DeepSeek? “Concorrência é necessária. Amanhã pode vir um modelo melhor ou mais barato”, diz Amazon
Vice-presidente da empresa de ‘cloud’ da Amazon diz ao ECO que a chegada da nova tecnologia chinesa esta semana mostra que a estratégia certa é dar às empresas opções de escolha.
A semana foi tecnológica do início ao fim: desde o sell-off na segunda-feira com o aparecimento do novo modelo de Inteligência Artificial (IA) da chinesa DeepSeek, passando pela apresentação de resultados de quatro das Sete Magníficas, que superaram as expectativas do mercado (menos a Tesla) até à atualização do ‘ChatGPT’ da Alibaba, que promete concorrência maciça à OpenAI e Meta.
As Big Tech norte-americanas tremeram em Wall Street com os desenvolvimentos da IA generativa vindos da Ásia, mas a julgar pela opinião da Amazon, mantêm-se bastante convictas da estratégia que têm levado a cabo. Em entrevista ao ECO, o vice-presidente da Amazon Web Services (AWS) em França e na Europa do Sul diz que o importante é dar às empresas opções de escolha, porque têm objetivos diferentes para cada tecnologia que compram.
“Acho que o que aconteceu esta semana com a DeepSeek valida a estratégia que estamos a tentar transmitir aos nossos clientes sobre o que consideramos ser a abordagem certa para a IA generativa com o seu feedback. Sempre achámos que os clientes têm de escolher os modelos que utilizam, porque os melhores modelos de hoje não são necessariamente os melhores de amanhã”, afirmou Julien Groues.
“Demonstra que tivemos a estratégia certa para os nossos clientes, ao dar-lhes poder de escolha, até porque já podem utilizar DeepSeek em ambientes confidenciais através do [programa da Amazon] Bedrock. Podem pegar nesse modelo, que é de código aberto [open source] e implementá-lo lá. Hoje é DeepSeek, amanhã será outra coisa. Ou na próxima semana ou no mês seguinte”, acrescentou.
Para o executivo da AWS, as organizações têm é de ter capacidade de escolher a IA certa para si através de três tópicos: definição dos objetivos concretos que têm, análise ao custo das infraestruturas e cuidado com a confidencialidade da informação. “A concorrência é necessária. Se desenvolves um modelo hoje e amanhã vem outro melhor ou mais barato, tens de ser capaz de o implementar muito rapidamente. Está tudo a avançar tão rápido. Se ainda estás na primeira versão de um modelo do ano passado, estás a perder”, advertiu.
Questionado sobre se é possível construir um modelo desta natureza com apenas seis milhões de dólares (5,7 milhões de euros), foi taxativo: “Não sei. Alguns dos modelos que fizemos, como o [Amazon] Nova, são 70% mais baratos do que outros modelos. A velocidade dos avanços tecnológicos que temos agora torna tudo possível. Mas sobre este caso em particular, não sei.”
Hoje é DeepSeek. Amanhã, na próxima semana ou no mês seguinte será outra coisa.
Em relação à presença da AWS em Portugal, Julien Groues reiterou que é um mercado “muito importante para a marca”, onde está desde 2018, fez “grandes investimentos” e continuará a fazer, tendo como principais prioridades continuar a apoiar as empresas a deixar para trás os centros de dados e a migrar a informação para a cloud e modernizarem as suas aplicações para poderem reduzir custos e tornarem-se mais ágeis e sustentáveis.
Gestão da AWS Europa em Lisboa
O líder da AWS para os mercados francês e sul-europeus veio a Lisboa esta semana para fazer um ponto de situação de início do ano e encontrar-se com clientes, parceiros, equipa interna e representantes do Governo. “Tenho de dizer que tenho ficado extremamente impressionado com a forma como as empresas portuguesas, qualquer que seja a sua dimensão ou setor, estão a utilizar a tecnologia ou a cloud para acelerá-las na transformação digital e sustentabilidade. Esta [terça-feira de] manhã reuni com a Credibom e logo estarei com SAP”, admitiu.
No leque de clientes em Portugal estão empresas como Ascendi, Outsystems, Visor.ai, Unbabel ou a cimenteira Secil, que implementou agentes de IA para gerir recursos humanos e procedimentos de segurança dos trabalhadores. “A maioria das empresas com as quais trabalhamos utilizam vários modelos para diferentes tarefas, use cases [casos de uso], resumos e análises de documentos, atendimento ao cliente, otimização de processos…”, explica.
Então, mostrou-se satisfeito com os resultados dos investimentos em IA por parte das empresas, descredibilizando as críticas que geram em torno dos proveitos que obtêm desta tecnologia. “Já passámos das provas de conceito para aplicações. Continuam-se a fazer chatbots, mas estão cada vez melhores e prestáveis no atendimento ao cliente. O que é novo e veremos muito mais em 2025 será IA generativa para resolver problemas que nunca foram solucionados antes: a investigação médica sobre o cancro”, antevê. E os resultados da AWS? “Fomos criados em 2006 e somos agora um negócio de 105 mil milhões de dólares com um crescimento acelerado. Acho que estamos contentes com os resultados”, diz.
"Já passámos das provas de conceito da tecnologia. Continuam-se a fazer chatbots, mas estão cada vez melhores. O que veremos mais em 2025 será IA generativa para resolver problemas que nunca foram resolvidos, como investigação sobre cancro”
Globalmente, o grupo Amazon decidiu pôr fim ao regime de trabalho híbrido, que permitia aos trabalhadores estarem dois dias por semana em casa. O vice-presidente da AWS disse ao ECO que não há falta de espaço para a equipa e que até o trânsito das cidades compensa os ganhos com o regresso dos colaboradores a 100% ao escritório. “Sabemos que inovamos melhor para os nossos clientes estando juntos e com um quadro branco à frente. Temos uma cultura muito forte na Amazon e na AWS”, argumentou.
Confrontado com as mudanças nas políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) na multinacional, que coincidiram com a entrada de Donald Trump na Casa Branca, Julien Groues garantiu que as medidas DEI são “uma prioridade fundamental”, por dois motivos: é ético e não se pode fazer negócios neste mundo sem diversidade.
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