RTP3 passa a RTP Notícias com objetivo de “reafirmar compromisso com a notícia”
"Não é apenas uma mudança gráfica ou estética, é um compromisso com a notícia", garante Vítor Gonçalves, na apresentação da nova RTP Notícias. O arranque é domingo, dia das autárquicas.
A RTP3 vai passar a RTP Notícias, anunciou Vítor Gonçalves, diretor do canal. Segundo o também diretor de informação da RTP, o relançamento do canal de notícias surge com o objetivo de “reafirmar compromisso com a notícia, o essencial do jornalismo“, disse na apresentação do novo estúdio de informação da RTP. “Todos. Pela verdade dos factos”, é a nova assinatura.
O “todos” significa que “todos os profissionais da RTP estão envolvidos neste projeto, que é excecional, já não acontecia há cerca de 20 anos”, diz. Depois, significa também “querer chegar a todos os espectadores”. “Estamos aqui para trazer mais gente e chegar a um maior número de pessoas. Sabemos que vivemos num tempo em que há uma fronteira muito mal definida entre a verdade e mentira. Aquilo que vamos reafirmar é o que nunca pode ser posto em causa, que são os factos. Daí esta assinatura”, prossegue. “Não é apenas uma mudança gráfica ou estética é um compromisso com a notícia”, reforça o jornalista.
Esta renovação do canal é um “primeiro passo de uma mudança maior que está em curso na RTP“, adiantou também o diretor de informação, apontando que está está a ser feita “uma mudança gráfica transversal a todos os programas informativos”. A nova imagem é da Ivity e os genéricos foram desenvolvidos internamente, pela equipa de inovação.
O canal de notícias da estação pública chamou-se RTP3 durante uma década. Antes disso foi RTP Informação (2011/15) e RTPN (2004/2011).
Uma das principais mudanças passa pelo envolvimento de todos os profissionais da RTP, com os principais rostos da RTP a passarem agora também a ser vistos no canal de notícias do grupo. José Rodrigues dos Santos, João Adelino Faria, Ana Lourenço ou Cristina Esteves passam assim a estar presentes diariamente também na RTP Notícias. Mas o canal vai também ter apresentadores novos como Pedro André Esteves, Clara Osório ou Maurício José.
Entre os destaques está a apresentação da nova grelha, com programas e comentadores novos, assim como uma “forte aposta” no digital, nomeadamente numa nova aplicação, que estreou esta quinta-feira e com um site que conta com um “novo look”. Esta aposta no digital é feita uma vez que a RTP Notícias “quer estar onde os portugueses estão”, disse Vítor Gonçalves. Além disso, o novo canal de informação vai também reforçar a aposta nas redes sociais, passando inclusive também a estar presente no TikTok.
Os grandes objetivos com a mudança passam por conseguir que o canal seja “mais influente, tenha mais espectadores e seja mais rápido e mais ágil a chegar e a dar as notícias“, bem como “continuar a fazer aquilo que tem sido uma tradição da RTP, que é uma tradição de uma televisão credível, plural, independente, que dá uma informação rigorosa. Isso são marcas que a RTP tem e que gostaríamos de manter”, disse Vítor Gonçalves ao +M, à margem da apresentação.
Embora não colocando nenhuma fasquia nem definindo nenhum objetivo em termos de audiências, Vítor Gonçalves diz que “o objetivo é subir“. “Não queremos fazer este investimento para depois ficar tudo na mesma, queremos subir“, afirmou.
As emissões passarão assim a ser feitas a partir do novo estúdio de informação da RTP, “onde poderemos valorizar graficamente as notícias“, explicou Vítor Gonçalves, adiantando que foi construído um cenário exatamente igual nos estúdios do porto. Estes estúdios vão ter uma primeira utilização este domingo (dia 12 de outubro), na noite eleitoral das autárquicas, dia em que a RTP3 passará efetivamente a RTP Notícias, às 18h45. No entanto, a mudança pode ser vista de forma mais substancial na segunda-feira, dia em que estreia a nova grelha completa.
Após cerca de três meses à frente da informação da RTP, Vítor Gonçalves apresentou assim o novo canal de informação do grupo, que procura inverter os resultados que o canal tem vindo a registar, com audiências consecutivamente inferiores às dos concorrentes.
