“Muito feliz a liderar equipas”, Rosália Amorim, da EY, na primeira pessoa
Com origens na lezíria ribatejana, Rosália Amorim veio para Lisboa estudar e dedicar-se ao jornalismo. Ao fim de 30 anos trocou de profissão, assumindo a direção de marketing e comunicação da EY.
“Sou muito feliz a liderar equipas. Eu gosto de gerir equipas, investir nas pessoas, fazê-las crescer, vestir a camisola com elas e estar no dia-a-dia. Arregaçar as mangas e fazer parte da task force. E depois dar-lhes também liberdade para exporem, trazerem ideias, novos projetos, num brainstorming“, diz Rosália Amorim, desde fevereiro diretora de marca, marketing e comunicação da EY para os mercados de Portugal, Angola e Moçambique, posição na qual coordena atualmente uma equipa de sete pessoas.
A veia de comunicadora veio ao de cima desde cedo e foi-lhe dada continuidade ao longo de mais de três décadas, com um percurso profissional iniciado na Rádio Comercial, onde trabalhou com “figuras” como Nuno Markl ou Pedro Ribeiro. Passou também por outros órgãos de comunicação social como a Exame ou Expresso, foi diretora do Dinheiro Vivo e assumiu o desafio de ser a primeira diretora do Diário de Notícias em mais de 150 anos de História, antes de assumir o cargo de diretora de informação da TSF. Esteve também envolvida na fundação da marca Rumo para Portugal e Angola.
Pelos meios por onde passou, tentou sempre pensar as marcas “muito 360º”, ou seja, “como posicionar a marca enquanto produto editorial, mas também enquanto marca importante no jornalismo, e como chegar aos leitores, a toda a gente, para democratizar o acesso à informação“, refere em conversa com o +M.
Esta linha de pensamento está também a tentar agora transpô-la para a EY, onde chegou em fevereiro deste ano e onde encontrou “várias boas surpresas”, sendo que uma delas é o facto de a EY ser uma “fábrica de conteúdos qualificada“.
“Aqui fazem-se os melhores estudos de mercado, tendências, análises. E acredito que o conteúdo é o rei de uma estratégia de marketing e comunicação, sem conteúdo não existe nada. Não existe uma boa entrevista ou uma boa reportagem, mas também não existe uma boa campanha de marketing ou comunicação. O conteúdo e conhecimento é completamente rei na EY, e portanto o desafio é agarrar neste conhecimento e torná-lo acessível e comunicável ou ‘marketizável’. No fundo fazer estratégia e campanhas para tornar o conteúdo acessível”, explica a responsável.
Além disso, a EY, tal como um jornal generalista, toca muitas áreas, desde a segurança à saúde, à educação, desporto, sustentabilidade ou inteligência artificial, refere Rosália Amorim. “Gosto muito de poder continuar a olhar para os conteúdos como um todo. Portanto não foi uma adaptação difícil, antes pelo contrário. O desafio é comunicar tudo isto de forma cada vez mais multimédia, digital, interativa“, afirma.
“Estamos a apostar num posicionamento cada vez mais focado no digital e em conteúdos que sobretudo sejam multimédia. Hoje em dia os leitores e os clientes privilegiam cada vez mais o acesso a um podcast, a um videocast, e essa é uma forma também de lhes transmitir todo este conhecimento”, detalha Rosália Amorim.
A EY encontra-se assim a implementar algumas iniciativas dentro do género, tendo estreado recentemente o podcast “EY e um café. À conversa com”, que “permite trazer líderes de grandes empresas a bordo da EY para darem a conhecer os seus projetos, a forma como os gerem, e também um pouco o seu lado mais pessoal. Porque por detrás de um gestor há uma pessoa, há um ser humano e eu acho que é também uma oportunidade de os conhecer melhor”, explica a diretora de marketing e comunicação.
Apesar de apaixonada por Lisboa e pelo rio Tejo, Rosália Amorim não esquece as origens no Cartaxo e na lezíria ribatejana, onde encontra a paz de que necessita no meio de uma “agenda frenética”.
Se vai ou não voltar às origens ainda é uma incógnita, mas certo é que acaba por ir lá passar vários fins de semana, acompanhada pelo marido e pelos filhos, Rita (22 anos) e Miguel (19 anos), que “adoram” esta ligação a terras ribatejanas, sendo “muitas vezes” eles próprios a pedirem estas “escapadinhas” de fim de semana.
