Meio desportivo é mais vulnerável à extorsão sexual

  • Servimedia
  • 27 Maio 2022

A Transparency International aponta o setor desportivo como um meio muito vulnerável à extorsão sexual. Mulheres, pessoas com deficiência e a comunidade LGBTQ são as principais vítimas destes casos.

Um novo relatório publicado pela Transparency International, denominado ‘On your marks, set Stop: Understanding and Ending Sextortion in Sport’, conclui que o setor desportivo é “alarmantemente” vulnerável à extorsão sexual, noticia a Servimedia.

As estruturas hierárquicas e o sexismo “profundamente” enraizado estão entre os fatores que levam ao abuso sexual generalizado em todos os desportos em todas as regiões do mundo, de acordo com o mesmo documento.

Depois dos inúmeros casos que têm vindo a público sobre extorsão sexual em desportos como ginástica, futebol e ténis, a Transparency International publica este relatório para tentar esclarecer sobre as causas e fazer recomendações aos governos e organizações desportivas sobre a forma como podem acabar com os abusos.

Os casos deste tipo de violência no meio desportivo são causados, na maioria das vezes, por figuras de autoridade que exigem benefícios sexuais para determinar a colocação dos atletas em equipas, a participação em torneios e a atribuição de bolsas de estudo.

O relatório, apoiado pela Fundação Friedrich Naumann para a Liberdade, apresenta estudos de caso de muitos países, incluindo a Alemanha, México, Roménia e Zimbabué, para descrever a natureza generalizada do abuso sexual como um problema de âmbito desportivo em todas as regiões do mundo. Na Alemanha, o inquérito revelou mesmo que um em cada três atletas experimenta violência sexual, com as mulheres a enfrentarem números ainda mais elevados.

O relatório concluiu que a cultura androcêntrica que ainda se vive no meio desportivo e a resistência à regulação ou à investigação externa alimenta este tipo de violência. A análise revela, ainda, que isto acontece pelo facto de as posições de liderança serem ocupadas quase exclusivamente por homens, que permitem esta exploração de pessoas, principalmente mulheres, pessoas com deficiência e da comunidade LGBTQ.

“Combater o sexismo e promover a participação de atletas – especialmente mulheres – na tomada de decisões e na governação é essencial. Todas as pessoas, independentemente do sexo, devem ter o direito de desfrutar do desporto em segurança, sem medo de serem vítimas de extorsão sexual“, afirmou Marie Chene, chefe de investigação da Transparency International.

O silêncio e a falha na prevenção dos abusos

A falta de supervisão combinada com um ambiente cultural que encoraja os atletas a tolerarem abusos e a colocarem a sua equipa ou resultados à frente do seu próprio bem-estar, torna difícil que os sobreviventes denunciem abusos. Aliás, o relatório indica que, nos casos em que os atletas fazem denúncia, na maioria das vezes, passam a ser tratados com desprezo e podem enfrentar represálias.

Sylvia Schenk, presidente do grupo de trabalho sobre desporto da Transparency International Alemanha, afirmou: “A falta de controlo e de responsabilização a todos os níveis das organizações desportivas deixa os atletas vulneráveis. Há muita emoção no Open de França, mas não podemos esquecer os jogadores que não estão presentes depois de terem sido abusados sexualmente”.

“Desde o Peng Shuai da China, cuja alegada agressão por um alto funcionário do governo foi encoberta, até à americana Kylie McKenzie, que já não tem hipótese de competir depois de ter sido assediada e abusada durante muito tempo pelo treinador que lhe foi atribuído pela sua associação. São demasiadas as pessoas confrontadas com as consequências de um sistema sexista e explorador“, continuou a presidente.

O relatório identifica problemas nos sistemas das organizações desportivas, tais como a falta de desenvolvimento de mecanismos internos adequados para prevenir, detetar e denunciar abusos. A insuficiência de recursos e perícia, bem como a independência questionável dos investigadores são outros dos fatores apontados pelo estudo para a falta de capacidade das organizações para investigar abusos.

Ainda assim, a Transparency International deixa claro que, para deixar de permitir abusos, as organizações desportivas e os governos têm de agir (estes últimos até com incentivos financeiros). De acordo com o relatório, a primeira linha de defesa deve ser prevenir o abuso antes que este ocorra, com uma cultura transparente e quadros fortes de prevenção, incluindo a educação sobre sexting e outros abusos sexuais, bem como as ramificações mais amplas do sexismo.

Quebrar a concentração do poder entre os homens e a cultura de objetificação é outra das soluções apontadas no estudo, que também apela a mecanismos de queixa mais eficazes, investigações independentes e regimes de sanções claros para sexting a todos os níveis.

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