Oposição fala numa só voz para acusar Montenegro de viver numa realidade paralela

Da esquerda à direta, a oposição acusou o primeiro-ministro de tentar passar uma imagem do país muito diferente daquela que é a realidade. Partidos dizem que PM vive num "oásis".

O discurso do primeiro-ministro para assinalar a quadra natalícia não ficou imune às críticas da oposição. Da esquerda à direta, os partidos de fora do arco da governação acusaram Luís Montenegro de pretender passar uma imagem do país muito diferente daquela que é a realidade. Os partidos acusam mesmo o chefe do Executivo de viver num “oásis” que “contrasta” com a real situação em que vivem os portugueses, naquela que foi a mensagem de Natal partilhada com o país, no passado dia 25 de dezembro.

PS acusa Montenegro de “cavalgar” perceção de insegurança

A líder parlamentar do PS, Alexandra Leitão, considerou que a mensagem de Natal do primeiro-ministro “contrasta com a realidade” e acusou Luís Montenegro de “cavalgar” uma “perceção de insegurança” ao abordar, uma vez mais, o tema da imigração e da segurança no país: “Somos um dos países mais seguros do mundo, mas temos de salvaguardar esse ativo para não o perdermos”, advertiu.

Temos um Governo que cavalga uma perceção de insegurança que não é real e que a aproveita para entrar numa deriva de populismo securitário e totalitário“, acusou Alexandra Leitão. “Não vale a pena traçar um quadro eleitoralista de um país que não é o que os portugueses conhecem”, frisou a líder parlamentar socialista.

Para a líder parlamentar do PS, a mensagem de Natal de Luís Montenegro contrasta com a de Marcelo Rebelo de Sousa, que, num artigo no Jornal de Notícias, defendeu ser necessário “promover a igualdade e afastar as exclusões”.

“Foi a mensagem do Presidente da República com a qual o PS não podia estar mais de acordo”, destacou Alexandra Leitão nas suas declarações na sede nacional do PS, no Largo do Rato, em Lisboa.

Discurso de Montenegro foi “redondo”, diz Ventura

André Ventura reagiu esta quinta-feira para dizer que o discurso de Montenegro foi “redondo” e que António Costa o “poderia ter feito, ou outro primeiro-ministro qualquer antes dele”. Segundo o líder do Chega,“o primeiro-ministro vive num país que “99% dos portugueses não vivem nem veem”.

“Luís Montenegro falou num dos países mais seguros do mundo. Mas ninguém, ou quase ninguém consegue ver esse país”, disse o presidente do partido, afastando a perceção de que Portugal é um país seguro. “Não existe”, disse esta manhã, em conferência de imprensa, na sede do partido.

“Disse também que se orgulhava de liderar um Governo que, pela primeira vez em muitos anos, tinha aprovado um Orçamento sem aumento de impostos. Mais uma vez, um primeiro-ministro que vive e vê um país que 99% dos portugueses não vivem nem veem”, disse.

IL acusa Montenegro de viver num “oásis”

Rui Rocha também não poupou o primeiro-ministro de críticas. “Os portugueses vivem em condições que não são aquelas que constam do oásis que o primeiro-ministro quer apresentar”, disse o líder da Iniciativa Liberal, apontando a saúde, educação e habitação como “falhanços claros” do Governo.

“O país precisa de mudança a sério e este discurso, que é um discurso que parece contente, enfim, com aquilo que foi fazendo, é um discurso muito afastado das necessidades do país, é um discurso muito afastado da vida dos portugueses“, afirmou Rui Rocha, no Porto. “À medida que o primeiro-ministro fala, parece que se vai distanciando cada vez mais do país”, disse ainda.

Para Rui Rocha, Luís Montenegro falou um país que “é um oásis” mas “é um oásis em que só vive o primeiro-ministro e o Governo da Aliança Democrática (AD)”. “Os portugueses vivem em condições que não são aquelas que constam do oásis que o primeiro-ministro quer apresentar”, atirou o liberal.

“Cenário” de Montenegro não é realidade, diz Livre

Já o Livre, pela voz do deputado Paulo Muacho, surfou a mesma onda, dizendo que “o cenário” que Luís Montenegro “tenta pintar” não é a realidade. “[O Livre] dá uma nota muito, muito negativa. Temos muitas reservas relativamente àquilo que tem sido o trabalho deste Governo e às medidas que ainda virão“, disse o deputado.

Tal como os restantes partidos, enumera exemplos que vão desde a saúde, à educação e habitação para sustentar as críticas que faz, e na área da segurança e das migrações acusa o Governo de promover “uma cedência retórica à extrema-direita e uma cedência na política que é cada vez mais securitária”.

Bloco diz que crise na saúde e habitação está “mais agravada”

Pela voz do Bloco de Esquerda, Aliyah Bhikha criticou o Governo por não tratar as pessoas com “humanismo” e “dignidade”, aludindo à operação de fiscalização conduzida pela PSP, na passada sexta-feira e que obrigou dezenas de pessoas encostarem-se à parede. Aos olhos da jovem bloquista, o Executivo deve “reconhecer que esta [operação policial] foi uma ação politicamente motivada e pedir desculpas ao país”.

Sobre a mensagem de Natal de Montenegro, Bhikha descartou as promessas deixadas pelo primeiro-ministro sublinhando que “entramos em 2024 e saímos com uma crise tanto habitação como na saúde, cada vez mais agravada” e lamenta que as propostas que o Bloco de Esquerda apresenta continuem a ser recusadas.

País de Montenegro não é “dia-a-dia dos portugueses”, acusa PCP

Por seu turno, Jaime Toga, da comissão política do Comité Central do Partido Comunista Português, criticou a ideia defendida por Luís Montenegro de que houve uma mudança na vida política e, à semelhança dos restantes partidos, insistiu na ideia de que o chefe do executivo fala de uma realidade paralela.

O primeiro-ministro fala-nos de um país que não é o país que nós encontramos no dia-a-dia, em que dois milhões de portugueses vivem abaixo do limiar da pobreza, dos quais 300 mil são crianças. Não nos fala do facto de haver um milhão de reformados com pensões abaixo dos 500 euros, nem de haver um conjunto de 19 grupos económicos que lucram 32 milhões de euros por dia”, referiu o comunista.

PAN exige que Governo “passe das palavras à ação”

Inês de Sousa Real também reagiu esta quinta-feira, considerando que o primeiro-ministro “não pode dizer uma coisa no Natal e fazer outra coisa durante todo o ano”. A deputada única, em declarações transmitidas pela RTP3 a partir da sede do partido, em Lisboa, exigiu assim que o primeiro-ministro deve “passar das palavras à ação”.

“O primeiro-ministro não pode dizer que está ao lado dos profissionais, como os polícias, bombeiros e doutores, mas no momento de votar, permite que os partidos que suportam este Governo votem contra a valorização destes profissionais”, apontou. “Luís Montenegro diz uma coisa e faz outra, completamente diferente“, atirou.

“Não nos emocionam as suas palavras e queremos um Governo que passe das palavras à ação porque temos desafios muito prementes para 2025, seja por força do contexto da guerra (…), das alterações climáticas ou das questões sociais tão prementes como a pobreza, a imigração e a própria segurança das populações”, concluiu.

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