Novo governo alemão virado para a política doméstica

  • Lusa
  • 9 Fevereiro 2025

Numa situação económica de estagnação, e com eleições antecipadas a 23 de fevereiro, o novo governo alemão vai dar prioridade à política interna e secundarizar a política europeia.

A estagnação da Alemanha e os vários desafios internos vão impedir uma atenção maior do próximo governo à União Europeia (UE), antecipa o economista Alexander Kritikos. “Temo que a Alemanha nos próximos anos continue num período de estagnação. É possível que haja uma ligeira melhoria quando o novo governo entrar em funções porque é uma espécie de novo fôlego. Mas não teria muita esperança nesta ideia de que a Alemanha vai liderar e empurrar o resto da Europa para a frente”, defendeu o economista, membro da Comissão Executiva do Instituto Alemão de Investigação Económica (DIW).

A Alemanha vai a eleições daqui a cerca de duas semanas e tudo aponta para uma vitória do partido de centro-direita União Democrata Cristão (CDU), liderado por Friedrich Merz.

Acho que este governo terá de resolver e focar-se em tantos assuntos domésticos que, a União Europeia, apesar de ser algo positivo, e manter boas relações ser sempre algo importante, não vai estar no centro das atenções. Ou seja, não haverá um esforço adicional de desenvolver as relações e as capacidades da União Europeia. O novo governo não terá tempo nem capacidade para isso”, lamentou Kritikos.

Christian Dustmann, diretor do Instituto de Berlim da Fundação Rockwool para a Economia e o Futuro do Trabalho, acredita que a Alemanha, a maior economia da Europa e a terceira no mundo, vai continuar a desempenhar um papel importante em vários campos. “Acredito que possa ser uma economia forte e liderar a Europa. Precisamos de inovação especialmente em setores onde perdemos a nossa vantagem, produção de equipamentos digitais, tecnologias verdes, setores em que fomos ultrapassados pela China ou pelos Estados Unidos. Espero que a Alemanha tenha uma voz importante na condução da Europa na direção correta, do crescimento”, salientou à Lusa.

Dustmann recorda os episódios negros dos últimos meses em relação ao setor automóvel, com a Volkswagen, por exemplo, a anunciar cortes. “Ao mesmo tempo vemos uma subida dramática da produção de carros elétricos na China. Os chineses são muito competitivos e isso é um grande problema para a Alemanha”, destacou, sublinhando a importância ainda maior de uma União Europeia forte.

Sebastian Dullien, diretor do Instituto de Política Macroeconómica (IMK) da Fundação Hans-Böckler-Stiftung, explica que o mundo está atualmente caracterizado por uma escalada da luta pelo poder económico entre a China e os Estados Unidos da América. “A isto juntam-se as consequências do choque dos preços da energia causado pela perda do gás natural russo como fonte de energia fiável. As medidas de política económica do novo governo alemão devem ter em conta estes aspetos, se quiserem conduzir a uma viragem bem-sucedida da economia alemã”, sustentou.

“A política comercial da UE deve reagir de forma aberta, mas defensiva, se a China e os EUA, em particular, ignorarem cada vez mais as regras da Organização Mundial do Comércio. A política económica, em particular na Alemanha, deve ser orientada para ajudar a indústria transformadora a defender ou a recuperar a liderança tecnológica, a diversificar os mercados de vendas, a abrir novos mercados em crescimento e a criar as condições para uma autonomia estratégica na Europa, para além da necessária promoção do setor dos serviços”, explicou Dullien à Lusa.

O diretor do IMK realça que a “coordenação europeia da nova política industrial é crucial” e constitui uma “oportunidade para reforçar o projeto europeu comum”.

A Alemanha realiza em 23 de fevereiro eleições legislativas antecipadas – estavam previstas para 28 de setembro -, na sequência da queda da coligação governamental liderada por Olaf Scholz e composta por SPD, liberais do FDP e Verdes.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Novo governo alemão virado para a política doméstica

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião