Afinal quem manda?

  • Nuno Antunes
  • 9:47

Como alguém muito importante nas andanças do marketing uma vez disse e bem, “o cliente é o rei”. Vai daí, "Hey Trump, afinal quem manda, pá?”.

Muito se tem falado sobre o último encontro na Casa Branca entre Zelensky, o herói do mundo livre como muitos determinam, Trump y sus muchachos. Para simplificar, tivemos de um lado a dignidade do mais fraco contra a prepotência do mais forte, que ainda por cima jogava em casa, com toda aquela afición de jornalistas num excitado apoio. Aproveito para meter aqui duas buchas em castelhano porque parece que o Don Juan (aqui vai mais uma) não aprecia muito os vizinhos de baixo.

Parece-me evidente que o empresário tinha aquela cena teatral preparada. De alguma forma, até me fez lembrar os filmes com gladiadores que, nos tempos do império romano, tinham que lutar no circo uns contra os outros, mas sempre com um desproporcional desequilíbrio de forças. Mas nos filmes é uma coisa. Na vida real, em 2025, já custa a acreditar, quanto mais a aceitar.

Imediatamente, depois desta cena de humilhação pura, o feitiço virou-se contra o feiticeiro. Uma onda de comentários, de artigos, de publicações, de cartoons e de manifestações inundaram o espaço mediático no apoio ao presidente ucraniano e na crítica ao Gang das Gravatas. Foi impossível passar ao lado disto. O poder da palavra, sendo opiniões dos especialistas, posições dos políticos ou o que cada um de nós, comum dos mortais, discorreu, designadamente nas redes sociais, geraram bastante eco e poderão até surtir algum efeito.

A pergunta que se coloca é se, neste caso, isso será suficiente? Talvez não. Quem tem a faca e o queijo na mão, continua a tê-los. Poder, dinheiro, armas e por aí fora.

Mas, quem tem o utensílio e o laticínio na extremidade do membro superior, parece ser um homem de negócios em tudo o que faz. Veja-se a ideia que sacou relativamente ao aproveitamento da Faixa de Gaza. Não se trata, pois, de um político ou de um estadista, pelo menos se quisermos ter uma visão destes termos mais clássica, tradicional e comummente entendida.

Tudo tem um deve e um haver. Tudo tem uma tradução monetária. Tudo é um serviço prestado que tem um valor associado e, por isso, tem que ser pago. Por conseguinte, a “ajuda” americana é traduzida numa cifra que tem que ser ressarcida. Talvez por isso, Trump não foi à Ucrânia, como outros líderes mundiais já o fizeram. Talvez não valha a pena, até porque à hora que vos escrevo este texto já teve oportunidade de ordenar uma “pausa” na assistência militar dos EUA à Ucrânia que, é como quem diz, uma suspensão. Valha-nos Vance que já viu uns vídeos daquele país e Bessent, o Chief Financial Officer (em todas as outras administrações a função era designada de Secretário do Tesouro) que até deu um salto a Kiev com uma “proposta” de acordo económico. Para os distraídos, sublinho que proposta está entre aspas.

Chegados aqui, um parênteses. Este não é um artigo sobre política, até porque não sou comentador e é bem possível que hajam aqui ou ali lapsos, visões enviesadas e até imprecisões. Mas este arranque dá-me a possibilidade de falar do poder que cada um de nós tem, não só enquanto criador de conteúdos (qualquer pessoa ligada ao marketing conhece a expressão “User Generated Content”), mas também enquanto consumidor.

Quem tem vivido, mesmo que à distância, esta guerra nos últimos três anos e não concorda com a nova atitude dos EUA, pode fazer muito mais do que ficar desagradavelmente admirado, incrédulo ou zangado. Pode até colocar muitas fotografias a preto e branco de Zelensky com frases de apoio, pode até partilhar memes de Trump e pode até concordar e dar força ao apoio que muitos países estão a dar à Ucrânia.

Mas pode fazer mais. Pode jogar! O jogo chama-se “O Jogo das Compras” e tem quatro regras simples: a primeira é a de não comprar nenhuma marca americana; a segunda é fazer a compra desses produtos ou serviços noutras marcas originárias e que pagam impostos nos países que apoiam efetivamente a Ucrânia; a terceira é que também podem comprar aos chineses, arqui-inimigos de Trump; a última é que podem e devem comprar produtos ucranianos.

E é tão fácil que possibilidades não faltam. A mais óbvia são os automóveis elétricos. Evitem aquela marca que todos sabemos. Um amigo, ex-fiel defensor do Kekius Maximus, colocou há dias o seu à venda. Tem vergonha de conduzir um. Pois pudera. Os alemães, por exemplo, têm muitas alternativas e contribuem decisivamente para o esforço de guerra.

Ia agora comprar ténis de corrida de longa distância de uma reconhecida marca com sede em Boston, mas não. Por falar em alemães, têm excelentes marcas de desporto pelo que vou optar por aquela que tem três riscas.

Mas podemos ir mais longe, “à jugular”, como dizemos quando queremos ser mesmo mauzinhos e, assim, aplicamos a terceira regra. Falo agora de telemóveis. Até podíamos comprar os sul-coreanos, mas não. Vamos mesmo aos chineses, que ele tanto gosta. Juro que nunca pensei chegar aqui, mas guerra é guerra, não concordam.

Para terminar, porque já perceberam a ideia e porque é agora que o ex da Stormy Daniels se vai passar, mais do que aplicar a última regra, seria vesti-la. Comprem o “President Polo”, o pólo de cor verde-tropa, com três botões e com o escudo ucraniano bordado no peito, que o Volodymyr usa habitualmente. Podem comprar o Polo Shirt with embroidery “Ukrainian Trident” que custa 165 euros, mais caro que o world famous da marca do crocodilo ou, se quiserem ir um pouco mais além, têm o Long-Sleeve Polo Shirt with embroidery “Ukrainian Trident”. Uma pechincha, digo eu, se pudermos ajudar aqueles amigos que bem merecem. Visitem o website da Damirli e vejam como é que aquele ateliê tem desempenhado um papel importante na definição da imagem da guerra na Ucrânia.

Como alguém muito importante nas andanças do marketing uma vez disse e bem, “o cliente é o rei”. Vai daí, “Hey Trump, afinal quem manda, pá?”.

  • Nuno Antunes
  • business partner da Milford e professor ISCTE Executive Education

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