A sério?
Mais perigoso que a má utilização de AI é o uso abusivo, especialmente no Natal, de AE. A autenticidade de discurso parece tirar férias e entram dose fortes de emoções induzidas artificialmente.
Episódio 1:
Estou num café, a caminho de uma reunião de networking. Parei para beber uma bica, para chegar bem acordado. Afinal, é networking pela manhã, convém mostrar-me acordado. Ao meu lado no balcão do café estão neto e avó: “já viste este vídeo tão giro, no Facebook? Agora recebo muitos destes. Apareceu-lhes um urso no jardim e agora é amigo do labrador lá de casa, que giro os dois brincam juntos…”. O neto pasma: “ó avó, A SÉRIO???!”, responde com carinho e surpresa, “é tudo falso, avó, é AI…”.
Eu paguei o café e saí, mas a avó ficou. Do que percebi, no café ficou uma senhora bastante indignada. Sentiu-se profundamente enganada. Então aquilo era “tipo Disney” e ninguém lhe tinha dito?
Episódio 2:
Chego ao tal pequeno-almoço de nerworking. O orador foi o Pedro Pina, VP do Youtube, sempre claro e brilhante nas suas conversas. Ao falarmos de AI ele adverte a audiência e diz-nos algo como: “não se esqueçam, hoje em dia um dos trunfos mais importantes é autenticidade. Para marcas, influencers ou para políticos, don’t fake it!” Homessa, será que ele passou no mesmo café do que eu, com a mesma avó? Claro que depois a conversa também foi para outros lados, mas este seu destaque à autenticidade ficou-me a ressoar. Autenticidade. Marcas e autenticidade.
Cenas dos próximos episódios:
As marcas estão em plena aceleração no último trimestre do ano, onde sentem que tudo se ganha e as equipas de marca estão em enorme velocidade para entregar as figuras que se impõem. Já passou o regresso às aulas, agora faltam a Black Friday e o Natal. Se estas equipas estão minimamente atuais, as ferramentas de AI já ajudam muito, levantam o peso da repetição, alavancam insights e conhecimento de consumidor. E pelo que conheço, duvido muito que caiam na tentação de usar AI para desenvolvimento conceptual de raiz ou criação pura.
Mas, mais perigoso que a má utilização de AI, é o uso abusivo, especialmente no Natal, de AE.
AE? Sim, Artificial Emotions. Esse é o grande perigo dos próximos episódios. A tentação das marcas de usar o Natal, ou melhor, usar no Natal essa ferramenta de demagogia publicitária em doses de exagero. O exacerbar de emoções que só vivem no Natal, que medram exponencialmente entre novembro e dezembro, só porque é Natal. Sim, só porque é Natal, a autenticidade de discurso parece tirar férias e entram doses fortes de emoções induzidas artificialmente. Com ou sem recurso a AI.
E depois, já sabemos os próximos capítulos: é ver marcas, umas a seguir às outras, a desenrolarem campanhas para nos puxar a lágrima, a apelar aos sentimentos mais solidários ou altruístas. E alguns até terão pertinência e precisam de atenção. Mas fico sempre na dúvida, as marcas fazem-no porque é assim que são, ou só porque “é Natal e as pessoas querem ver coisas fofinhas?”. E acham que pessoas ainda acreditam?
A sério?
PS: obrigado ao Pedro Pina, que deu luz a uma discussão muito rica. E que foi aqui citado sem aviso prévio. Um abraço, Pedro.
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