Gasolina ou eletricidade. Qual é a opção mais barata para andar na estrada?

Ir à bomba por estes dias abastecer o depósito do carro, seja para pequenas voltas urbanas ou grandes viagens, implica pagar 1,72 euros por litro de gasolina e 1,51 euros por litro de gasóleo. Num depósito médio de 50 litros, são 86 e 75,5 euros, respetivamente.

Os preços dos combustíveis estão em máximos de dois anos mas a culpa, desta vez, não é da cotação do petróleo. As petrolíferas apontam o dedo ao sobrecusto da incorporação de biocombustível e, sobretudo, à carga fiscal, enquanto a ENSE – Entidade Nacional para o setor Energético publicou um estudo que revela que as margens de comercialização aumentaram 33% na gasolina e 8% no gasóleo desde 2019.

Os resultados do estudo levaram já o Governo a anunciar uma medida-travão às margens dos combustíveis (que será debatida na Assembleia da República na próxima semana) que, quando estiver em vigor, permitirá baixar a gasolina até nove cêntimos por litro e o diesel até 1 cêntimo. No entanto, o ministro do Ambiente e da Ação Climática, já garantiu que não vai mexer nos preços em bomba e baixar impostos também está fora de hipótese.

Com os combustíveis fósseis mais caros, fazer a transição para a mobilidade elétrica pode ser uma boa opção. A questão é que do mercado grossista ibérico (Mibel) também não chegam boas notícias. Esta sexta-feira, o preço da energia elétrica deu um salto de mais de 10 euros e chegou a um máximo histórico de 152,32 euros por MW/h, mais um recorde para somar à lista de 2021. Em termos anuais, acumulados, mostra o Data Hub da REN que o preço médio no Mibel está nos 71,33 euros por MWh.

Em Portugal, ao contrário de Espanha, estes valores não têm impactos imediatos nas contas da luz das famílias (à exceção da atualização de 3% já ditada pela ERSE em julho no mercado regulado), mas podem vir a trazer aumentos nos preços em 2022 ainda que reduzidos, como já admitiu o Governo. O que impactará também a energia que abastece os veículos elétricos dos portugueses.

O Bloco de Esquerda vai mais longe e diz mesmo que o país está confrontado “com uma bomba-relógio que vai mesmo acabar por explodir na fatura dos consumidores em Portugal”, exigindo medidas “urgentes”.

Veículos elétricos podem trazer poupanças até 40 euros

Olhando para os valores atuais dos combustíveis e da eletricidade, a Selectra, empresa que faz a comparação de tarifários de luz e gás, calculou o valor de poupança de abastecer um carro elétrico a 100%, em comparação com um veículo tradicional (com motor de combustão).

As contas foram feitas tendo em conta o custo de carregamento dos dois modelos de carros elétricos mais vendidos em Portugal — o Tesla Model 3 e o Nissan Leaf — por comparação com um carro urbano movido a gasolina. Os valores podem variar consoante as características do automóvel, a tarifa energética contratada e a altura do dia em que o veículo é abastecido.

Diz a Selectra que no caso do Tesla Model 3 (com uma autonomia de cerca de 440 km e 50 kWh de capacidade de bateria), feitas as contas de acordo com uma tarifa de energia simples, o valor total de carregamento elétrico com IVA será de 8,92€. Se a tarifa for bi-horária o custo será de 5,68€ nas horas de vazio (22h-8h) e 11,29€ nas horas de ponta (8-22h).

Por comparação com um carro a gasolina, e tendo em conta que para percorrer uma distância de cerca de 440 km são gastos em média 45 euros de combustível, a diferença pode chegar até aos 40 euros, caso o carro elétrico for carregado de noite, nas horas de vazio, diz a Selectra.

Já no caso do Nissan Leaf (autonomia de cerca de 380km e uma bateria de 40 kWh de capacidade), estes são os preços para carregar a bateria: com tarifa simples, 7,12 euros; com tarifa bi-horária nas horas de vazio, 4,55€; e horas de ponta de ponta, 9,03€.

Neste caso, a Selectra calcula um custo de 39 euros para percorrer 380 km num carro a gasolina, o que significa que “mesmo que carregue o seu carro elétrico durante as horas de ponta ainda vai conseguir poupar 30 euros face ao abastecimento de um carro com combustível fóssil”, refere a empresa no seu estudo, sublinhando que em 2020 Portugal foi considerado o 4º melhor país europeu ao nível de densidade de postos de carga.

Fora de casa, e nos postos de carregamento rápido (PCR) localizados em áreas de serviço de autoestradas, o preço de carregamento já é mais caro: cerca de 40 cêntimos por KWh ou 16 cêntimos por minuto. Com uma potência sempre superior a 22kW, carregar o carro demorará em média 30 a 45 minutos.

“Apesar de serem uma opção em muitos casos imprescindível, carregar mais de 80-90% de energia do seu veículo nestes PCR não é a solução mais económica”, diz a Selectra.

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