Honda CR-V: Desafia o minimalismo do digital com imponência
Ensaio

Honda CR-V: Desafia o minimalismo do digital com imponência

Luís Leitão, Hugo Amaral,

A Honda reinventou o seu SUV mais icónico, dando-lhe mais tecnologia, numa combinação de tradição e modernidade. Será que mantém o DNA de conforto que o tornou famoso?

O Honda CR-V surgiu pela primeira vez há quase três décadas, em 1995, como um dos pioneiros no segmento dos SUV compactos. O nome “CR-V” é uma sigla para “Comfortable Runabout Vehicle”, um conceito que a marca japonesa tem honrado consistentemente em cada nova geração.

De um design simples com suspensões independentes e estrutura monobloco que o destacava dos seus concorrentes, baseados em chassis de pickups, o CR-V evoluiu para se tornar um dos veículos mais vendidos da Honda em todo o mundo. A transição para a atual sexta geração trouxe uma revolução silenciosa sob o capot, com a marca a abandonar as versões a diesel e a gasolina pura, em favor de uma abordagem elétrica nas modalidades híbridas e plug-in, como a versão que o ECO testou numa aventura familiar dentro e fora de estrada pela zona do Guincho.

O crescimento físico do veículo é notório nesta nova geração. O CR-V aumentou em comprimento e distância entre eixos, o que se traduz em ganhos significativos de habitabilidade interior e capacidade da bagageira, que agora oferece 617 litros. Esta evolução acompanha a tendência do mercado, onde o CR-V compete com rivais estabelecidos como o Toyota RAV4 e o Mercedes-Benz GLB.

O sistema e:PHEV do CR-V representa a aposta mais avançada da Honda em termos de eletrificação. Combina um motor 2.0 litros a gasolina (148 cv) com um motor elétrico (184 cv), resultando numa potência combinada bem generosa. A bateria de 17,7 kWh permite uma autonomia totalmente elétrica até 82 quilómetros, valor que nas nossas mãos se aproximou mais dos 40 quilómetros.

Em termos de desempenho, o CR-V não é propriamente um desportivo, com uma aceleração dos 0 aos 100 km/h em cerca de 9,4 segundos. No entanto, a entrega imediata de binário do motor elétrico (com aproximadamente 335 Nm) proporciona uma resposta pronta nas situações do dia-a-dia, como ultrapassagens ou arranques em subida.

 

Conforto e estabilidade, tanto dentro como fora de estrada

Nos percursos sinuosos da zona costeira do Guincho até Colares, o CR-V revelou-se extremamente competente. Uma das características mais distintivas — e possivelmente controversas — é a direção pesada, que poderá agradar a alguns e desanimar tantos outros. Mas é inabalável o facto de esta calibração oferecer uma sensação de segurança e precisão, especialmente em estradas mais irregulares ou trilhos de terra batida, embora possa ser considerada cansativa por alguns condutores em manobras urbanas.

O sistema de suspensão adaptativa, de série na versão Advance Tech testada, merece destaque. No modo “Normal”, absorve com eficácia as irregularidades do piso, enquanto o modo “Sport” endurece ligeiramente a suspensão para uma condução mais dinâmica. Durante o passeio familiar, o conforto foi sempre privilegiado, com o CR-V a filtrar exemplarmente as imperfeições do terreno.

Um aspeto menos positivo é o nível de ruído da transmissão quando o motor a combustão entra em ação sob forte aceleração. A caixa e-CVT de duas velocidades, embora contribua para a eficiência, pode criar uma sensação de esforço excessivo do motor, com o som de “zumbido” característico deste tipo de transmissão. Este comportamento é particularmente notório em subidas mais acentuadas ou quando se exige maior potência.

Um dos pontos mais refrescantes do CR-V é a sua abordagem pragmática ao design interior. Num momento em que a indústria automóvel caminha para o minimalismo extremo, com interfaces totalmente digitais, este Honda oferece uma miríade de botões físicos no tablier central. Esta opção facilita o acesso a funções frequentemente utilizadas sem a necessidade de navegar por menus durante a condução, uma decisão que privilegia a usabilidade em detrimento das tendências estéticas.

O Honda CR-V 2.0 PHEV representa uma evolução bem conseguida de um modelo icónico. Ao longo das suas seis gerações, o CR-V manteve-se fiel aos princípios de espaço, conforto e fiabilidade, adaptando-se agora aos novos tempos da eletrificação.

O espaço interior generoso é outro ponto forte incontestável, tornando o CR-V numa escolha ideal para famílias. As portas traseiras abrem num ângulo invulgarmente amplo, facilitando a entrada e saída ou a instalação de cadeiras para crianças. E a bagageira, com 617 litros na configuração normal, é particularmente generosa para um veículo híbrido plug-in, onde frequentemente o espaço é sacrificado para acomodar as baterias.

O acabamento interior combina materiais de qualidade, com revestimentos em pele e tecido que transmitem uma sensação de solidez. O teto panorâmico, de série na versão Advance Tech, inunda o habitáculo de luz natural, embora roube algum espaço em altura para os passageiros mais altos nos lugares traseiros.

Em termos de consumos, o CR-V PHEV surpreende pela positiva. Os valores oficiais WLTP apontam para consumos combinados de apenas 0,8 l/100km e emissões de CO2 de 18 g/km. Naturalmente que estes valores pressupõem carregamentos regulares da bateria e uma utilização predominantemente urbana.

O Honda CR-V 2.0 PHEV representa uma evolução bem conseguida de um modelo icónico. Ao longo das suas seis gerações, o CR-V manteve-se fiel aos princípios de espaço, conforto e fiabilidade, adaptando-se agora aos novos tempos da eletrificação. Com um preço de partida elevado – desde 62.750 euros – posiciona-se num segmento competitivo onde enfrenta tanto marcas premium como alternativas mais acessíveis.

Para o comprador familiar que valoriza o espaço, a qualidade de construção e a eficiência, o CR-V PHEV apresenta argumentos muito válidos. A combinação de uma autonomia elétrica respeitável para deslocações diárias com a versatilidade de um motor a combustão para viagens mais longas resulta num veículo polivalente, embora a ausência de tração integral na versão PHEV seja sentida em situações mais desafiantes.

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