Família Berlusconi avalia compra de 75% da Impreger
A Impreger é a holding da família Balsemão que serve para controlar todo o grupo de media, incluindo a SIC e o Expresso. Nestes termos, os italianos da MFE têm de lançar uma OPA geral sobre a Impresa.
A Impreger, holding da família Balsemão que controla 50,31% da Impresa SGPS, a dona da SIC e do Expresso, poderá ser o veículo de entrada dos italianos da MediaForEurope (MFE) no grupo. Esta sociedade, detida em mais de 71% pela Balsager, do patriarca da família, Francisco Pinto Balsemão, registou um prejuízo de mais de 33 milhões de euros em 2024, decorrente precisamente dos resultados negativos da holding que está cotada em bolsa. E, nesse caso, com a aquisição de uma posição de controlo.
Oficialmente, a Impresa limitou-se a confirmar em comunicado oficial a notícia do ECO, segundo a qual existem negociações entre a Impreger e o gigante italiano (com presença forte em Espanha e na Alemanha) FME. E admitiu que o acordo poderá passar pela “aquisição” de uma participação. Mas segundo uma fonte do ECO, o negócio poderá mesmo significar uma mudança de controlo acionista da Impresa, com a aquisição, por parte dos italianos, de 75% da referida Impreger. A família Balsemão passaria a acionista minoritária, mas isso, a confirmar-se, terá outra consequência: A obrigatoriedade de uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre a sociedade cotada, a Impresa SGPS, à luz dos artigos 186º e seguintes do Código de Valores Mobiliários.
A Impresa, refira-se, está cotada em bolsa e está avaliada, a valores de sexta-feira, em cerca de 21 milhões de euros e tem um acionista de referência, precisamente a Impreger, com uma posição ligeiramente superior a 50%. O free float (capital disperso em bolsa) é da ordem dos 30%, o BPI tem quase 4% do capital, enquanto a sociedade Newshold — de Álvaro Sobrinho — mantém cerca de 2,4% da Impresa. O Santander Asset Management (SGOIC), o Azvalor Asset Management (SGIIC) e o Norges Bank estão próximos dos 2%.
O que diz a lei sobre as OPA?
1. Mudança de controlo
Sempre que alguém adquire, direta ou indiretamente, o controlo de uma sociedade cotada em Portugal, é obrigado a lançar uma OPA geral e obrigatória.2. Critério objetivo
O controlo considera-se adquirido quando o investidor passa a deter mais de 50% dos direitos de voto ou exerce uma influência dominante (por via de participações ou acordos parassociais).3. Preço da oferta
O preço da OPA tem de ser pelo menos o mais elevado entre a média ponderada das cotações nos últimos 6 meses e o preço mais alto pago pelo investidor pelas ações da sociedade nos 6 meses anteriores.
A degradação financeira do grupo é transversal. A Impresa registou em 2024 perdas superiores a 66 milhões de euros, sobretudo por imparidades de goodwill, enquanto a SIC, tradicional garante dos dividendos, enfrenta uma forte pressão de receitas e custos, reduzindo a sua capacidade de sustentar a ‘casa-mãe’. O resultado é uma Impreger descapitalizada, com um único ativo de relevo — a participação na Impresa — cujo valor contabilístico caiu 40% num ano, de 75,5 milhões para 45,1 milhões de euros.
A entrada do grupo fundado por Berlusconi, empresário e político italiano que morreu em 2023, poderá significar o fim do controlo absoluto nacional sobre a Impresa, mas também a sua salvação financeira, como fica claro nesta notícia do ECO. Para a Impreger, a negociação representa mais do que um mero negócio: é uma questão de sobrevivência. Sem injeção de capital externo, a holding continuará a acumular prejuízos em proporção da sua participação sempre que a Impresa SGPS registe perdas, colocando em causa a sustentabilidade do próprio veículo de controlo.
As peças do puzzle
Impreger
- Holding da família Balsemão;
- Maior acionista da Impresa, com mais de 50% do capital;
- Capitais próprios: 41,2 milhões (71,5 milhões em 2023);
- Prejuízo: – 33,1 milhões, devido às perdas da Impresa.
Impresa SGPS
- Dona da SIC e do jornal Expresso, as ‘empresas-filha’;
- Resultado líquido: –66,2 milhões (consolidado),
- Prejuízo impulsionado por imparidades de goodwill.
SIC
- Lucro: 4,8 milhões de euros;
- EBITDA: 17,4 milhões de euros;
- Volume de negócios: 151 milhões de euros;
- Dividendos: 8,3 milhões de euros (quase o dobro do lucro do ano)
Ainda assim, este modelo de negócio através da Impreger, com ou sem mudança de controlo, com ou sem OPA, respetivamente, não resolve as necessidades de capitalização da chamada ‘empresa-mãe’, a Impresa SGPS, nem da ‘empresa-filha’, a SIC. E isso significa que o novo controlador terá de reforçar os capitais da Impresa SGPS.
Quais são as chamadas ‘red flags’ da Impreger (no final de 2024)?
Concentração extrema do Ativo numa única participada
- O ativo corrente é de cerca de 120 mil euros, o total é da ordem dos 75,6 milhões de euros. Ou seja, mais de 99% do balanço está fora de caixa e depende do valor contabilístico da Impresa (equivalência patrimonial). Qualquer choque na Impresa transfere-se de imediato para o património da Impreger.
Liquidez absoluta muito curta
- A ‘Caixa’ desce de 118,8 mil euros para 106,7 mil euros, valores limitados para qualquer necessidade extraordinária.
Passivo “invisível” sob a forma de impostos diferidos
- O ‘Passivo’ é quase integralmente decorrente de passivos por impostos diferidos (cerca de quatro milhões de euros). Num cenário de reversão, por exemplo alterações no valor das participações, aquele valor pode pressionar resultados e capitais próprios.
Ausência de dividendos e ‘cash-in’ das participadas
- A rubrica de dividendos em 2024 foi nula, um sinal de que a holding não teve qualquer ‘rendimento’ da Impresa/SIC. Sem uma entrada de caixa recorrente, a Impreger fica ainda mais presa ao valor contabilístico da Impresa.
Uma alternativa à compra de uma posição de controlo na Impreger poderá ser a aquisição direta da SIC, a ‘empresa-filha’ que anda há anos a alimentar a ‘empresa-mãe’, cotada, a Impresa SGPS. De acordo com duas fontes conhecedoras do processo, as relações financeiras e contabilísticas intragrupo tornam mais difícil este caminho, mas teria a vantagem de dispensar uma OPA obrigatória por parte do grupo MFE.
Finalmente, a terceira opção possível para a entrada da MFE no grupo de media da SIC e do Expresso é mesmo o lançamento de uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre a Impresa SGPS.
A leitura fina do comunicado da Impresa sobre as negociações exclusivas da Impreger, isto é, da família Balsemão, com o MFE sugerem a possibilidade de um quarto cenário, que pode resultar da soma de mais do que uma das alternativas. “Face às notícias divulgadas na comunicação social, a Impresa informa que lhe foi comunicado pelo seu acionista maioritário que este se encontra a desenvolver contactos, em exclusividade, com o grupo MFE com vista à avaliação de potenciais operações societárias para a aquisição de uma participação relevante na Impresa”, comunicou a empresa ao mercado.
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