Media

Mário Ferreira acusa as operadoras de “intransigência e até uma certa prepotência” em relação às televisões

Fátima Castro,

Mário Ferreira assegura que há um desequilíbrio entre quem produz a informação e quem a distribui. Acusa ainda a RTP de concorrência desleal na transmissão dos jogos de futebol.

António Costa diretor do ECO), Mário Ferreira (presidente do conselho de administração do Grupo Media Capital) e Marcelo Nico (diretor-geral da Tabaqueira)Ricardo Castelo / ECO

Mário Ferreira defende que as televisões “pagam uma taxa muito elevada” e “injusta” pela distribuição do seu sinal — que já nem sequer tem utilidade, porque é a distribuição por antena e o consumo é feito na quase totalidade via box — e diz também que os media “contribuem para grande parte dos lucros gordos” das empresas de telecomunicação. “As televisões estão amarradas porque têm muita pouca capacidade negocial com os operadores”, afirma, acrescentando que “quem está a ganhar são eles”.

Apesar do resultado líquido de 9,26 milhões de euros, um aumento de cerca de nove milhões face aos 319 mil euros de lucro registados em 2023, o dono da TVI realça que “em relação à televisão, em particular, estamos a falar de uma margem miserável de 2,5%. Com margens destas, nenhum grupo de media vai conseguir sobreviver”, atira o presidente do conselho de administração da Media Capital, dona da TVI e também da Plural, na conferência “O Futuro da Comunicação Social”, organizada pelo ECO, que decorreu esta sexta-feira na Câmara Municipal do Porto.

“Do outro lado temos intransigência e até uma certa prepotência por parte desses grandes operadores [Meo, Nos e Vodafone], que acham que controlam a distribuição e que podem obrigar-nos a dar umas míseras migalhas por uma quantidade de produtos que custam imenso dinheiro a produzir”, aponta, ressalvando que a RTP é uma exceção, porque “esse produto já está pago por todos nós”.

Estamos amarrados porque temos muita pouca capacidade negocial com os operadores.

Mário Ferreira

Presidente do conselho de administração do Grupo Media Capital

Mário Ferreira garante que os “lucros não estão a ser distribuídos na proporção correta perante os produtores desses conteúdos, mas como as leis, neste momento, ajudam a proteger esses distribuidores, eles têm a faca e o queijo na mão e continuam-nos a pagar miseravelmente”, reforça.

Em relação ao desequilíbrio entre quem produz a informação e quem a distribui, Pedro Duarte, ministro com a tutela da comunicação social, assumiu “que pode fazer sentido uma reavaliação da situação atual, mas tem que partir em primeiro lugar dos players que estão no mercado”.

No entanto, Pedro Duarte salvaguarda que “a distribuição da televisão em Portugal, é baseada numa relação contratual, portanto, não é propriamente uma lei –– há um contrato entre operadores e os diferentes produtores de conteúdos”, disse o governante à margem da conferência “O Futuro da Comunicação Social”.

Em julho do ano passado, recorde-se, a Media Capital, dona da TVI e da CNN Portugal, tentou comprar a Nowo, que acabou por ser comprada um mês depois pela Digi por 150 milhões de euros. Mário Ferreira explicou que esta tentativa foi para o grupo teralguma independência de distribuição”, perante esta “pseudo guerra com as operadoras”.

Presidente da TVI acusa RTP de concorrência desleal na transmissão de jogos

Em relação ao futebol, com os jogos da seleção portuguesa a serem transmitidos na RTP, Mário Ferreira considera “injusto” que uma televisão subsidiada pelo Estado “esteja a concorrer contra duas outras televisões chamadas free-to-air, que na realidade já não são um free-to-air“, uma vez que o consumo é via box.

“Com o dinheiro de todos os contribuintes, a RTP pode pagar fortunas pelos jogos e deixar-nos de fora“, lamenta o dono da TVI, que o ano passado comprou os direitos televisivos dos jogos do Moreirense.

“É uma concorrência desleal para com os outros canais que também precisam de futebol”, afirma o presidente do conselho de administração do Grupo Media Capital, exemplifica que “nos jogos da taça a RTP está disposta a oferecer muito mais que o grupo (que detém a TVI e a CNN), porque o dinheiro não lhes custa a ganhar”.

Em relação à transmissão dos jogos do campeonato nacional assegura “que ao preço a que estão os jogos”, no caso da Media Capital “não conseguem cobrir sequer 50% do custo de cada jogo”. “A receita que obtemos em termos publicitários é sempre inferior a 50% daquilo que precisávamos”, diz Mário Ferreira, numa altura em que o Benfica está a negociar diretivos de transmissão televisivos para os jogos dos próximos dois anos no valor de cerca de 50 milhões de euros por ano.

Recorde-se que os canais em sinal aberto deixaram de transmitir os jogos da Liga dos Campeões (UEFA Champions League) em 2023. Os direitos de transmissão foram divididos entre dois canais por cabo – Sport TV e DAZN (Eleven).

“É fundamental o cidadão ter acesso à informação verídica”, reforça Marcelo Nico

Num painel onde se discutiu os desafios da comunicação social na visão das empresas, diretor geral da Tabaqueira defendeu a importância dos media perante uma era de desinformação. “É fundamental o cidadão ter acesso à informação verídica“, nota Marcelo Nico.

“Nós também apoiamos o jornalismo que tem esse escrutínio, que é profissional”, realça o gestor, acrescentando que quando se trata de “um produto que tem impacto na saúde, o consumidor tem a confiança nos meios de comunicação que façam um jornalismo profissional, que fazem investigação, que vai às fontes, que tem ética e códigos“. “Os grupos de media, os grupos de media formais, têm a capacidade de escrutínio, de investigar, de criar conteúdo no qual se pode confiar e contrapor, muitas vezes, à desinformação que está a viajar em muitas plataformas”, aponta Marcelo Nico.

O diretor-geral da Tabaqueira, empresa que pertence à Philip Morris International, defende ainda que “é fundamental o aceso à informação com base cientifica porque há muita desinformação”. Perante esta realidade, Marcelo Nico assegura que o grupo “investe nos meios de comunicação tradicionais porque têm a capacidade de escrutínio e podem contrapor-se à desinformação“.

“Esta é a forte vantagem dos media tradicionais, do jornalismo, da credibilidade”, resume.

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