China “nunca renunciará ao uso da força” para reunificar Taiwan
Na abertura do 20º Congresso do Partido Comunista, Xi Jinping reafirmou a estratégia “zero covid” e de combate à corrupção e avisou que “a resolução da questão de Taiwan é um assunto do povo chinês".
O líder chinês, Xi Jinping, disse este domingo, na abertura do 20º Congresso do Partido Comunista (PCC), que a China vai fazer todos os esforços para reunificar Taiwan pacificamente, mas que “nunca renunciará ao uso da força”,
“Trabalharemos com a maior sinceridade e faremos todos os esforços em prol da reunificação pacífica [de Taiwan], mas não renunciaremos nunca ao uso da força e reservamos a possibilidade de adotar todas as medidas necessárias”, afirmou.
China e Taiwan vivem como dois territórios autónomos desde 1949, ocasião em que o antigo governo nacionalista chinês se refugiou na ilha, após a derrota na guerra civil frente aos comunistas. Taiwan atua como uma entidade política soberana, mas Pequim insiste que o território é uma província sua. Os Estados Unidos continuam a ser o maior aliado e fornecedor de armas de Taipé.
A resolução da questão de Taiwan é um assunto do povo chinês e deve ser resolvido apenas pelo povo chinês”, apontou Xi Jinping. “A reunificação da pátria deve ser alcançada e vai ser alcançada.
“A resolução da questão de Taiwan é um assunto do povo chinês e deve ser resolvido apenas pelo povo chinês”, apontou Xi Jinping. “A reunificação da pátria deve ser alcançada e vai ser alcançada”, acrescentou, condenando o “separatismo e a interferência estrangeira” na questão de Taiwan.
Xi Jinping também elogiou a transição de Hong Kong “do caos para a governação”. O seu governo impôs, em 2020, uma lei de segurança nacional à cidade que praticamente eliminou a oposição e os ativistas pró-democracia na região semiautónoma da China.
Estratégia “zero covid” e combate à corrupção
Na abertura do 20.º Congresso do Partido Comunista da China (PCC), Xi Jinping, 69 anos, fez um balanço dos últimos cinco anos e traçou o roteiro para os próximos cinco, perante os cerca de 2.300 delegados reunidos no Grande Palácio do Povo, em Pequim.
Uma das principais questões girava em torno da política de prevenção epidémica da China, que resultou no encerramento praticamente total das fronteiras do país e obrigou ao bloqueio frequente de cidades inteiras. Xi afirmou que a China prioriza a vida e a saúde das pessoas acima de tudo. A China “protegeu fortemente a segurança e a saúde das pessoas, e alcançou resultados positivos significativos ao coordenar a prevenção e o controlo da epidemia com o desenvolvimento económico e social”.
A política dos “zero casos” reforçou a vigilância sobre cada cidadão, permitindo registar todos os movimentos num país já criticado pelos abusos contra os Direitos Humanos. As autoridades tornaram obrigatório o uso de uma aplicação para aceder a locais públicos ou residenciais. O utilizador deve primeiro digitalizar o código QR, uma versão bidimensional do código de barras, colocado na entrada de todos os edifícios, assim como nos transportes públicos ou táxis.
O encerramento das fronteiras e os repetidos confinamentos travaram também o crescimento económico. O Banco Mundial prevê que o PIB (Produto Interno Bruto) da China cresça 2,8% este ano, cerca de metade da meta definida por Pequim. O Diário do Povo, o jornal oficial do PCC frisou esta semana que a política é “sustentável” e que deixar o vírus alastrar seria “irresponsável”, mas o custo económico desta estratégia e o descontentamento popular são inegáveis.
A revolta por vezes ultrapassa as redes sociais. Esta semana, apesar das medidas de segurança reforçadas na capital chinesa, um homem pendurou numa ponte de Pequim duas faixas a criticar o líder chinês e a política dos “zero casos”. Uma das faixas convocou os cidadãos a entrarem em greve e expulsarem “o ditador traidor Xi Jinping”.
Xi também defendeu a sua campanha anticorrupção, a mais ampla e intensa desde a fundação da República Popular da China. “A luta contra a corrupção obteve uma vitória esmagadora e foi amplamente consolidada, eliminando os graves perigos latentes dentro do Partido, do Estado e do exército”, disse.
A luta contra a corrupção obteve uma vitória esmagadora e foi amplamente consolidada, eliminando os graves perigos latentes dentro do Partido, do Estado e do exército.
