Portugal ataca economia da defesa com drones, aviões e veículos anti-motim

Portugal vai investir 5 mil milhões de euros na defesa e várias empresas nacionais estão a investir neste segmento. Não restam dúvidas que é "uma oportunidade" que o país não pode desperdiçar.

Num mundo conturbado, a defesa assume um papel principal e várias empresas portuguesas estão a olhar para o setor como uma “oportunidade” de negócio, sejam drones, aviões militares, veículos anti-motim, placas de proteção balística e até intercomunicadores de última geração. A Tekever, EID, Beyond Composite, Jacinto e a idD Portugal Defence não têm dúvidas que todos podem sair a ganhar numa altura que Portugal vai investir cinco mil milhões de euros na defesa até 2029.

“O setor da defesa apresenta oportunidades significativas para Portugal e para as empresas portuguesas“, assegura ao ECO, Ricardo Mendes, CEO da Tekever, referência europeia no segmento dos drones de reconhecimento. A Tekever é um exemplo de uma empresa portuguesa que desenvolveu sistemas e tecnologias avançadas de defesa, atualmente utilizados por organizações, governos e agências de segurança em todo o mundo.

O líder da empresa das Caldas da Rainha que ficou conhecida pelo seus drones serem utilizados pela força britânica na Ucrânia, assegura que “reforçar as capacidades de defesa da Europa não passa apenas por aumentar o investimento — é essencial investir com inteligência e transformar o ecossistema industrial”.

Reforçar as capacidades de defesa da Europa não passa apenas por aumentar o investimento — é essencial investir com inteligência e transformar o ecossistema industrial.

Ricardo Mendes

CEO da Tekever

Ricardo Mendes conta que, em 2019, abraçaram os primeiros grandes projetos de vigilância à escala europeia ao começarem a operar para a Agência Europeia da Segurança Marítima (EMSA), e para o governo britânico na vigilância do Canal da Mancha. “São os dois maiores projetos de drones da Europa”, assegura.

Atualmente os drones da Tekever, que podem voar até 20 horas consecutivas, monitorizam oleodutos em África “prevenindo danos causados por terrorismo, roubo e refinarias ilegais — protegendo infraestruturas energéticas críticas”.

Ricardo Mendes, CEO da Tekever

Munida com um novo financiamento de 70 milhões de euros angariados em novembro do ano passado, a Tekever emprega mais de 800 pessoas espalhadas entre os escritórios em Portugal, Reino Unido (onde inclusive já fabrica), França e EUA.

Dos aviões aos veículos anti-motim

Portugal apresentou o primeiro avião civil-militar numa feira no Brasil, a primeira aeronave projetada e fabricada em Portugal, que deverá realizar o primeiro voo em 2028. Batizada de LUS-222 é um bimotor de asa alta com porta de carga traseira projetado pelo Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto (CEiiA), a Força Aérea Portuguesa e a empresa Geosat.

O avião terá a capacidade de transportar 19 passageiros ou até duas toneladas de carga, podendo atuar em missões militares, missões de busca e salvamento e também na aviação comercial regional. A aeronave terá um alcance de até 2.100 quilómetros e poderá atingir velocidade de até 370 quilómetros por hora.

LUS-222CEIIA

Localizada na Charneca da Caparica, a EID voou também até ao Brasil para apresentar na LAAD 2025, a maior feira de Defesa e Segurança da América Latina, um sistema de intercomunicadores de última geração desenvolvido a 100% in-house.

A empresa vende sistemas integrados de comunicação para o setor da defesa em países europeus e da NATO, bem como nações da América Latina, Médio Oriente, Sudeste Asiático e Austrália.

“O reforço da capacidade militar na Europa, impulsionado pelo atual contexto internacional, traduz-se numa oportunidade significativa para a empresa expandir a sua presença e estabelecer novas parcerias estratégicas”, diz ao ECO Gregory Flippes, diretor comercial da EID.

O reforço da capacidade militar na Europa, impulsionado pelo atual contexto internacional, traduz-se numa oportunidade significativa para a empresa expandir a sua presença e estabelecer novas parcerias estratégicas.

Gregory Flippes

Diretor comercial da EID

Com sede em Canelas, Vila Nova de Gaia, a Beyond Composite desenvolve produtos para o setor da defesa, nomeadamente placas de proteção balística para serem inseridos em coletes balísticos, capacetes e escudos com proteção balística para os soldados.

A empresa, que foi fundada por investigadores da Universidade do Minho e recentemente adquirida pela Sonae Capital Industrials, continua empenhada no negócio da defesa. Fernando Cunha, CEO da Beyond Composite, conta ao ECO que estão a “desenvolver e implementar uma estratégia de investigação e desenvolvimento a curto, médio e longo prazo que passará por desenvolver produtos mais leves, com melhor performance e com novas funcionalidades, tais como monitorização do impacto balístico e proteção eletromagnética”.