Esses retornos às origens constituem também um regresso à infância de Rosália Amorim e a tempos passados “sempre na brincadeira e a ajudar os avós em tarefas de campo”. “Foi uma infância super livre, só me lembro de estar na rua o tempo todo, com total liberdade, e tento também transmitir isso aos meus filhos, daí as nossas idas, sobretudo quando eles eram pequenos, para lhes dar a oportunidade de estar no campo, de mexer na terra ou estar com animais”, diz.
“Tentei sempre que não perdessem esta ligação, é muito importante esta ligação às raízes e à família. E dá esta sensação de liberdade que a cidade nos tira e o campo nos traz. Este equilíbrio manteve-se sempre, até hoje, aos 50 anos”, acrescenta.
Foi também ainda na meninice que começou a despontar a sua queda para a comunicação, tal como lhe recordaram os pais há uns anos, quando relembraram que, desde que começou a saber ler e escrever, Rosália Amorim levava consigo para todos os eventos da sua vida um bloco e um lápis para tomar notas, em jeito de reportagem, que depois relatava à família no regresso a casa.
Mas é, portanto, na capital que Rosália Amorim reside, com o marido, os dois filhos e uma Labrador cujo nome é também ele “Lisboa”. Além de “trabalhar muito”, Rosália Amorim faz algum desporto, junto ao rio ou do mar, espaços que a “tranquilizam muito”. No campo desportivo, foi atleta de competição de ginástica gimnodesportiva e acrobática, pelo que fez “muitos saraus pelo Ribatejo” entre o seu quinto e 12º ano de escolaridade.
No âmbito do seu percurso profissional, Rosália Amorim foi enviada a países tão diferentes como Peru, China ou Macau, momentos que tem sempre presente na sua memória. “Sempre fui apaixonada por conhecer o mundo [formou-se em Relações Internacionais] e sempre tentei aproveitar para conhecer pessoas, novos destinos. Gosto de pessoas e de descobrir o mundo, e isso é o que marca a minha vida“, diz.
Gostou do tempo que passou a trabalhar em Angola e “adorou” conhecer África. “Muitas vezes os portugueses vão a Marrocos ou Cabo Verde, mas isso não é conhecer África. Adorei ter estado em Angola a viver e em Moçambique a fazer reportagens porque senti mesmo que estava a perceber o que era a África profunda e porque é que aqueles países foram tão importantes para Portugal. E essas experiências marcaram-me muito”, considera.
“E agora, curiosamente, na EY sou diretora de marca, marketing e comunicação da EY para os mercados de Portugal, Angola e Moçambique, e acabo por ter esta oportunidade de lá voltar e a reatar alguns contactos”, acrescenta.
De resto, tenta também ler muito, gostando particularmente de ler poesia. Além de Fernando Pessoa – sendo que a EY até tem uma frase de Fernando Pessoa escrita numa parede (além de outras obras de arte) – gosta “imenso” de Eugénio de Andrade, pelo que o poeta natural do Fundão seria a sua escolha, caso tivesse de escolher um poeta de eleição.
“A poesia e a arte levam-nos para um caminho muito mais criativo e disruptivo. Até porque não há limites, podemos fazer aquilo que quisermos“, considera.
No entanto, Rosália Amorim não se aventura com a sua própria pena neste género literário, dedicando-se unicamente à prosa. Já lançou alguns livros, dos quais destaca “O Homem Certo para Gerir Uma Empresa é Uma Mulher”. Aliás, se tivesse outra profissão, seria a de escritora, o que espera que aconteça daqui a 10 anos.
Rosália Amorim em discurso direto
ㅤ1 – Que campanhas gostava de ter feito/aprovado? Porquê?
A nível nacional, sem dúvida, a da Telecel. Criar um storytelling em que um simples pastor passa a publicitar algo muito avançado para época, como um telemóvel, foi genial e disponibilizou a todos o acesso à tecnologia. Além disso, o ‘Tou xim, é para mim’ ficou nos nossos ouvidos até aos dias de hoje.
Já em termos internacionais, a atual campanha da Uber com o José Mourinho. A mensagem explicita e implícita revela uma forma de, por um lado, democratizar o acesso a uma plataforma digital e, por outro, elevar o segmento a que se dirige. Hoje esse negócio tanto serve as classes C1, C2 e D como a A e a B. Associar o José Mourinho foi, sem dúvida, a entrada da bola na baliza das plataformas digitais.
