A TAP voltou aos lucros o que já não acontecia desde 2007. Apesar dos números não estarem fechados, Pedrosa diz que estaremos a falar de dezenas de milhares de euros.
A TAP voltou aos lucros em 2016, o que não acontecia desde 2007. Apesar de os números relativos ao exercício não estarem ainda fechados Pedrosa garante que a empresa saiu do vermelho e imputa essa melhoria “à estabilidade da empresa e ao preço do petróleo”. O acionista da TAP diz que companhia pode voltar a operar as ligações diretas que fazia via Porto, mas não para já.
Havia a expectativa de que a TAP pudesse atingir lucros em 2016. Já nos consegue dar os números relativos a esse exercício?O ano de 2016 vai fechar positivo, o que já não acontecia desde 2007. Em 2015 registamos um prejuízo de 99 milhões de euros.
A que é que se deve isso?O preço do combustível ajudou um pouco e por outro lado também a estabilidade da empresa.
Por estabilidade está a falar de haver menos greves?Sim, claro qualquer greve na companhia tem efeitos bastante acentuados na receita porque os possíveis utentes encontram alternativas para viajar. Muitas vezes basta um anúncio a dizer que poderá haver uma greve daqui a uns dias, para que uma pessoa que quer viajar procure alternativas. Felizmente houve estabilidade neste período. No final do ano houve um anúncio de uma eventual greve da Groundforce que iria afetar os voos, mas penso que mesmo que se tivesse realizado não teria afetado muito porque o mês de dezembro foi muito bom.
Já tem ideia da ordem de grandezas dos lucros?Ainda não fechamos completamente, por isso ainda não posso dar um número concreto. Estamos a fechar, mas será com toda a certeza positivo.
Os principais mercados da TAP apresentavam algumas dificuldades, como Angola, Brasil isso quer dizer que o preço do combustível mais que compensou a quebra desses mercados?O Brasil caiu bastante durante um determinado período mas está a retomar, Angola na realidade também caiu bastante e aí será um pouco mais difícil a recuperação.
Ainda não conseguiram recuperar a dívida que Angola tem para com a transportadora?Temos vindo a receber a conta-gotas. A dívida hoje deve andar acima dos 60 milhões de euros.
No entretanto lançaram voos para os Estados Unidos. Essa aposta também compensou?A dívida [de Angola à TAP] hoje deve andar acima dos 60 milhões de euros.
Sim, os Estados Unidos têm estado a correr muito bem. Lançámos duas rotas, Boston e Nova Iorque, e está a correr muito bem. Os voos andam cheios.
Como está a empresa de manutenção do Brasil?Também melhorou bastante, está próximo do equilíbrio. Também teve a ajuda da descida do real o que deu origem à procura de mais manutenção.
Qual é o peso do petróleo nas vossas contas? Trabalham com um preço fixo para o petróleo?Fizemos em tempos. Neste momento não estamos a fazer. O petróleo estava bastante estável e baixo, entretanto subiu… o petróleo pode ter um efeito, comparando os preços atuais com os que estavam em 2015, de 80 milhões de euros nas contas da TAP.
De aumento de custos?Sim, de aumento de custos em 2017. Se mantiver o preço de hoje [o barril está a cotar em torno dos 55 dólares em Londres] pode haver um custo que andará muito perto de 80 milhões de euros.
O que pode levar a TAP de novo a prejuízos no próximo ano?Nas companhias aéreas a tarifa acompanha o combustível, ou seja, quando o combustível desce as companhias aéreas baixam preços, quando o combustível começa a subir as tarifas sobem.
O que significa que vamos ter bilhetes de avião mais caros em 2017?Sim, mas não serão muito mais caros. Há uma diferença… os combustíveis estão com uma subida de 15%, é claro que tem que haver o efeito na tarifa, provavelmente não será, uma subida da mesma percentagem, mas será uma subida da tarifa que não será muito significativa. As tarifas estão muito baixas, hoje viajar para a Europa varia entre os 40 e os cento e tal euros, por isso se tivermos a falar de um aumento de 10% estamos a falar de um aumento de quatro a cinco euros, o que não é significativo. Não é por isso que os passageiros vão deixar de viajar. Os combustíveis vão descendo as companhias áreas têm tendência para baixar as tarifas, se os combustíveis sobem as companhias aéreas vão acompanhando o aumento da tarifa para compensar o combustível.
Mas continua sem ter necessidade de proteger face a preços muito elevados?A proteção é boa, se calhar devíamos ter protegido quando o petróleo estava mais baixo. Mas já perdemos, há anos em que perdemos dinheiro há outros anos que não perdemos. Agora na realidade o que existe é uma estabilidade. No transporte rodoviário temos protegido, sabemos que o preço do combustível é este.
Mas se calhar torna-se mais difícil quando os preços estão baixos, competir com as empresas low cost?A TAP já teve proteção no combustível quando estava muito mais alto, entretanto o combustível baixou imenso e aí estávamos a perder dinheiro. Tínhamos que manter a tarifa para estar equilibrado, mas como as companhias baixaram as tarifas nós tivemos que acompanhar a descida da tarifa e aí acabamos por perder.
Então a concorrência faz com que acompanhem o mercado e não haja essa proteção?Sim, eu acho que no fundo é um risco. Gostava de fazer cobertura na área dos transportes dos passageiros porque sabemos que aquele custo é fixo. E trabalhamos sobre esse valor. Mas, como digo, pode perder-se ou ganhar-se, ou deixar de ganhar. Mas há uma diferença entre as companhias áreas e o transporte rodoviário: nós temos a tarifa fixada para o ano. A tarifa é válida por um ano, enquanto que nas companhias de aviação a tarifa é dinâmica.
