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Trabalhadores da dona da Visão param de trabalhar dia 6 de junho caso salários não sejam pagos

Rafael Ascensão, Lusa,

Se os montantes em atraso não forem pagos até 6 de junho, os trabalhadores reservam-se no direito de não continuarem a trabalhar, convocarem um grave e avançar para a rescisão do contrato.

Os trabalhadores da Trust in News (TiN), dona da Visão e outros títulos, deixarão de trabalhar no dia 6 de junho, caso até lá não recebam o salário e subsídio de refeição de maio e os 20% que ainda não auferiram referentes ao mês de abril, decidiram esta sexta-feira, em plenário.

Se os restantes 20% do salário de abril, o salário de maio e o subsídio de refeição não forem pagos até sexta-feira, 6 de junho, os trabalhadores da Trust in News reservam para si o direito de tomarem a decisão que entenderem para não continuarem a trabalhar, nomeadamente a de convocarem uma greve e/ou iniciarem o procedimento formal com vista à suspensão ou rescisão, com justa causa, dos contratos de trabalho”, lê-se na resolução aprovada por 49 dos 53 trabalhadores presentes no plenário.

Na nota a que o +M teve acesso, os trabalhadores da Trust in News manifestam “a sua indignação por apenas terem recebido 80% do salário de abril, em três prestações, encontrando-se os restantes 20% ainda por pagar, assim como o salário de maio e o subsídio de refeição que se vencem hoje [esta sexta-feira], último dia do mês”.

Alvo de repúdio por parte dos trabalhadores da TiN é também a ameaça de despedimento coletivo de até 20 trabalhadores “numa empresa que, no último ano e meio, reduziu em 50% a sua força de trabalho, de forma aleatória, sem qualquer estratégia da parte da gestão, e passou a funcionar com equipas totalmente depauperadas, apoiando-se na produtividade de pessoas que trabalham muito mais horas do que seria razoável”.

“Menos pessoas produzirão menos publicações, e menos publicações irão gerar menos receita, pondo assim em causa a recuperação da empresa”, apontam os trabalhadores.

Com salários em atraso, impostos por liquidar e prestações da dívida ao Estado a terem de ser pagas já a partir do final do mês de junho, os trabalhadores duvidam da existência de condições para viabilizar o plano de recuperação da empresa sem que, antes, se verifique a injeção de capital que o sócio único, Luís Delgado, por diversas ocasiões, e desde há vários meses, se comprometeu a fazer na tesouraria da empresa“, acrescenta-se.

Já em fevereiro os trabalhadores da dona da Visão também ameaçaram parar de trabalhar caso não recebessem os vencimentos em atraso. A paralisação acabou por ficar sem efeito, depois de os trabalhadores terem recebido o ordenado no dia limite.

Recorde-se que o plano de insolvência da TiN) foi aprovado no início desta semana, com 77% dos credores a votar favoravelmente e 23% contra. “Na assembleia para discussão e votação da proposta do plano de insolvência, foram atribuídos votos no total de 32.227.923,51 euros”, lê-se no despacho, que adianta que “excluindo as abstenções, votaram credores cujos votos totalizam o montante de 28.843.105,90 euros”. Destes credores, “77% votou favoravelmente e 23% votou contra”.

À Lusa, o administrador da TiN, Luís Delgado, afirmou na altura que “a maioria substancial dos credores acreditou” no plano de insolvência da dona da Visão que “isso foi um grande passo”. A maioria “dos credores aprovou o regresso da gerência anterior com supervisão do administrador de insolvência”, acrescentou Luís Delgado, num comentário ao despacho.

O plano da TiN, que detém publicações como a Visão e a Exame, prevê a injeção de até 1,5 milhões de euros pelo acionista único, Luís Delgado. Segundo o documento, a que a Lusa teve acesso, a TiN propõe aos credores um “compromisso de aporte de até 1,5 milhões de euros, faseadamente, e em função das necessidades da empresa para reforçar a tesouraria”, por parte do acionista único.

O plano mantém ainda a intenção de suspender, licenciar ou vender publicações deficitárias como TV Mais, Telenovelas, Caras Decoração, Prima, Visão Saúde, Visão Surf e This is Portugal, sendo que, “com exceção da Telenovelas, todas as outras publicações já estão suspensas”. Prevê ainda um ajuste na periodicidade, se necessário, de algumas revistas, mantendo apenas as mais rentáveis, além da redução de 70% do espaço físico (50% já foi reduzido) e o encerramento da delegação no Porto.

Será ainda reduzido “o quadro de funcionários, proporcional à suspensão de publicações, com reestruturação interna”. Quanto ao pagamento das dívidas proposto, será faseado, no caso da AT e ISS em 150 prestações, além de um “plano de pagamento de 12 a 15 anos para credores comuns e garantidos” e da “possibilidade de permuta de publicidade para pagamento de parte das dívidas”.

Para aumentar receitas, o plano prevê o “aumento de assinaturas digitais e melhoria da plataforma de e-commerce, parcerias estratégicas com outros grupos editoriais”, a “exploração de novos formatos de conteúdo, como podcasts e vídeos”, e o “licenciamento de marcas para gerar receita adicional”.

Quanto ao impacto desta reestruturação, a empresa aponta uma “melhoria gradual da rentabilidade, com um retorno a resultados positivos esperado a médio prazo”, evitando a liquidação da empresa e “preservando postos de trabalho e ativos”. Ficará, segundo o plano, ajustado “o modelo de negócio para um formato mais sustentável, alinhado às tendências digitais”, garantindo ainda o “pagamento aos credores, comparativamente a um cenário de liquidação, onde muitos não receberiam os seus créditos”.

O plano prevê também a “criação imediata de uma task force com dois diretores editoriais, diretora comercial, diretora financeira e diretor de recursos humanos, com a tarefa de reanalisar todos os custos e contratos passíveis de serem renegociados ou cessados, sem qualquer penalização para a empresa, e apresentar medidas e sugestões para aumentar as receitas, tendo em conta os recursos existentes” e os melhores exemplos nacionais e internacionais. As sugestões deste órgão “serão implementadas após aprovação da gerência e do administrador da insolvência”.

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