Ministério da Cultura trabalha para permitir aumentos de 74 euros na Lusa
Os sindicatos da Lusa disseram que, depois da greve de quatro dias, os trabalhadores da agência "não baixam os braços" e vão debater novas formas de luta.
O ministro da Cultura disse esta quarta-feira, no parlamento, que está a trabalhar com as Finanças para um aumento da indemnização compensatória à Lusa que permita aumentos salariais de 74 euros, valor já recusado pelos trabalhadores, que exigem 100 euros.
“Temos estado a trabalhar para a revisão da indemnização compensatória para acomodar um aumento que permita atingir outro valor, é essa a proposta em cima da mesa, aumento de 74 euros de salário bruto para todos os trabalhadores“, afirmou Pedro Adão e Silva, em audição da Comissão parlamentar de Cultura e Comunicação.
Segundo o governante, o aumento de 74 euros é “significativamente melhor” do que o valor inicial proposto pela administração da Lusa, de 35 euros, que disse que era então o acomodável na indemnização compensatória em vigor este ano (13,5 milhões de euros em 2023).
Por isso, acrescentou, é que está a ser estudada uma maior transferência do Estado para a Lusa, para que seja possível um aumento de 74 euros, recusando que uma hipótese seja permitir à agência de notícias ter prejuízos no final do ano.
O ministro da Cultura disse ainda que os aumentos salariais têm em conta a subida da massa salarial de 5,1% este ano que o Governo permite no setor empresarial do Estado, e não os 6,3% de aumento da massa salarial já aceites para a função pública e que esse tema poderá posteriormente ser discutido.
Já depois de a administração da Lusa ter proposto 74 euros de aumentos salariais, os trabalhadores cumpriram quatro dias de greve em 30 e 31 de março e 01 e 02 de abril em reivindicação dos 100 euros. A paralisação teve uma adesão acima de 90% e ‘fechou’ a linha noticiosa da Lusa.
Questionado sobre as críticas dos representantes dos trabalhadores ao seu papel neste dossiê, Adão e Silva afirmou que discorda da afirmação de que as reuniões com a Comissão de Trabalhadores e com os sindicatos foram infrutíferas.
“Se a proposta era 35 euros e passa para 74 euros e pelo meio há reuniões com Comissão de Trabalhadores e sindicatos tenho dificuldade em dizer que as reuniões não serviram para nada”, afirmou.
Sobre a indemnização compensatória da Lusa ser ainda hoje inferior à que existia antes da ‘troika’, Adão e Silva não respondeu diretamente, afirmando, em contrapartida, que essa indemnização era em 2013 de 10,7 milhões de euros e no ano atual é de 13,5 milhões de euros.
O governante disse ainda que, apesar de a agência Lusa estar no setor empresarial do Estado (o Estado tem mais de 50% da Lusa), esta também tem de estar em linha com o setor em que opera e que os salários na agência são, em média, superiores aos do setor. Além disso, afirmou, os trabalhadores da Lusa têm outros benefícios como 25 dias de férias e seguro de saúde.
“O Estado deve dar o exemplo, mas neste momento a proposta que está em cima da mesa [74 euros] é melhor do que aquela que conhecemos para grupos de comunicação social privados. A remuneração dos trabalhadores da Lusa quando comparada com as do setor é melhor, não estou a dizer que é bom, gostava imenso de aumentar mais os salários em todas as empresas e entidades que tutelo, mas há um equilíbrio a alcançar entre aumentos e sustentabilidade da empresa”, afirmou.
Esta terça-feira, em comunicado, os sindicatos representativos dos trabalhadores da Lusa disseram que, depois da greve de quatro dias, os trabalhadores da agência “não baixam os braços” e na próxima semana haverá um plenário para debater novas formas de luta para que sejam cumpridos os 100 euros de aumentos salariais reivindicados, que dizem ser equivalente a menos de 10 euros por cada um dos 12 anos sem aumentos.
Os sindicatos SJ, SITESE e SITE recordaram ainda que, na semana passada, a Federação dos Sindicatos da Administração Pública (Fesap) anunciou que afinal o aumento da massa salarial na função pública passará de 5,1% para 6,6% em 2023 (em vez dos 6,3% anteriormente falados) e que o Governo lhe assegurou que haverá um “ajustamento” também para o setor empresarial do Estado.
“Tendo isto em conta, a Lusa deverá ficar com mais margem para cumprir o aumento de apenas 100 euros reivindicado pelos trabalhadores, para fazer face a 12 anos sem aumentos”, referem os sindicatos, que consideram que a “Lusa tem de ser um farol” na valorização salarial, pois “não há jornalismo de qualidade e de referência com trabalhadores maltratados, com baixos salários e em precariedade”.
A Lusa tem cerca de 250 trabalhadores efetivos, aos quais acrescem cerca de 90 jornalistas avençados e à peça.
O Estado é o principal acionista da Lusa, detendo 50,15% do capital da empresa, e, ao abrigo do contrato de serviço público, transfere para a agência cerca de 13,5 milhões de euros por ano.
Os segundos maiores acionistas da Lusa são o grupo Global Media e Páginas Civilizadas, ambas do empresário Marco Galinha, que assim detém um total 45,71%.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.