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A traduzir publicidade para arquitetura, a Feeders está de olhos postos na internacionalização

Rafael Ascensão,

A Feeders apresenta-se como um "atelier de arquitetura efémera" e uma "tool dentro da toolbox das agências". O objetivo este ano é que a internacionalização represente 50% do seu volume de negócios.

Atelier de arquitetura efémera focado na transformação de espaço de forma temporária para comunicação de marcas ou produtos” – é assim que Joaquim Silva, partner na Feeders, define a empresa que é responsável por projetar no espaço físico a presença de várias marcas, como acontece durante a época dos festivais, que se encontra a decorrer, mas também em eventos, exposições ou lojas.

Em conjunto com o seu sócio, Duarte Silva, com quem fundou a Feeders, sempre houve um grande interesse em “perceber como é que as marcas e os espaços nos eventos eram experiências, por si só, para os utilizadores”, explica numa conversa com o +M. Fomos aprendendo a ler a linguagem da publicidade – que é realmente aqui o grande touchpoint – e começámos a traduzir essas imagens, palavras e estratégias em espaço. E daí este posicionamento da Feeders enquanto atelier de arquitetura efémera, que é a tool dentro da toolbox das agências de comunicação e publicidade“, acrescenta.

Joaquim Silva, um dos fundadores da Feeders.

Ou seja, os clientes da Feeders são agências. “O que a Feeders faz é ler as estratégias das agências e convertê-las em espaço. As agências trabalham com as marcas ao longo do ano, criando estratégias, caminhos, identidade, que se traduzem em objetos, em imagens, que se convertem em publicidade ou redes sociais. Pontualmente existe a necessidade de converter a marca em espaço, e aí, sim, vão precisar daquilo que nós achamos que somos enquanto atelier. Somos esta ferramenta que as agências usam pontualmente, para responderem às necessidades do cliente que têm ao longo do ano“, explica Joaquim Silva.

Aquilo que nós oferecemos é a possibilidade de criarmos uma cadeia de valor em conjunto. Acho que aqui é onde está o grande ganho da marca, do cliente final, que é que quando lançou o desafio ao mercado, o desafio foi respondido por uma cadeia de valor, composta por pessoas que fazem o melhor e que procuram ser o melhor nas suas áreas.

Joaquim Silva

Partner e fundador da Feeders

Nós já pegamos num trabalho que foi feito pelas agências em termos de criação de identidade, atmosfera e comportamento para a marca e traduzimos em espaço“, acrescenta, avançando que a Desafio Global, Mossa, FunnyHow, Havas ou Connect são algumas das agências com quem a Feeders mais trabalha.

“Aquilo que nós oferecemos a possibilidade de criarmos uma cadeia de valor em conjunto. Aqui é onde está o grande ganho da marca, do cliente final, que é que quando lançou o desafio ao mercado, o desafio foi respondido por uma cadeia de valor, composta por pessoas que fazem o melhor e que procuram ser o melhor nas suas áreas. A agência vem ter connosco na procura de superar as expectativas, e é aí que nós também queremos estar”, diz ainda Joaquim Silva.

No entanto, este processo “nem sempre corre bem”, confessa, porque tanto as agências como a Feeders procuram ser “disruptivos” naquilo que oferecem. “Esta tal mudança de paradigma na experiência de um evento, também tem de ter aceitação pelo lado da marca, e às vezes há marcas – e pessoas que as estão a controlar – que não estão preparadas. E isso é normal, cada um pode, e deve, correr os riscos na medida em que está confortável”, acrescenta.

“Estamos preparados para não ganhar, mas estamos preparados para sermos fiéis à nossa identidade e às nossas crenças, acima de tudo. A arquitetura é feita tailor-made para cada desafio que nos é lançado e proposto”, assegura.

A Feeders esteve presente em diversos festivais este ano, como no Rock in Rio (com a Via Verde), no Nos Alive (com o Novobanco e Fidelidade) ou no Primavera Sound (com a Bacanaplay). No entanto, a empresa não se limita ao território da música, pelo que também desenvolve projetos para outras áreas, como o desporto, tendo sido responsável por desenhar o palco da cerimónia do campeão nacional da Liga Betclic, por exemplo, ou a loja do Sporting CP no centro comercial Colombo.

