Governo russo pode estar a usar equipamento Nokia em sistema de espionagem

A empresa finlandesa Nokia pode estar a fornecer o equipamento e software que liga a ferramenta de vigilância digital “mais poderosa” do governo russo, chamada SORM, à maior rede de telecomunicações do país, revelou recentemente o The New York Times, avança a Servimedia.

No início de março, a Nokia afirmou que iria suspender as vendas para a Rússia. Contudo, segundo o jornal nova-iorquino, é provável que o governo de Putin continue a utilizar este instrumento para monitorizar os seus detratores durante o atual conflito com a Ucrânia.

O SORM foi outrora utilizado pelo Serviço de Segurança Federal Russo (FSB, antigo KGB) para espionar apoiantes do líder da oposição russa Aleksei A. Navalny. Um dos opositores, tal como mencionado pelos investigadores, foi assassinado.

De acordo com documentos acedidos pelo jornal americano, a Nokia forneceu durante mais de cinco anos equipamento e serviços para ligar a SORM ao maior fornecedor de serviços de telecomunicações da Rússia, a MTS. A ferramenta permite a localização e gravação de comunicações, tanto telefónicas como via Internet, bem como a leitura de mensagens enviadas através de meios digitais. Embora a Nokia não fabrique a tecnologia que interceta as comunicações, os documentos mostram como a empresa trabalhou com empresas russas ligadas ao Estado para planear, agilizar e resolver problemas de ligação do sistema SORM à rede MTS.

De acordo com os documentos sob investigação, que cobrem um período entre 2008 e 2017, a Nokia pode ter tido conhecimento do funcionamento de um sistema de vigilância na Rússia, trabalho que por sua vez ajudaria a expandir os seus negócios no país, onde é agora um dos principais fornecedores de equipamento e serviços para as redes de várias empresas de telecomunicações.

A Nokia negou esta quarta-feira “categoricamente” o seu apoio à espionagem russa, dizendo que “não fabrica, instala ou presta assistência a equipamentos ou sistemas SORM”. Declarou ainda que as capacidades de vigilância eletrónica são da responsabilidade dos operadores e que “a Nokia não tem a capacidade de controlar, aceder ou interferir com quaisquer capacidades legais de interceção nas redes detidas e operadas pelos nossos clientes”, noticia a Servimedia.