O líder da empresa considera que as oportunidades estão “sobretudo na Europa, mas também na América Latina”, e que surgem “através de concursos Internacionais para aquisição destes equipamento de proteção pessoal, mas também através do desenvolvimento de parcerias locais e estratégicas”.

Fundada há 71 anos pelo bombeiro voluntário Jacinto Marques de Oliveira, a Jacinto começou a produzir, na década de 80, em parceria com a Salvador Caetano, veículos de combate a incêndio, até que no final de 2016 começaram a olhar para a defesa com outros olhos. Iniciaram o percurso na defesa com a produção de um veículo anti-motim para a GNR, um contentor para o exército português e no final do ano passado cinco veículos anti-motim para a República Dominicana.

Veículo anti-motim da JacintoJacinto

A empresa de Esmoriz, que emprega 170 pessoas e fatura 50 milhões de euros, quer estar na linha da frente da defesa e lançou oficialmente esta semana uma linha de produtos direcionados à defesa e segurança nas áreas militares e polícia.

Esperamos que esta aposta possa alavancar a entrada de uma empresa portuguesa na produção de veículos de defesa militar que muito elevaria esta indústria em Portugal”, diz ao ECO o diretor-geral, Jacinto Reis, que pertence à quarta geração da família.

A Jacinto está neste momento a disputar um concurso de 200 milhões para produzir 800 veículos para o exército argentino.

Portugal vai investir cinco mil milhões na defesa

Na abertura do Land Defence Industry Day, que decorreu esta semana no Quartel da Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, o primeiro-ministro insistiu no investimento em defesa, classificando-a como uma “prioridade”, numa altura que Portugal é o quinto país da UE que menos gasta do PIB para defesa. Consciente desta lacuna, Luís Montenegro, anunciou na quinta-feira que o Governo vai “antecipar a meta de 2% do PIB de investimento em Defesa que estava previsto até 2029″, através de um “amplo consenso político”, e “sem por em causa o Estado social e estabilidade das contas públicas”.

Sem se comprometer com prazos, o chefe do Executivo afirmou apenas que o objetivo é contribuir “para o dinamismo da indústria nacional, potenciando a capacidade exportadora”, “investir em “drones de última geração” e nos setores aeronáutico e marítimo.

Ricardo Pinheiro Alves, presidente da idD Portugal Defence, antecipa que “considerando os 2%, Portugal vai investir na defesa cinco mil milhões de euros, entre 2025 e 2029, em equipamentos e outros investimentos”, diz o líder idD Portugal Defence. “É uma oportunidade ótima para as empresas portuguesas e mesmas as próprias organizações, como a NATO ou a UE, vão investir mais”, afiança Ricardo Pinheiro Alves.

Do calçado à mecânica de precisão todos podem sair a ganhar

Luís Montenegro considera que a “indústria portuguesa pode reconfigurar-se para produzir equipamentos de defesa”, destacando que “Portugal tem excelentes condições para albergar investimentos na área da defesa”. O presidente da idD Portugal Defence corrobora a ideia do primeiro-ministro em gestão e destaca que “Portugal está bem posicionado para aproveitar as oportunidades na defesa” e que “há todas as razões para as perspetivas serem otimistas”.

 

O porta-voz da idD Portugal Defence não tem dúvidas que a defesa poderá ser uma oportunidade para setores como o “agroalimentar, que pode fornecer rações de combate, ou o têxtil e calçado, sem esquecer a mecânica de precisão, que podem fornecer peças únicas de engenharia”. “São áreas em que Portugal é muito forte, como os materiais compósitos, coletes de proteção, IA nos drones aéreos ou navais, entre outros”, salienta Pinheiro Alves, que nota que “há mais empresas com interesse no setor e a recolher informação”.

A defesa poderá ser uma oportunidade para setores como o agroalimentar, que pode fornecer rações de combate, ou o têxtil e calçado, sem esquecer a mecânica de precisão, que podem fornecer peças únicas de engenharia.

Ricardo Pinheiro Alves

Presidente da idD Portugal Defence

“Temos vindo a visitar empresas que não trabalham com a defesa, como as empresas que fornecem o setor automóvel e têm capacidade para fornecer o exército com blindadosTudo que é a parte mecânica os portugueses conseguem fazer”, conclui o líder da entidade promotora de políticas públicas para a Economia da Defesa.

“A indústria da defesa passou a ser uma prioridade“, conclui o presidente da idD Portugal Defence,

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