Tendo em conta o tipo de arquitetura a que a Feeders se dedica, os materiais usados são aqueles que permitem não só uma construção rápida e com um uso menos perene – madeiras e derivados de plástico – mas também que criem impacto, naquele que é um trabalho muito desenvolvido em associação com a luz, o audiovisual e a plasticidade dos materiais. A sustentabilidade é também um fator que é tido em conta, pelo que a empresa tenta que os seus stands, equipamentos e espaços “cumpram ciclos” de dois ou mais anos.

Em crescimento e de olhos postos na internacionalização

Em 2018 a Feeders registou um volume de negócios na ordem dos dois milhões de euros, tendo registado a partir daí um crescimento a dois dígitos, chegando aos quase três milhões em 2019. Depois de um hiato em 2020 e 2021 devido à pandemia, a empresa, que conta atualmente com cerca de 15 colaboradores, voltou a crescer em 2022 e 2023, sendo que neste último ano já conseguiu ultrapassar os cinco milhões de euros em volume de negócio anual.

Mas 2024 é também um “ano de transformação“, diz Joaquim Silva, referindo a existência de um foco “na questão da internacionalização e expansão para novas geografias”.

A prova de conceito está feita cá, porque é que não vamos aplicar esta mesma lógica internacionalmente? Claro que existe um grau grande de criatividade nos projetos que entregamos, mas também existe uma parte técnica muito grande e importante dentro dos projetos. As agências e marcas não querem só um ‘boneco giro’ querem alguém que o saiba executar e que lhes tire esse peso de cima no trabalho que estão a fazer para uma marca com quem, se calhar, trabalham o ano inteiro

Joaquim Silva

Partner e fundador da Feeders

A prossecução desta estratégia de internacionalização ocorreu depois da “felicidade” de a Feeders ser bastante contactada “por agências internacionais que queriam fazer coisas em Portugal e que procuravam um parceiro local”. “E portanto, aquilo que nós percebemos é que o espaço que queremos ocupar no mercado nacional, é um espaço que também existe no mercado internacional“, explica Joaquim Silva.

A prova de conceito está feita cá, porque é que não vamos aplicar esta mesma lógica internacionalmente? Claro que existe um grau grande de criatividade nos projetos que entregamos, mas também existe uma parte técnica muito grande e importante dentro dos projetos. As agências e marcas não querem só um ‘boneco giro’ querem alguém que o saiba executar e que lhes tire esse peso de cima no trabalho que estão a fazer para uma marca com quem, se calhar, trabalham o ano inteiro“, explica.

Assim, a Feeders encontra-se desde o segundo semestre do ano passado a procurar “dar nota” da sua marca e processo em mercados internacionais. A primeira impressão foi no Reino Unido, onde já se encontra a desenvolver alguns projetos, mas procura também cimentar a sua posição na França e Estados Unidos este ano.

Esta é uma estratégia “relativamente recente”, tendo em conta que requer um desenvolvimento e conhecimento dos mercados e do seu modo de operar, até do ponto de vista legal.

“Estamos a entregar projetos técnicos, de palcos e estruturas, projetos eletrotécnicos, de segurança contra incêndios, e portanto temos de perceber como é que a lei funciona nesses países e como é que vamos operar e isto foi também todo um estudo que tivemos de fazer. No entanto, a lei não muda propriamente e existe uma base empírica de bom senso, onde depois apenas temos de fazer alguns ajustes para que as coisas sejam operacionais e concretizáveis nestas outras geografias”, explana.

O objetivo é que a quota de mercado conquistada a nível internacional represente 50% do volume de negócio da empresa. E isto tendo em conta que em 2023 os clientes internacionais já representaram cerca de 25% do volume de negócio, o que é um “ótimo indicador de que esta nossa estratégia de internacionalização tem pernas para andar”, conclui Joaquim Silva.

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