Na jornada do empreendedorismo, o caminho faz-se em rede

Há menos startups fundadas por mulheres e ainda poucas com poder de decisão nos fundos de investimento. Criar mais redes de apoio “entre elas” — mas não só — poderá contrariar a disparidade de género.

Da esquerda para a direita, Sara Vicente Barreto, Rita Branco e Lurdes Gramaxo.

Fez uma carreira no mundo corporativo, em lugares de chefia e, durante anos, era a única mulher. “Chegaram-me a perguntar várias vezes, ‘mas o seu marido deixa?’ E eu nos lugares de chefia da empresa. Hoje são perguntas que já não se fazem”, conta Lurdes Gramaxo. “Já não é assim. Isso é muito importante, é o que faz mover o mundo e o papel das mulheres. As mulheres verem-se na realidade, terem os role models, em que veem que podem prosseguir nas suas carreiras”, considera a partner do Bynd VC e presidente da Investors Portugal. Uma carreira que pode passar pela criação da sua própria empresa.

Os números dão conta da longa caminhada até ser atingida a paridade de género no empreendedorismo. Apenas 14% das mais de quatro mil startups nacionais são de mulheres. Nos fundos de capital de risco, no ano passado, elas eram apenas 15% dos decisores em firmas de venture capital com, pelo menos, 50 milhões de euros sob gestão, menos do que os 15,2% de um ano antes, revela o “European All In Female Founders in the VC Ecosystem”, da Pitchfork.

Em Portugal ainda falta muito de redes de mulheres. Mulheres que se ajudam, que ajudam a crescer, tiram dúvidas. Há ainda uma falta de redes mais organizadas e mais consistentes. Mas está-se a construir.

Lurdes Gramaxo

Partner do Bynd VC e presidente da Investors Portugal

Uma falta de diversidade com impacto. “Ao termos decisores [mulheres] do lado do capital de risco, temos um maior entendimento do negócio”, diz Sara Vicente Barreto, CEO advisor e angel investor. “Temos uma indústria gigante, em crescimento, de femtech, por exemplo, à volta da menopausa, de investigação biotech em torno de doenças que, historicamente, não foram tão estudadas em mulheres e que são mercados gigantes, não são nicho”, exemplifica. “Mas é preciso estar do outro lado alguém que o entenda, que não tenha tabus a falar sobre o tema e que possa ter essa conversa”, refere.

Acompanhe a conversa aqui.

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À falta de mulheres a lançar startups e à disparidade de género nos fundos, junta-se a dificuldade de obter capital. Um obstáculo para qualquer empreendedor, mas que no caso das mulheres significa que, dos 48 mil milhões de euros levantados em 2024 pelas startups na Europa em capital de risco, apenas 12% foi para startups de mulheres. “Fundos liderados por mulheres e haver mais mulheres enquanto decisores, ajuda a que todo o ecossistema de mulheres prospere. Porque há uma afinidade”, admite Rita Branco, a impact partner do fundo 3XP Global.

Fundos liderados por mulheres e haver mais mulheres enquanto decisores, ajuda a que todo o ecossistema de mulheres prospere. Porque há uma afinidade.

Rita Branco

impact partner no 3XP Global

Uma rede de apoio — até ao nível familiar — e redes de networking poderão ser fatores que ajudem a aumentar o número de mulheres no ecossistema. “A rede é só mais um ativo e não significa cunhas, mas significa acesso a oportunidades: de investimento, de parcerias, de clientes, de mentoria, de desenvolvimento pessoal”, aponta Sara Vicente Barreto. “Em Portugal ainda falta muito redes de mulheres. Mas está-se a construir”, diz Lurdes Gramaxo.

 

Depois há o tema da maternidade e da ‘solidão’ na caminhada do empreendedorismo. “O que acontece quando sou uma sole founder? É mais difícil um investidor pôr lá dinheiro, porque se é uma mulher que vai ter filhos é uma história complicada. Muitos investidores preferem negócios com cofundadores, muitos têm essa regra. Se calhar tem de haver mais tendência a haver um co-founding”, aconselha a angel investor.

O que acontece quando sou uma sole founder? É mais difícil um investidor pôr lá dinheiro, porque se é uma mulher que vai ter filhos, é uma história complicada.

Sara Vicente Barreto

CEO advisor e angel investor

E há que ir lá atrás. Mesmo ao início do túnel de entrada. “Há um ano investi numa empresa que está a criar uma comunidade de empreendedoras. Originalmente, ela [a empreendedora] queria fazer uma comunidade de empreendedoras, com a ideia de depois criar — ela vem de VC — um fundo para investir nessas mulheres. Teve que dar um passo atrás. Agora criou uma comunidade para a Aspiring Founders. Acompanha mulheres a pensar ser empreendedoras, que já têm uma ideia e estão a explorar, ou estão a trabalhar numa empresa, mas estão a desenvolver o que querem, para tentar ajudar nessa transição”, relata.

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