Embaixador português em Israel exonerado. Governo justifica substituição com necessidade de “novo perfil”
Nomeado embaixador em Telavive há menos de dois anos, Luís Barros é exonerado do cargo e substituído pela embaixadora Helena Paiva depois de uma "reavaliação das necessidades" do posto.
Apenas um ano e oito meses depois de ter sido nomeado embaixador de Portugal em Israel, Luís Barros foi exonerado do cargo após uma “reavaliação das necessidades” do posto, devido ao “momento atual” das relações bilaterais entre Portugal e Israel. O Governo já nomeou uma sucessora “com outro perfil”: a embaixadora Helena Paiva, que terminou em junho passado uma missão de quatro anos em Atenas.
De acordo com o Estatuto da Carreira Diplomática, os funcionários diplomáticos colocados em postos de classe B, como é o caso da embaixada em Telavive, deverão ser transferidos no decurso do ano em que perfaçam “um mínimo de três ou um máximo de quatro anos de permanência no posto”.
No entanto, Luís Barros tinha sido nomeado embaixador em Telavive em janeiro de 2023, conforme indica o decreto então publicado em Diário da República, o que significa que não chegou a cumprir o período mínimo para substituição naquele posto.
Ao ECO, o gabinete do Ministério dos Negócios Estrangeiros justificou a mudança com “o momento atual do relacionamento bilateral com Israel” e “a conjuntura geopolítica regional e mundial”, que “levaram a que fosse feita uma reavaliação das necessidades do posto e, em função disso, à escolha de um embaixador com outro perfil”.
Antes, uma fonte diplomática negara motivos políticos para a substituição de Luís Barros por Helena Paiva, apontando que a mudança se devia ao facto de o embaixador Luís Barros ter atingido “o limite de idade [fixado em 66 anos e 4 meses, a atual idade de reforma em Portugal] para exercer funções no estrangeiro”.
No decreto publicado na quinta-feira, com data de assinatura a 3 de setembro por Marcelo Rebelo de Sousa e referendado a 9 de setembro pelo primeiro-ministro e pelo ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, lê-se apenas que “é exonerado, sob proposta do Governo, o ministro plenipotenciário de 1.ª classe Luís Filipe Ribeiro da Silva Barros do cargo de Embaixador de Portugal em Telavive”.
Governo proibiu sobrevoo dos EUA com armamento para Israel
Esta quinta-feira, o Diário de Notícias escreveu que o ministério tutelado por Paulo Rangel proibiu que um avião dos Estados Unidos que carregava armamento com destino a Israel sobrevoasse Portugal. Numa entrevista entretanto publicada pelo Público e a Rádio Renascença, o chefe da diplomacia portuguesa esclareceu que se tratou de uma “decisão formal tomada a 10 de setembro”, que “teve a ver com o direito de escala nas Lajes e o sobrevoo”.
Porém, o DN escreve que o ministro Paulo Rangel “estará alinhado com altos quadros deixados pelo PS na condução da política externa, que tentam contrariar a orientação do [primeiro-ministro] Luís Montenegro, segundo a qual é prematuro um reconhecimento unilateral da Palestina como Estado”.
Navio com bandeira portuguesa transporta material para empresa de armamento em Israel
Ainda na entrevista ao Público e à Rádio Renascença, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, confirmou também que há um navio com bandeira portuguesa que transporta material para ser usado por três fabricantes de armamento, um dos quais está localizado em Israel.
“Este barco não se dirige a Israel, dirige-se a dois portos no Adriático, um na Eslovénia e outro no Montenegro. Quando eu falei, o que sabíamos é que transportava material explosivo, que, no fundo, é o material que seria utilizado pelos compradores desse material para os fins próprios das suas firmas e das suas empresas. Entretanto, continuámos a receber novas informações e ficou estabelecido que o material se destina a três países, um deles Israel“, disse o governante.
O navio Kathrin partiu do Vietname em 22 de julho e devia ter ancorado a 25 de agosto na Namíbia, mas foi impedido de aportar para reabastecimento pelo governo daquele país na sequência de um alerta de uma organização local para a possibilidade de a embarcação transportar armas ou munições para Israel. Pelo menos até ao final do mês passado, a embarcação encontrava-se ainda ao largo da costa da Namíbia.
De acordo com Paulo Rangel, que cita a informação que lhe foi transmitida pelo armador do navio, “metade do material vai para a Polónia e para a Eslováquia, [a outra] metade do material vai para Israel“. Note-se que o Governo de Luís Montenegro, como o ministro dos Negócios Estrangeiros recordou, “proibiu a exportação de armas para Israel”.
(Notícia atualizada às 18h13 com reação oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros)
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