Natural Born Killers (mas nem tanto)
Ser um executivo implacável é uma escolha, mas também um destino. Já trabalhei com alguns assim. Ser um executivo humano é uma arte, mas também uma luta difícil, só que menos solitária.
Ser um executivo de marketing é como ser um assassino profissional?
Essa é a ideia que me veio à mente depois de assistir ao filme “The Killer” do David Fincher, um thriller de ação que conta a história de um matador de aluguer sem nome que vive num mundo sem bússola moral.
O filme mostra como o protagonista, interpretado por Michael Fassbender, executa seus trabalhos com precisão e frieza, sem se importar com os sentimentos dos outros. Ele é um especialista no que faz, mas também um solitário. Ele segue as ordens dos seus empregadores, sem questionar ou se envolver. Ele é um profissional, mas também um fantasma.
Ele, o assassino, está sempre a dizer para si mesmo e para nós, as mesmas frases, como que para explicar/justificar atos injustificáveis: “Antecipe. Não improvise. Mantenha-se ao plano. Não confie em ninguém. Nunca ceda uma vantagem. Lute apenas a batalha que lhe pagam para lutar. Não é pessoal. Nada é pessoal. Não sou um monstro. Sou um profissional”.
Não digo todas (e não necessariamente nessa ordem), mas boa parte das frases caberia na boca de quem lidera empresas. Até por isso, é fácil traçar um paralelo entre esse personagem e os executivos (de marketing ou não) das grandes corporações, que muitas vezes são vistos como líderes implacáveis, que tomam decisões difíceis, que cortam custos, que enfrentam a concorrência, que buscam o lucro para os acionistas, que assumem riscos, que lidam com a pressão, que vivem em constante movimento, que negociam com fornecedores, que se adaptam às mudanças, que inovam, que criam, que destroem.
Ser um executivo é uma profissão que exige um alto nível de profissionalismo e frieza, mas também tem seus benefícios e desafios. Por um lado, pode ser gratificante, pois permite que se tenha autonomia, poder, influência, reconhecimento, prestígio, sucesso, dinheiro, fama, glória. Por outro lado, pode ser desgastante, pois implica que se tenha responsabilidade, cobrança, stress, conflito, solidão, culpa, medo, paranoia, angústia.
O filme “The Killer” mostra como o protagonista entra em colapso quando falha um alvo em Paris, e passa a ser perseguido pelos seus empregadores e por si mesmo, numa caçada que ele insiste que não é pessoal. No seu caminho, encontra uma especialista em armas (Tilda Swinton), um advogado corrupto (Charles Parnell), um cliente misterioso (Arliss Howard) e uma mulher que ele ama (Sophie Charlotte). O filme é uma jornada de confrontos, de revelação, de escolhas, de sacrifício, de morte.
Ser um executivo implacável é uma escolha, mas também um destino. Já trabalhei com alguns assim. Posso dizer que não me deixaram grandes saudades. Já ser um executivo humano, no bom sentido, é uma arte, mas também uma luta difícil, só que menos solitária.
E quem executa marketing com um toque de leveza e uma perceção mais aguda sobre o que é a vida, sobre o que é das pessoas e para as pessoas pode sempre dizer, na ordem inversa a do personagem de Fassbender: “Eu sou um profissional. Não sou um monstro”.
Ou como diria o meu Tio Olavo, a citar um velho provérbio húngaro: “Há mil maneiras de se matar um gato, mas só uma dá prazer ao gato”.
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