Exclusivo Portugal vai ter ‘cloud’ soberana em 2027
A IP Telecom vai avançar com a montagem do centro de dados que irá albergar a 'cloud' soberana de Portugal. Sistema garante que informação e suporte ficam sempre no país.
Portugal irá dispor de uma cloud soberana, uma infraestrutura dedicada e construída no território português, operada sem equipas globais de operações e suporte. A responsabilidade pela construção caberá à IP Telecom, uma empresa detida pela Infraestruturas de Portugal, e deverá estar concluída em 2027, segundo apurou o ECO.
A cloud soberana visa garantir a autonomia estratégica tecnológica, operacional e de dados, segundo uma apresentação da IP Telecom. Ou seja, a infraestrutura garante que os dados ficam em Portugal e a operação é gerida por colaboradores em território português.
A mesma apresentação assinala ainda que a cloud permitirá oferecer “serviços de inteligência artificial generativa num ambiente controlado soberanamente, eliminando a necessidade de movimentação de dados para ajuste fino e inferência de modelos, e adequados até mesmo para os dados mais restritos”.
Além de entidades públicas, como as Forças Armadas, o objetivo é disponibilizar serviços de cloud a PME, contribuindo para que este tipo de tecnologia chegue a 75% das empresas.
A Estratégia Digital Nacional, aprovada pelo Governo em dezembro, contempla a definição de “um plano de desenvolvimento de infraestrutura de cloud soberana”, no âmbito do Grupo de Trabalho de Cloud do Conselho para o Digital para a Administração Pública. A entidade responsável é a Agência para a Modernização Administrativa e envolve, além da IP Telecom, o Centro Nacional de Cibersegurança. Segundo o calendário apresentado, o plano deverá estar concretizado este ano. A montagem deverá levar cerca de dois anos.
A soberania dos centros de dados ganhou força com a chegada de Donald Trump à Casa Branca, devido ao desalinhamento na política externa e comercial com a União Europeia. A Cloud Infrastructure Services Providers in Europe, uma associação que representa empresas do setor, divulgou na semana passada um comunicado onde defende que a Europa necessita de serviços cloud “à prova de Trump”, com infraestruturas que sejam “imunes a disrupções, acesso e potencial remoção por atores estrangeiros”. Os principais fornecedores deste tipo de tecnologia continuam, no entanto, a ser as big tech americanas.
A situação geopolítica veio (…) colocar em maior destaque a importância dos temas da cibersegurança e da segurança em geral, bem como a importância do papel de uma empresa de natureza pública como a IP Telecom, e ainda dar um destaque acrescido ao tema da resiliência das infraestruturas.
No Relatório e Contas de 2024, divulgado na sexta-feira, o presidente do conselho de administração, Miguel Cruz, assinala, a propósito dos conflitos na Ucrânia e Médio Oriente, que “a situação geopolítica veio (…) colocar em maior destaque a importância dos temas da cibersegurança e da segurança em geral, bem como a importância do papel de uma empresa de natureza pública como a IP Telecom, e ainda dar um destaque acrescido ao tema da resiliência das infraestruturas”.
Há outros países europeus a avançarem com iniciativas de cloud soberana, como a Alemanha e França. O Mónaco reclama a criação da primeira infraestrutura deste tipo na Europa, em 2021.
A IP Telecom, que nasceu com a fusão entre a REFER e a Estradas de Portugal que deu origem à Infraestruturas de Portugal, tem já três centros de processamento de dados, localizados em Lisboa, Porto e Viseu, associados à rede de infraestrutura de fibra ótica no domínio público ferroviário e no canal técnico rodoviário. Os centros têm credenciações NATO Secret e EU Secret.
Outro dos projetos que a IP Telecom tem em mãos é o Anel de Cabos Submarinos Continente-Açores-Madeira (Anel CAM), cujo levantamento do traçado provisório foi concluído em dezembro, tendo sido sondados 4.463 km de rota. Foram também já realizados os levantamentos dos locais de aterragem do cabo e definidas as seis estações de amarração. O investimento total do projeto é de 154,4 milhões, dos quais 35,5% são cofinanciados por fundos comunitários. A implementação, contratada à Alcatel Submarine Networks, prolonga-se até 2027.
A IP Telecom apresentou em 2024 um volume de negócios de 23,6 milhões de euros, mais 8,7% do que no ano anterior. O Relatório e Contas refere que o crescimento da receita resulta “essencialmente do aumento do negócio nos data centers – housing, cloud e software as a service (+822 mil euros), no Canal Técnico Rodoviário (+444 mil euros), na fibra ótica (+347 mil euros) e no Centro de Operações e Monitorização NSOC e Cibersegurança (+338 mil euros)”. O resultado operacional subiu 9,8% para os 3,6 milhões e o resultado líquido 11,4% para 2,7 milhões.
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