Nos mês passado a RTP3 registou um share de apenas 0,8%, mais de um ponto percentual abaixo de todos os concorrentes. A liderança entre os canais de informação permaneceu em setembro à CNN Portugal, que conseguiu um share de 2,6%, seguindo-se a SIC Notícias (2,2%) e o Now (2%).
Os resultados da RTP3, recorde-se, terão estado na origem da exoneração de António José Teixeira de diretor de informação da RTP e de diretor da RTP3 em junho.
“Eu disse, não uma, não duas, mas três vezes, publicamente que tínhamos de fazer alguma coisa na RTP3, que continua a afundar nas audiências. Recentemente teve meio ponto de audiência, é algo que não existe. Temos um problema na RTP3 e temos de o resolver. Não me dou por vencido e mais, dentro do caderno de encargos que apresentei ao diretor indigitado, um deles, está lá claramente, é recuperar a RTP3 e colocá-la num patamar mais condigno”, afirmou na altura Nicolau Santos, presidente da RTP, após a exoneração e nomeação de Vítor Gonçalves para o cargo.
Há cerca de dois meses no cargo, Vítor Gonçalves diz que a missão de fazer uma nova grelha para o canal com “este timing” foi “super exigente”. Mas, por outro lado, “foi uma coisa muito boa, no sentido em que em pouco tempo conseguimos apresentar uma diferença grande”.
“Foi muito entusiasmante fazer parte deste percurso neste momento. Foi um trabalho que fiz com a minha equipa, muito desafiante, exigente e cansativo mas também muito estimulante e muito bom. Estou bastante feliz“, diz. Embora a renovação dos estúdios fosse uma aposta que já vinha a ser desenvolvida, toda a grelha e programação contou já com o cunho de Vítor Gonçalves.
Com a reestruturação anunciada, o organograma da RTP passou a estar organizado em quatro grandes áreas de atividade e será subdividido em 28 direções, em vez das até então 39: corporativa (10), operações (quatro), conteúdos temáticos (sete) e conteúdos programáticos (sete). Nesta nova organização, a RTP passou a ter 23 diretores (com cinco direções em acumulação), que comparam com os até então 30 diretores e diretores adjuntos a reportar ao conselho de administração.
“Temos claramente a consciência que as pessoas estão a ver muito mais os conteúdos nos tablets e telemóveis e menos na televisão linear. Há mudanças que têm de ser feitas e formas de trabalhar dentro da RTP que têm de ser alteradas. Tem de haver uma colaboração muito maior entre os profissionais da rádio, televisão e digital e esta organização tem a ver com uma resposta a isso”, justificou Nicolau Santos em audição parlamentar, na sequência da demissão da direção de informação da televisão e da reorganização da empresa.
No âmbito da renovação e qualificação dos trabalhadores, o plano elegia também como fatores críticos de sucesso o lançamento de um plano de saídas e novas contratações “com competências digitais”, a realização de um programa de formação “multiplataforma, inteligência artificial e funções técnicas” e manutenção da paz social, com “maior participação, mecanismos de motivação e maior transparência na comunicação”.
Recorde-se que a primeira fase do plano de saídas voluntárias da RTP, cujas candidaturas terminaram a 18 de abril, contou com mais de 130 candidatos, um número que se situou “acima do previsto”. O custo previsto para esta fase situava-se na ordem dos 5,5 milhões de euros. Uma segunda fase de saídas voluntárias está prevista para o final do ano, mas dependerá de financiamento.
Além do plano de rescisões, a empresa tem em curso investimentos de cerca de 16 milhões na remodelação de instalações, nomeadamente os estúdios, e na compra de material.
A RTP fechou 2024 com resultados líquidos positivos pelo décimo quinto ano consecutivo, no valor de 341 mil euros. Em 2023 o lucro tinha sido de 2,5 milhões. Em 2025, a RTP deverá ter um prejuízo de 18,2 milhões de euros, interrompendo 15 anos consecutivos de lucros, tinha já estimado o seu presidente. O regresso aos lucros deverá acontecer em 2027.
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