Xpeng G9: O SUV chinês que quer fazer tremer os alemães
Ensaio

Xpeng G9: O SUV chinês que quer fazer tremer os alemães

Luís Leitão,

O futuro dos SUV elétricos já não fala só alemão, graças ao flagship da Xpeng. Agora, quem quer luxo e autonomia sem esvaziar a carteira tem uma escolha que faz pensar duas vezes.

Se acha que o domínio alemão no mundo dos SUV elétricos é inabalável, prepare-se para uma surpresa vinda do Oriente: o Xpeng G9 chegou para desafiar o status quo e abanar as certezas de quem sempre pensou que inovação, luxo e tecnologia só se escreviam com sotaque bávaro ou estugardense.

Num mercado onde os preços dos elétricos familiares premium parecem competir com o do metro quadrado em Lisboa, eis que surge um SUV chinês capaz de oferecer o que os rivais prometem, mas a um preço que não faz corar a conta bancária.

A Xpeng Motors nasceu há cerca de uma década, em 2014, numa China que já vislumbrava o futuro da mobilidade elétrica. Fundada por He Xiaopeng (daí o nome da marca), esta startup tecnológica cresceu a um ritmo vertiginoso, chegando aos 15 mil trabalhadores em apenas uma década Não se trata de mais uma marca que tentou copiar o que já existia, mas de uma empresa que nasceu puramente elétrica, com ADN tecnológico e sem os constrangimentos das marcas tradicionais.

Para famílias que valorizam a tecnologia, o espaço e a economia, sem prescindir totalmente do prestígio, o G9 marca pontos. Não tem o estatuto de uma marca alemã, mas tem a substância para questionar se esse estatuto vale realmente os 20 mil euros de diferença.

O G9, lançado em setembro de 2022 no mercado chinês e chegado à Europa em 2023, representa o quarto modelo da marca e o primeiro verdadeiramente pensado para conquistar o mercado global. É o atual flagship da Xpeng e uma espécie de cartão de visita para quem ainda não conhece a marca, com argumentos tão sólidos que até os mais céticos vão querer saber mais.

A estrada que liga Lisboa à Comporta é um teste severo para qualquer automóvel. Entre curvas sinuosas que mordem o Alentejo Litoral e retas infinitas que desembocam no oceano, o Xpeng G9 revelou-se mais do que um simples veículo de transporte de toda a família, mas um companheiro de viagem que se mostra capaz de desafiar o conceito de “value for money” no segmento premium.

Com 4,89 metros de comprimento e 1,94 metros de largura, o G9 posiciona-se diretamente contra os BMW iX e Mercedes-Benz EQE SUV. As dimensões são quase idênticas às dos rivais alemães, mas é no preço que as diferenças se tornam evidentes: enquanto um BMW iX arranca nos 87 mil euros e um Mercedes EQE SUV nos 84 mil euros, o Xpeng G9 começa nos 63 mil euros na versão Standard Range.

Esta diferença de preço não significa, porém, um produto inferior. O interior do G9 impressiona pela qualidade dos materiais, bancos aquecidos e ventilados, e um sistema de infoentretenimento com dois ecrãs de 14,96 polegadas, que facilmente enchem o olho e tornam uma viagem mais agradável. Mas não só.

Na estrada, o G9 também não desilude. À saída de Lisboa, o ACC (Adaptive Cruise Control) mostrou a sua inteligência na A2, mantendo sempre a distância segura dos camiões, antecipando curvas e até sugeriu reduções de velocidade baseadas em sinais de trânsito. E fora de estrada, este SUV chinês revela o seu party trick, graças a uma suspensão pneumática de câmara dupla. Elevado 50 milímetros, foi capaz de deslizar sobre pedras soltas como um barco a cortar ondas. Na volta, em modo baixo (-50 mm), a aerodinâmica do chassis ajudou a recuperar 18% de autonomia na A2 – detalhe crucial para quem viaja com pressa de chegar a casa.

Mas o grande trunfo do G9 reside na tecnologia de carregamento. Enquanto a maioria dos SUV elétricos se debate com velocidades de carregamento que rondam os 150-200 kW, o G9 oferece uma capacidade de até 300 kW em corrente contínua, graças à arquitetura de 800 volts. Na prática, isto significa carregar de 10% a 80% em apenas 20 minutos – um desempenho que rivaliza com os melhores do mercado.

A gama oferece três versões distintas. A Standard Range, com tração traseira e bateria LFP de 78,2 kWh, entrega 313 cavalos e 460 quilómetros de autonomia WLTP. A Long Range mantém a tração traseira, mas aumenta a bateria para 98 kWh, elevando a autonomia para 570 quilómetros. No topo da gama, a Performance (a testada pelo ECO) adiciona tração integral, mantém os 98 kWh de bateria, mas dispara a potência para 551 cavalos, permitindo acelerar dos 0 aos 100 km/h em apenas 3,9 segundos.

O lado menos luminoso da lua

Mas nem tudo são rosas no universo Xpeng. A dinâmica de condução, apesar de competente, não oferece o mesmo refinamento de um BMW iX. A direção, embora precisa, carece de feedback, e o comportamento em curva revela o peso considerável do veículo de 2,34 toneladas na versão Performance.

Outro aspeto menos positivo prende-se com a tecnologia por vezes excessiva. O ecrã de 14,96 polegadas para o passageiro da frente, embora impressionante, pode ser considerado desnecessário.

Para uma família que procura um SUV elétrico premium sem os preços premium das marcas alemãs, o G9 apresenta argumentos sólidos. A versão Standard Range, por pouco mais de 63 mil euros oferece um pacote tecnológico e de conforto que seria impensável neste preço segmento há poucos anos.

Se o futuro pertence a quem conseguir oferecer mais por menos, o Xpeng G9 parece estar bem encaminhado para tirar frutos dessa máxima.

A bagageira de 660 litros (1.576 litros com os bancos traseiros rebatidos) garante espaço para as férias familiares, enquanto os 71 litros do frunk à frente adicionam versatilidade para cabos de carregamento ou compras de último minuto. Os bancos traseiros aquecidos e reclináveis, a função de massagem e o sistema de purificação de ar XfreeBreath elevam o nível de conforto a patamares dignos de um automóvel muito mais caro.

O Xpeng G9 não é perfeito, mas é indiscutivelmente competente. Numa altura em que um BMW iX ou Mercedes EQE SUV facilmente ultrapassam os 90 mil euros numa configuração decente, o G9 surge como uma alternativa credível que oferece 80% da experiência por 70% do preço.

Para famílias que valorizam a tecnologia, o espaço e a economia, sem prescindir totalmente do prestígio, o G9 marca pontos. Não tem o estatuto de uma marca alemã, mas tem a substância para questionar se esse estatuto vale realmente os 20 mil euros de diferença.

Se o futuro pertence a quem conseguir oferecer mais por menos, o Xpeng G9 parece estar bem encaminhado para tirar frutos dessa máxima e, talvez, fazer com que o futuro dos SUV elétricos familiares possa muito bem falar mandarim.

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