Tudo para setembro, menos o que é para ontem

  • Bárbara Bárcia
  • 29 Julho 2025

Julho é o mês onde nada se decide, mas tudo se despacha. Onde há pouco espaço para criar, mas imenso para cumprir. Onde se fecha, se arquiva, se responde, se empurra com energia de fim de época.

Julho é o mês da contradição criativa. Ninguém toma decisões importantes, mas toda a gente tem pressa. Tudo fica para setembro — exceto o que tem de ser entregue até amanhã. É o mês em que os emails vêm com aquele clássico “isto não é urgente, mas se conseguirem ainda esta semana era ótimo” e as reuniões começam com frases como “isto é só um toque rápido antes de irmos de férias”… e claro… nunca é rápido.

É também o mês de desencantar tudo o que ficou pendurado nos últimos seis meses. Pedidos que hibernaram durante o inverno criativo ganham agora urgência de última hora, com prazos impossíveis e uma energia de “vamos só fechar isto antes do break”.

Julho é o mês de “aviar serviço” — não tanto no sentido de criar com profundidade, mas no de resolver o que está em lista de espera há demasiado tempo. Tudo tem de sair, tudo tem de ficar pronto, tudo tem de ser enviado “antes de fechar”.

E depois, claro, há os trabalhos de casa para agosto. Os famosos “pensar com calma durante as férias”, “preparar já para setembro” ou “ir alinhando ideias” — como se estivéssemos todos a planear brainstorms entre mergulhos e a levar moodboards para a espreguiçadeira. A verdade é que o portátil vai na mala, os briefs vão em PDF e o sentimento de culpa criativa vai à boleia.

Julho é o mês onde nada se decide, mas tudo se despacha. Onde há pouco espaço para criar, mas imenso para cumprir. Onde se fecha, se arquiva, se responde, se empurra com energia de fim de época.

É o mês do “vamos deixar isto bonito e depois logo se vê”. E também o mês em que nos convencemos — mais uma vez — de que agosto vai ser tranquilo, criativo e inspirador.

E, claro, eu própria não sou exceção. Todos os anos digo que em julho vou gerir melhor o tempo, que vou dizer que não a certos pedidos, que vou deixar espaço para pensar — mas bastam três emails com “é só isto, rápido”, e lá estou eu a aviar mais uma campanha entre reuniões, enquanto organizo os “para agosto” numa pasta que, sejamos honestos, raramente será aberta antes de setembro. Mas pronto.

Também já aprendi a não prometer férias criativas. Só quero que não me liguem na primeira semana. A não ser que seja uma super campanha. Ou um desafio incrível. Nesse caso, liguem. Sempre. E a qualquer hora.

  • Bárbara Bárcia
  • CEO On Partners

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