Portugueses na Arábia Saudita ainda não receberam salários
Há 80 trabalhadores portugueses da construtora Saudi Oger que não recebem qualquer salário há mais de um ano. O caso já se tornou num assunto diplomático, mas ainda não foi resolvido.
O governo da Arábia Saudita comprometeu-se, em outubro, a pagar os salários em atraso há mais de um ano aos 80 portugueses que trabalham na construtora Saudi Oger. Passados dois meses, os salários ainda não foram pagos, adianta ao ECO um dos trabalhadores.
O caso da Saudi Oger arrasta-se desde o final do ano passado, altura em que, com as receitas a caírem drasticamente devido à desvalorização do petróleo, o Estado saudita começou a cancelar encomendas às construtoras do país. Foi o caso da Saudi Oger, que emprega cerca 24 mil trabalhadores (entre os quais os 80 portugueses) mas que, desde então, tem estado com as obras paradas.
As dívidas foram-se acumulando e, eventualmente, a empresa deixou de pagar salários. O grande problema é o modelo de trabalho vigente na Arábia Saudita: os trabalhadores estrangeiros ficam a cargo das entidades que os empregam (no caso, a Saudi Oger). São elas que tratam dos alojamentos — geralmente, apartamentos partilhados em campos de trabalho –, das autorizações de residência e dos vistos de saída. Sem dinheiro, a empresa deixou de pagar as autorizações de residência e os vistos de saída, pelo que muitos trabalhadores não conseguem sequer sair do país.
"Não vemos qualquer luz ao fim do túnel, nem sequer informações sobre quando o pagamento será efetuado.”
O caso tornou-se, entretanto, em assunto diplomático, e levou as autoridades portuguesas a intervirem. A 5 de outubro, o secretário de Estado das Comunidades visitou a Arábia Saudita, onde se encontrou com o ministro do Trabalho. O secretário de Estado encontrou-se, de seguida, com alguns dos trabalhadores portugueses, para lhes transmitir a posição do governo saudita.
Segundo relata um destes trabalhadores ao ECO, o Ministério do Trabalho saudita assegurava, por esta altura, que “o pagamento dos salários até 31 de julho estava garantido” e que os salários “seriam pagos assim que os trabalhadores apresentassem as quantias devidas pela Saudi Oger, devidamente certificadas por esta”, detalha um destes trabalhadores, que pede para manter o anonimato. Essas condições, acrescenta esse trabalhador, foram comunicadas ao embaixador português em Riade e, a 27 de outubro, toda a documentação solicitada foi entregue e aceite pelo Ministério do Trabalho saudita.
"Os que aqui permanecem e não puderam sair do país pelas mais diversas razões, incluindo falta de dinheiro ou impossibilidade legal de sair, estão desesperados.”
Passaram-se dois meses e os trabalhadores ainda não viram os salários em atraso. “Não vemos qualquer luz ao fim do túnel, nem sequer informações sobre quando o pagamento será efetuado. Muitos dos colegas, em total desespero, querem fazer algumas ações de protesto, que são totalmente proibidas neste país e que podem ter graves consequências, incluindo prisão e deportação”, refere a mesma fonte.
Alguns dos portugueses que estavam na Arábia Saudita já conseguiram regressar a Portugal. Neste momento, cerca de 40 portugueses ainda estão no país. “Os que aqui permanecem e não puderam sair do país pelas mais diversas razões, incluindo falta de dinheiro ou impossibilidade legal de sair, estão desesperados, depois de mais de um ano sem receber um único salário”.
O ECO questionou o Ministério dos Negócios Estrangeiros sobre esta informação e aguarda resposta.
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