assimetrias a começar desde logo pela distribuição” e estão a ser eliminadas rotas de distribuição por ser muito caro chegar a alguns sítios — são, no entender de Inês Cardoso, outras medidas indiretas que fazem sentido. Mas não só. Apoios à contratação e outros apoios específicos para correspondentes, importantes por “grande parte do país ser um deserto noticioso“, elenca ainda a diretora do JN.
Apoios do Estado?
Dar lucro é “importante” até porque “se queremos ser livres, independentes e autónomos, devemos conseguir sustentar-nos a nós próprios sem estar dependentes de ninguém”, lembrou Miguel Pinheiro. Embora, admitindo apoios do Estado “o mais cego possíveis” pela “situação em que estamos”, com uma ressalva: “Não podemos estar dependentes de apoios como esses.”
O diretor executivo do Observador evidenciou a importância crescente dos podcasts para as receitas dos media — “não dão um dinheiro extraordinário”, mas “tudo indica” que venham a dar mais dinheiro — e das newsletters, que agora geram receita que antes não havia.
É preciso procurar chegar ao sítio onde as pessoas estão, sendo isso aquilo que “inevitavelmente” vai gerar dinheiro. O jornalista do Observador disse ainda não se saber se este é um momento particular de crise do setor que vai ser ultrapassado ou se é uma crise mais profunda. “O ponto que temos de ter na cabeça” é que é preciso conseguir fazer dinheiro para sobreviver.
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