Vinho ‘manda abaixo’ exportações de cortiça. Guerra comercial vai travar “recuperação rápida”

Indústria da cortiça perdeu 5,2% das vendas ao estrangeiro em 2024, equivalente a 63 milhões de euros. França e EUA reduziram procura por rolhas e “conjuntura internacional” vai atrapalhar a retoma.

Depois de terem aberto o champanhe para festejar um novo recorde nas exportações em 2023, os industriais portugueses da cortiça são agora obrigados a manter a garrafa no congelador devido à quebra de 5,2% nas vendas ao exterior registada em 2024 e pressionada pelo “impacto das dificuldades no setor vitivinícola a nível mundial”.

Segundo dados da associação do setor (APCOR), as vendas internacionais baixaram para 1.148 milhões de euros no ano passado, influenciadas pela redução na procura por rolhas de cortiça – valem mais de 70% do valor exportado – em “mercados-chave” como EUA e França. Ainda assim, a reta final do ano foi de recuperação parcial, dado que até setembro estava a perder 7% em termos homólogos.

“Fatores como o contexto económico e respetiva inflação, que afetou o poder de compra dos consumidores, assim como algumas tendências associadas a hábitos de consumo, explicam a quebra de consumo de vinho em vários mercados representativos”, justifica a associação patronal de um setor composto por mais de 800 empresas e que assegura cerca de 8.500 empregos diretos.

Por outro lado, para a redução do volume de rolhas exportadas contribuiu a “menor competitividade da indústria” provocada pelo aumento do preço da matéria-prima: o preço médio pago à produção subiu à volta de 20% na campanha de 2023. Um efeito que não se fará sentir este ano, uma vez que, como o ECO noticiou, na última campanha já baixou 15% e até deixou por extrair parte da cortiça disponível na árvore.

É em França, o maior produtor mundial de vinho, que estão os principais compradores de cortiça portuguesa. Espanha, EUA, Itália e Alemanha completam o top 5 de destinos para as fábricas nacionais. A balança comercial mantém-se “sólida”, com um saldo positivo de 929 milhões de euros e as exportações a cobrirem 5,2 vezes as importações deste produto em que Portugal lidera a nível mundial.

A conjuntura internacional, nomeadamente de guerras comerciais entre blocos económicos, não nos permite antecipar uma recuperação rápida, mas o setor está a responder com medidas de adaptação.

Paulo Américo de Oliveira

Presidente da APCOR

Em declarações ao ECO, na véspera da eleição de Donald Trump, o presidente da APCOR, Paulo Américo de Oliveira, lembrou que os EUA são o maior importador e consumidor de vinho, avisando que a subida nas tarifas poderá ter “implicações significativas nas exportações diretas, assim como impacto indireto através da redução de exportações de vinho de mercados clientes de produtos de cortiça”, notando igualmente os efeitos diretos sobre os materiais de construção.

Paulo Américo Oliveira, presidente da APCOR – Associação Portuguesa da Cortiça

Com o novo ocupante republicano da Casa Branca a começar a cumprir as ameaças que tinha feito durante a campanha, o também CEO da Amorim Florestal atesta agora que “a conjuntura internacional, nomeadamente de guerras comerciais entre blocos económicos, não permite antecipar uma recuperação rápida”.

Paulo Américo de Oliveira garante, porém, que o setor “está a responder com medidas de adaptação e [continuará] a apostar na inovação, na diversificação de mercados e na promoção internacional da cortiça como forma de relançar as exportações do setor e voltar a uma linha de crescimento alinhada com os anos precedentes”.

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