A fantasia da realidade
Mesmo treinados a ser sobreviventes, seres críticos que filtram o real da fantasia, como será que absorvemos as realidades das fake news ou generative AI, fruto da imaginação e fantasia de terceiros?
Nascemos e observamos. Em bom princípio, observamos tudo com os nossos cinco sentidos. Observamos e testamos. Choramos, e empiricamente começamos a entender que surtimos um efeito, percebemos que espoletamos uma reação, que se torna uma arma, uma ferramenta de sobrevivência.
À medida que vamos vivendo, aprendemos as consequências das nossas ações, conhecemos o que nos rodeia, o Mundo e a nós próprios, pelas experiências acumuladas e memórias, daquilo que vimos, amámos e odiámos. E da mesma forma que, desde a nascença e através dos cinco sentidos, vamos discernindo o quente do frio e o bem do mal, tornamo-nos, com o tempo, seres críticos.
Quanto mais experienciarmos, mais ‘’rodagem’’ traremos ao nosso cérebro. E se desconfiamos que nem tudo cabe na nossa memória, é porque ela se encarrega de ser seletiva e de ir afunilando aquilo que interessa, descartando o que eventualmente estará a mais. É nesse treino do cérebro que se alicerça e se define a base para aquela que é a nossa imaginação, os fundamentos da nossa fantasia.
Se na experiência, aprendemos a delinear os contornos por onde nos regemos e aprendemos a definir as linhas que podemos ou não pisar, na imaginação, definimos onde queremos eventualmente quebrar as regras.
A imaginação é alimentada pela nossa experiência, pela nossa vivência. É por isso que, ao vermos um filme como o Harry Potter, ou uma série como o Game of Thrones, com contextos surrealistas, desconhecidos à nossa experiência, os compreendemos. Porque há toda uma associação entre os elementos reconhecíveis pelo nosso cérebro, como a construção narrativa ou valores, mas que, conjugados com a nossa imaginação e até fantasia, nos trazem novas combinações de elementos da nossa memória juntamente com novos conceitos.
Surgem então imagens novas, surpreendentes, que nos aguçam cada vez mais a imaginação e nos proporcionam diferentes realidades possíveis capazes de alimentar o nosso cérebro.
Lemos milhares de notícias, conteúdos, que nos influenciam sobre o nosso próximo passo. Somos donos e senhores das nossas escolhas e das nossas ações. Sabemos e aceitamos que somos permeáveis a todos estes fatores externos e, por isso, filtramos aquilo que queremos ou não queremos ver, ler, ouvir e sentir.
Somos todos criativos em potência. Que sensação de Liberdade! Que admirável Mundo Novo! Um Mundo em que a criatividade se treina num loop em que a experiência também se amplia por acumular toda uma fantasia que interiorizámos, próxima de realidades novas que entendemos e aceitamos, apesar de nunca as termos vivido.
Aceitar as realidades novas. Aqui reside a principal questão. Mesmo treinados a ser sobreviventes, seres críticos que filtram o real da fantasia, como será que absorvemos as realidades das fake news ou generative AI, fruto da imaginação e fantasia de terceiros que ousam quebrar as regras, e a própria ética? Como aprendemos a lidar com elas se a nossa filtragem crítica e as nossas experiências não forem suficientes para evitarmos enganar o nosso cérebro?
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