Falou nos voos baratos para a Europa, a TAP também tem uma tarifa low cost, têm conseguido reconquistar alguns clientes no mercado europeu?Sim, os voos estão cheios. Acho que sim, pelo menos temos combatido. A TAP não é uma companhia ‘low cost’, mas estamos a preparar a TAP para também ter uma tarifa’ low cost’ numa parte do avião. Vamos ter três classes dentro do mesmo avião. É uma boa política. Vamos ter uma parte de capacidade do avião para uma tarifa mais baixa e depois vamos ter uma económica, e uma executiva. Já temos aliás alguns aviões a operar nestas condições e, vamos ter mais dentro em breve. As coisas estão a correr bem. Não sei se foi isso que nos trouxe mais passageiros, mas o que é verdade é que também o destino Portugal, quer Lisboa, quer Porto, a procura tem crescido imenso e por isso não é só a TAP que anda cheia, os voos em época alta andam todos cheios.
A TAP equaciona criar uma sub-marca para as low cost?Não, de momento, não estamos a pensar.
Nos voos de longo curso também começa a haver a lógica low cost. É exequível numa empresa como a TAP?Uma empresa como a TAP não pode enveredar por esse caminho. A TAP tem um bom nome no mercado, tem uma boa qualidade de serviço a defender e o espaço da TAP está acima das low cost: segurança, qualidade de serviço, simpatia é aí que está a TAP. Na realidade temos que ter tarifas — claro que não podemos ter tarifas iguais às das low cost — mas temos que ter tarifas que também não sejam muito caras. O que estamos a fazer é a encontrar um caminho em que a TAP consiga ser rentável e tenha capacidade de fazer investimentos, mas para isso temos que ter receitas, tudo dentro de um padrão de qualidade. No fundo o cliente paga um pouco mais para viajar na TAP e é isso que está a acontecer. A TAP tem os voos completamente cheios com tarifas acima da concorrência.
Como é que está a correr a ponte aérea Lisboa-Porto?Está a correr bem.
E é rentável?A rota Porto-Lisboa tem duas componentes. Tem uma componente de transporte das pessoas que querem ir e vir a Lisboa e ao Porto no mesmo dia, e depois tem a componente de ligações para voos internacionais e ai é significativa.
Mas já é rentável?Se considerarmos só a receita do Porto-Lisboa e do Lisboa-Porto pode não ser rentável, mas nós estamos a dar uma oferta muito maior do que aquela que existia porque com a ponte aérea há muitos mais passageiros que precisam de viajar para o Brasil ou para a Europa.
Mas o Porto perdeu ligações diretas para a Europa.Sim, na realidade houve um corte de rotas no Porto.
Mas não eram rentáveis as rotas que a TAP abandonou?Não eram rentáveis porque tínhamos a concorrência da Ryanair com tarifas muito baixas e, nessa altura, tínhamos aviões velhos e com consumos altos, portanto a TAP não conseguia rentabilizar essas rotas. Mas futuramente podemos voltar a retomar esse tipo de rotas.
Mas retomar as que cancelaram?Não eram rentáveis[as rotas que a TAP abandonou a partir do Porto], porque tínhamos a concorrência da Ryanair com tarifas muito baixas e, nessa altura tínhamos aviões velhos e com consumos altos e portanto a TAP não conseguia rentabilizar essas rotas. Mas futuramente podemos voltar a retomar esse tipo de rotas.
Retomar algumas, provavelmente, porque neste momento quer a TAP quer a Portugália começam a ter aviões mais rentáveis.
Ainda este ano?Não, ainda não temos capacidade para isso, mas já estamos a equipar a companhia com um tipo de avião que é mais económico, tem mais lugares e aí já dá para enfrentar essa realidade. Também é verdade que com a nossa saída os concorrentes apanharam o nosso lugar, vamos ver, mas neste momento as pessoas do Porto estão mais bem servidas do que antes, apesar de não terem o voo direto. Têm mais alternativas do que tinham. Penso que o Porto também ficou a ganhar porque a ponte aérea é positiva para Lisboa e para o Porto. Mas é verdade que se perderam os voos diretos.
Reconquistar esse mercado do Porto não vai ser fácil.Sim, a reconquista não vai ser fácil. Mas estamos a equipar a companhia com voos mais económicos o que nos dá essa facilidade de poder reconquistar outra vez algum mercado.
Quando é que a TAP recebe mais aviões? Houve agora um atraso...Sim vamos agora começar a receber aviões a partir de 2017. Vamos receber uns Embraer, e mais dois A330 e a partir de 2018 começamos a receber os aviões novos.
Relativamente ao turismo, já disse que o turismo ajudou a TAP a chegar aos resultados positivos em 2016. Como é que vê o turismo para 2017?Acho que Portugal está na moda, principalmente a cidade de Lisboa e a cidade do Porto e acredito na continuação do crescimento. Repare que Lisboa vai ter mais não sei quantos hotéis, este ano, e o movimento no aeroporto está a crescer de ano para ano. E estamos a falar de um crescimento a dois dígitos.
Ainda não se esgotou a moda?De maneira nenhuma. As pessoas que visitam tanto Lisboa como o Porto, gostam e alguns vão voltar.
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Uma década depois, TAP “vai dar lucros”
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