Conflitos militares afundam ações e agravam risco soberano, alerta o FMI

O FMI estima que os conflitos militares reduzam o retorno das ações em até 5% e aumentam significativamente o prémio de risco dos países, sendo que as economias emergentes são as mais vulneráveis.

Os riscos geopolíticos estão a emergir como uma das principais ameaças à estabilidade dos mercados financeiros globais, com impactos significativos nos preços dos ativos e na saúde macroeconómica, alerta o Fundo Monetário Internacional (FMI), num relatório publicado esta segunda-feira, sublinhando que, atualmente, “os riscos geopolíticos globais continuam elevados.”

Segundo o capítulo 2 do mais recente Global Financial Stability Report do FMI, um aumento dos principais eventos de risco geopolítico, como conflitos militares, “pode ameaçar a estabilidade macrofinanceira através de vários canais”, gerando efeitos profundos nos mercados financeiros, especialmente nas economias emergentes.

Fonte: Global Financial Stability Report do FMI.

Os analistas do FMI destacam que os preços das ações tendem a cair significativamente durante eventos de risco geopolítico. “A queda média mensal é de cerca de um ponto percentual em todos os países, embora seja muito maior em economias de mercado emergentes, com 2,5 pontos percentuais”, refere a entidade liderada por Kristalina Georgieva.

Estes impactos são ainda mais pronunciados nos casos de conflitos militares internacionais, que provocam uma redução média de cinco pontos percentuais nos retornos das ações dos mercados emergentes. A razão? Perturbações económicas severas que afetam diretamente a confiança dos investidores e as cadeias de abastecimento globais. Mas os impactos não se limitam às empresas.

O aumento dos riscos geopolíticos também afeta o setor público, com governos a enfrentarem maiores custos de financiamento devido ao aumento dos prémios de risco soberano. Após eventos geopolíticos, os prémios aumentam em média 30 pontos base nas economias avançadas e 45 pontos base nas economias emergentes, calculam os técnicos do FMI. Em mercados emergentes particularmente vulneráveis, este aumento pode ser até quatro vezes maior. “Estas tensões financeiras são especialmente significativas nas economias de mercado emergentes”, alerta o relatório.

Fonte: Global Financial Stability Report do FMI.

Os riscos geopolíticos também têm um efeito de contágio através das ligações comerciais e financeiras entre países. Por exemplo, quando um parceiro comercial importante se envolve num conflito militar internacional, “as valorizações das ações diminuem em média cerca de 2,5%”, estimam os analistas do Fundo. Este efeito é amplificado em economias com elevada dívida pública ou reservas internacionais inadequadas, reforçam ainda os especialistas.

Para mitigar os efeitos adversos destes riscos, o FMI recomenda que instituições financeiras e reguladores adotem um conjunto de medidas proativas:

  • Testes de resistência: Incorporar cenários geopolíticos em análises para avaliar a resiliência das instituições financeiras.
  • Buffers financeiros: Garantir capital e liquidez suficientes para absorver perdas potenciais.
  • Desenvolvimento de mercados: Economias emergentes devem aprofundar os seus mercados financeiros para facilitar a gestão de riscos.
  • Reservas internacionais: Manter buffers externos adequados para enfrentar choques geopolíticos.

O FMI destaca que o aumento dos riscos geopolíticos exige uma abordagem coordenada entre governos e instituições financeiras para proteger a estabilidade macroeconómica e financeira. Como sublinha o FMI no Global Financial Stability Report, “embora pareça que a economia global enfrenta regularmente eventos imprevisíveis e sem precedentes, há muito que o setor financeiro pode fazer para salvaguardar a estabilidade financeira.”

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