A Alemanha vai este domingo a votos, com o mundo a assistir

Conservadores da CDU devem vencer mas as grandes incógnitas serão que coligação vai governar e quanto vai crescer a extrema-direita apoiada por Elon Musk.

Com a guerra às portas da Europa e uma ofensiva comercial e política por parte dos Estados Unidos, a principal economia europeia vai este fim de semana a votos, numas eleições legislativas que valem bem mais do que a governação alemã no curto prazo.

As eleições estavam previstas para setembro, mas precipitaram-se depois do rompimento da coligação liderada pelo chanceler Olaf Scholz, que incluía o seu partido (SPD, de centro-esquerda), os Verdes e os liberais do FDP. Scholz demitiu o ministro das Finanças, dos liberais, e apresentou uma moção de confiança, sabendo que iria perder mas acreditando que poderia tirar vantagem de uma clarificação eleitoral. Pelas sondagens, isso não lhe será favorável, porque a vitória não deverá escapar à CDU, de centro-direita, juntamente com o seu “partido-gémeo”, o CSU, da Baviera.

As previsões apontam para uma vitória confortável dos democratas cristãos, com perto de 30% das intenções de voto, mas abaixo disso tudo é possível, inclusivamente um terramoto político protagonizado pela extrema-direita.

É que as sondagens apontam para que o Alternativa para a Alemanha, a AfD de Alice Weidel, possa duplicar a votação de 2021 e chegar perto dos 20%, tornando-se assim o segundo partido mais votado.

Já a SPD, de Olaf Scholz, que havia vencido por pouco as eleições de 2021 (ligeiramente à frente da CDU), deverá passar agora para terceiro lugar, ficando próximo dos 15%, um pouco acima dos Verdes (13% nas últimas sondagens).

Na disputa estão ainda três partidos que podem ou não entrar no Bundestag, uma vez que têm de atingir 5% dos votos para ter esse direito. Os liberais do FDP faziam parte da coligação governativa e foi a sua saída que iniciou o processo que levou à necessidade de eleições antecipadas.

O Die Linke, a Esquerda, disputa parte do eleitorado com o BSW (Bündnis Sarah Wagenknecht), partido populista que nasceu de dissidentes do Die Linke e mistura posições de esquerda na economia com posições de direita em temas como a imigração, diversidade e transição climática.

Friedrich MerzLusa

Se a vitória da CDU parece relativamente segura, resta o “pequeno pormenor” de quem vai integrar o governo. A Alemanha tem uma longa tradição de governos de coligação e isso vai voltar a acontecer. Os principais candidatos a juntarem-se à CDU são o SPD e os Verdes, embora os líderes da CDU gostassem de fazer apenas uma coligação a dois.

Porém, isso vai depender do facto de os partidos mais pequenos conseguirem ou não eleger deputados. Do xadrez final dos votos se saberá se a CDU precisará de um ou de dois parceiros para o governo. Uma coisa parece estar, para já afastada: a AfD não será convidada a integrar o governo, de acordo com declarações de Friedrich Merz, que deverá ser o próximo chanceler.

CDU clara favorita à vitória

Dados compilados das várias principais sondagens

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O tabu da extrema-direita vai resistir?

Este é o grande tema destas eleições e um que contribuirá para definir, ou redefinir, aquela que tem sido a identidade coletiva alemã desde a II Guerra Mundial. A Afd deverá duplicar a sua votação, atingir o melhor resultado de sempre e poderá tornar-se o segundo partido mais votado. As conotações nazis do partido, com muitos elementos extremistas que estão na lista de vigilância das autoridades, tornam à partida impossível que partidos mais tradicionais assumam acordos com a AfD, mas esta não poderá ser simplesmente ignorada, por se ter tornado demasiado grande para tal.

Aliás, já em janeiro houve um sinal de que Merz e a CDU se aproximam cada vez mais de algumas das ideias da AfD no tema da imigração. A CDU propôs duras alterações à lei e procurou o apoio da AfD nessa votação, num movimento que gerou escândalo junto dos restantes partidos. É que isto foi visto como a quebra da “firewall à extrema-direita” na Alemanha, uma espécie de cerca sanitária tácita, até aí nunca quebrada, de não fazer qualquer tipo de acordo com a AfD.

Mesmo que os extremistas de Alice Weidel – que defende todos os pontos de vista de Donald Trump e de Viktor Orbán e que conta com o apoio declarado de Elon Musk (que alegadamente tem até usado o X para favorecer a AfD) – não tenham hipótese de chegar ao poder, o seu resultado ecoará por toda a Europa.

Alice WeidelLusa

É a economia, estúpido?

A Alemanha enfrenta uma crise existencial também no capítulo económico, que sempre foi visto como o seu ponto forte. Apertada entre uma fortíssima concorrência internacional e a subida dos custos da energia na sequência da invasão russa da Ucrânia, a economia alemã contraiu em 2023 e novamente em 2024, fenómeno que não acontecia desde o início dos anos 2000.

E, aqui, há propostas de todos os tipos, desde a descida de impostos ao abandono das obrigações ou incentivos à transição climática, passando por uma paz útil com Putin para ter energia barata. Mesmo não olhando para propostas mais radicais, há um ponto fundamental que estará no centro das atenções: o chamado “travão da dívida”, que impede que o endividamento federal estrutural líquido ultrapasse os 0,35% do PIB.

Friedrich Merz não afasta totalmente que essa regra seja revisitada, mas diz que há um grande trabalho de corte da despesa a fazer antes. O problema é que há quem defenda que a economia alemã precisa de uma política expansionista para voltar à vida, além de que não está claro como o país conseguirá respeitar esse teto e ainda assim cumprir o compromisso com a NATO de investir 2% do PIB em Defesa, anualmente.

Nesse sentido, tanto os Verdes como o SPD – os mais naturais parceiros de coligação da CDU – têm defendido essa mudança constitucional para aliviar as regras do endividamento.

Trump e a Ucrânia

Todos os principais partidos, à exceção da AfD, expressam que a Alemanha tem de continuar a apoiar a Ucrânia contra a invasão de Putin, divergindo apenas em questões de ritmo ou intensidade. Da mesma forma, têm sido praticamente unânimes nas críticas à postura internacional de Donald Trump.

Também aqui, a AfD defende o presidente norte-americano e pede uma relação mais estreita de cooperação com os Estados Unidos. JD Vance, o vice-presidente norte-americano, tem sido muito vocal no apoio à AfD, tendo reunido com Alice Weidel aquando da presença na cimeira de segurança de Munique, na qual atacou o sistema político europeu por estabelecer um “cordão sanitário” à extrema-direita.

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