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2 – Qual é a decisão mais difícil para um marketeer?
É querer fazer mais e melhor e o orçamento não chegar para tudo!
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3 – No (seu) top of mind está sempre?
O conteúdo como ponte que nos liga aos clientes. Acredito que, tal como se aprende na gestão dos media, ‘content is the key’. E é isso mesmo! É a chave para tudo: para uma eficaz campanha de marketing, para um plano de comunicação, para estreitar relações com clientes e parceiros, para construir um mundo melhor de negócios, como fazemos na EY todos os dias. O conteúdo deve ser o rei da atuação de qualquer marketeer e comunicadora. E isso não passa de moda. Podem mudar as plataformas, cada vez mais digitais; podem mudar os formatos, cada vez mais curtos e interativos; podem mudar os públicos, cada vez mais exigentes e informados; mas, acredito, que o conteúdo vai continuar a ser o rei do marketing e da comunicação.
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4 – O briefing ideal deve…
Deve ter um objetivo claro e KPI definidos. O briefing tem de dizer ao que vamos, porque que vamos, com quem vamos, para quê, para onde e quando. No fundo, em primeiro lugar, deve responder às seis perguntas básicas a que deve responder uma notícia: Quem, o quê, onde, como, quando e porquê? Depois, deve estabelecer indicadores de desempenho, sem deixar de abrir espaço para estimular a criatividade, ou seja, não criar amarras nem ideias pré-concebidas até porque o mundo muda a uma velocidade cada vez maior e temos de ter a humildade e a capacidade de nos adaptarmos às circunstâncias, ao mercado e aos clientes.
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5 – E a agência ideal é aquela que…
Que percebe o que queremos antes mesmo de apresentarmos um briefing completo. É aquela que investiu tempo em estudar e conhecer tão bem a cultura da marca, o seu propósito e a sua ambição, que propõe soluções totalmente alinhadas com a nossa marca, respeitando o ADN da mesma e correspondendo à expectativa dos colaboradores, dos clientes e dos parceiros.
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6 – Em publicidade é mais importante jogar pelo seguro ou arriscar?
Depende do momento de cada marca ou produto. Numa estratégia B2C, muitas vezes, é crucial arriscar, lançar uma pedrada no charco com um produto novo e irreverente. Veja-se o que aconteceu com a Telecel ou com a Frize. Numa estratégia B2B, e no caso de uma consultora e auditora, a segurança, confiança, transparência e responsabilidade é determinante na forma como chegamos ao mercado através das peças de marketing e publicidade. Isso não quer dizer que a estratégia da marca não seja criativa, e tem de o ser todos os dias na forma como aborda o mercado, mas minorando risco e otimizando resultados.
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7 – O que faria se tivesse um orçamento ilimitado?
Apoiaria mais a área da cultura. Este ano, foi criada a assinatura ‘A EY apoia a cultura’, para vários projetos. Por exemplo: a criação da galeria de arte na nova sede da EY em Lisboa, cuja inauguração aconteceu no dia 27 de junho; o convite a três artistas de renome – Pedro Cabrita Reis, Rueffa e Pitanga – para darem vida às paredes da EY e trazerem para dentro de portas a criatividade, disrupção e arrojo para o ambiente desta Big4; a inclusão da poesia, da guitarra portuguesa e do fado na abertura de portas do novo escritório, entre outras iniciativas que vão acontecer nos próximos meses. Se o orçamento fosse ilimitado criaria mais pontes entre as artes e os negócios. Outra área e maior aposta seria a da responsabilidade social, na qual a aposta e dedicação nunca é demais pela forma como pode ajudar a sociedade civil.
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8 – A publicidade em Portugal, numa frase?
É sempre surpreendente e os criativos nacionais são do melhor que há no mundo, como, aliás, provam muitos dos premiados já recebidos a nível global.
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9 – Construção de marca é?
Um caminho diário que junta marketing, publicidade, comunicação, reputação, notoriedade, posicionamento e, acima de tudo, transparência e ética.
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10 – Que profissão teria, se não trabalhasse em marketing?
Escritora. Já escrevi alguns livros, entre os quais se destaca ‘O Homem Certo para Gerir uma Empresa é uma Mulher’, por ter estado várias semanas sucessivas no Top de Vendas e por ter recebido uma crítica de ‘5 estrelas’ na revista do Expresso, e gostaria de escrever mais.
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