Segundo dados oficiais, pelo menos 1,5 milhão de funcionários do PCC foram punidos durante esta campanha, lançada por Xi após ascender ao poder, em 2012. Centenas de altos quadros do regime foram punidos à pena de morte ou prisão perpétua.
O 20.º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC) vai durar uma semana, devendo pôr termo a duas décadas de sucessão política ordenada, ao cimentar o estatuto do atual secretário-geral, Xi Jinping. A nomeação para um terceiro mandato de cinco anos como secretário-geral do PCC e presidente da Comissão Militar Central é vista por analistas como um momento decisivo na História moderna da China.
O mais importante evento da agenda política da China, que se realiza a cada cinco anos e reúne, em Pequim, mais de 2.000 delegados de todo o país, vai apresentar também, no último dia, a nova formação do Comité Permanente do Politburo do PCC, que é composto por sete membros, entre os quais o líder, Xi Jinping.
Redes sociais chinesas entre a censura e propaganda, em nome da “estabilidade”
Especialistas disseram à Lusa que além da censura, o Governo chinês aposta também na produção em massa de publicações nas redes sociais, para atingir o principal objetivo, “manter a estabilidade”.
Na quarta-feira, as redes sociais chinesas eliminaram publicações sobre um raro protesto político, com faixas penduradas num movimentado cruzamento de Pequim a criticar a liderança comunista. Com a polícia em alerta máximo, as faixas foram rapidamente retiradas.
Mas um professor da Universidade de Harvard, Gary King, disse à Lusa que a censura não tem como alvo eliminar críticas. A prioridade é impedir “qualquer tipo de protesto ou movimento em massa de pessoas. Nem que seja uma parada de apoio a um qualquer dirigente local. O Partido Comunista não tolera outras fontes de poder”, explicou Gary King, que publicou em 2013 um estudo sobre a censura chinesa.
As críticas de organizações não-governamentais e da comunidade internacional não afetam o regime chinês, sublinhou o investigador. “A única coisa com que estão preocupados é a sua própria população, que é o principal fator que os poderia ver afastados do poder”, acrescentou.
Alguns ativistas e advogados chegaram a ter a polícia a bater-lhes à porta, a exigir-lhes que eliminassem uma qualquer publicação nas redes sociais.
Embora a censura esteja a tornar-se “mais sofisticada tecnologicamente”, continua a ser “dependente de pessoas”, defendeu King. “Parte da censura é feita bloqueando certas palavras ou expressões, mas isso não é muito eficaz”, disse.
Patrick Poon, investigador da Universidade de Meiji, no Japão, recordou que a publicação, na rede social chinesa Weibo, na qual a tenista Peng Shuai acusou um alto funcionário do Partido Comunista de agressão sexual, não foi bloqueada porque não tinha “palavras sensíveis”.
Além disso, os chineses são muito “criativos” a inventar expressões para substituir palavras já bloqueadas, disse à Lusa o especialista. Por exemplo, em vez de “4 de julho”, o dia do massacre na Praça de Tiananmen, em Pequim, em 1989, os cibernautas costumavam escrever “35 de maio”, pelo menos até também essa expressão ser bloqueada.
O Governo “não é muito claro sobre as regras, o que faz com que diferentes redes sociais sigam diferentes práticas”, explicou Gary King. Práticas que nem sempre chegam para satisfazer as autoridades. “Alguns ativistas e advogados chegaram a ter a polícia a bater-lhes à porta, a exigir-lhes que eliminassem uma qualquer publicação nas redes sociais”, disse Patrick Poon.
A malha da vigilância já se estende além-fronteiras, com chineses a viver no estrangeiro a serem “ameaçados” devido a publicações, críticas do Governo, em redes sociais ocidentais, que estão bloqueadas na China continental, disse o académico de Hong Kong.
Para “manter a estabilidade”, Pequim tem aperfeiçoado o que chama de “gestão da informação na Internet, o que inclui a censura, mas também o ‘fabrico’ de discurso nas redes sociais, com a produção de publicações em nome de pessoas normais”, explicou Gary King.
“Antigamente chamávamos-lhe o ‘exército dos 50 cêntimos’ [de yuan (sete cêntimos de euro)], porque havia a ideia de que recebiam esse valor por cada publicação que faziam”, explicou Patrick Poon. Gary King disse ter descoberto, para sua “surpresa”, que “afinal são apenas funcionários públicos comuns” para os quais fazer publicações na Internet a apoiar as políticas do partido faz parte das suas funções.
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