Da venda de software por 27 milhões às refeições de 31 milhões na Santa Casa. Os contratos dos clientes da Spinumviva com o Estado

Vários clientes da empresa de Montenegro agora revelados têm uma longa relação com o Estado português. Empresas como a ITAU e a Inetum assinaram contratos de milhões já na legislatura de Montenegro.

Antes do debate com Pedro Nuno Santos, na última quarta-feira à noite, foi divulgada uma lista atualizada com o nome de oito empresas que são clientes da empresa familiar do chefe de Governo, que está agora nas mãos dos filhos. Quem são estes oito clientes da Spinumviva e quanto ganham em contratos assinados com empresas do Estado?

A declaração de substituição entregue por Luís Montenegro na Entidade para a Transparência inclui novos nomes na lista de clientes da Spinumviva, a empresa familiar, além dos já conhecidos, como a Solverde ou a empresa de distribuição de combustíveis de Braga, para quem trabalhou na reestruturação do grupo. A ITAU, a Sogenave, os Portugalenses Transportes, a Beetsteel, a INETUM Portugal e Grupel SA são as novidades na nova declaração.

Outra novidade são duas empresas do Grupo Joaquim Barros Rodrigues e Filhos, a distribuidora de combustíveis de Braga que foi o principal cliente, em termos de faturação, da empresa para a qual Luís Montenegro fez um trabalho de consultoria de reestruturação empresarial. A Rodáreas (Felgueiras- Lousada) e a Rodáreas (Viseu) gerem áreas de serviço. Montenegro terá feito para estas empresas serviço de consultoria de reestruturação de empresa e planeamento estratégico.

Grande parte destas empresas conta com uma longa relação com o Estado, tendo faturado em torno de 100 milhões de euros desde que Luís Montenegro chegou ao cargo de primeiro-ministro.

ITAU “serve” 53 milhões de refeições ao Estado

O Instituto Técnico de Alimentação Humana (ITAU) é, dos oito novos clientes da antiga empresa de Luís Montenegro agora conhecidos, aquele que mais fatura em contratos com entidades que dependem diretamente da ação do Estado central ou com organizações de grande relevo público. Criado em 1963, o ITAU opera na área da alimentação coletiva, assegurando refeições em escolas, empresas, hospitais, lares e estabelecimentos prisionais.

Segundo o Portal Base, desde que Montenegro tomou posse como primeiro-ministro, a 2 de abril de 2024, o Estado fez 80 contratos com a ITAU, mas muitos deles foram para unidades locais de saúde, noticiou a CNN. O contrato mais valioso foi assinado com a Santa Casa da Misericórdia, num concurso de agosto de 2024, para a prestação de Serviços de fornecimento de refeições confecionadas, no valor de 31,9 milhões de euros. Apresentaram-se para este concurso a Eurest Portugal, Uniself – Sociedade de Restaurantes Públicos e Privados e a ICA – Indústria e Comércio Alimentar.

Já em 29 de janeiro de 2025, este cliente da empresa familiar do Chefe do Governo ganhou um concurso público para a prestação de serviços de exploração de cafetaria e bar a bordo dos comboios Alfa Pendular e Intercidades da CP, no valor de 12 milhões de euros, por um período de 1.003 dias, mostra o portal Base. Concorreram a este concurso a ICA – Indústria e Comércio Alimentar e a Newrail – Restauração e Serviços.

Além destes dois contratos, a ITAU saiu ainda vencedora em outros concursos públicos, contando com vários contratos com unidades de saúde local, na casa do milhão de euros. Contas feitas são mais de 53 milhões fechados com empresas com ligação ao Estado Central no espaço de um ano.

Os últimos indicadores financeiros divulgados pela empresa no seu site dizem respeito a 2022 e apontam um volume de negócios na casa dos 160 milhões de euros, com mais de 3.300 colaboradores e 29 milhões de refeições servidas por ano.

Segundo a informação partilhada pela empresa, “o ano de 2019 representou um novo capítulo na vida do ITAU, que passou a dedicar-se maioritariamente a clientes dos segmentos Saúde e Social: hospitais, clínicas, instituições sociais e residências sénior”. A estratégia para 2025 prevê a aposta na área social e da saúde, a aceleração digital e responsabilidade ambiental, mantendo o foco nas suas pessoas.

Software da Inetum fatura 140 milhões em Portugal

A multinacional Inetum é uma das empresas que integra a lista de clientes da Spinumviva divulgada esta semana. A consultora tecnológica, que em 2023 faturou cerca de 140 milhões de euros, conta com 2.700 colaboradores em Portugal, que operam nas áreas de SAP & OutSystems, Serviços de TI, Projetos de Transformação, Revenda de Valor Acrescentado e Software, é uma das empresas que tem ganho milhões em concursos públicos adjudicados por empresas ligados ao Estado.

Segundo cálculos da CNN, conseguiu 40 contratos com órgãos do Estado central desde 2 de abril de 2024, num valor total de 39.349.325 euros. O grosso deste montante foi conseguido num contrato para a aquisição de licenciamento de software e de serviços conexos, pelo Instituto de Gestão Financeira e Equipamentos da Justiça, no valor de 26.886.138,81 euros. O concurso, de 13 de fevereiro, foi disputado com a NOS e a Digibéria Information Technologies.

Com a Marinha, assinou um contrato de licenciamento de software, por 3.182.812,83 euros, por um período de 1.095 dias. Ganhou ainda um concurso de licenciamento de software ao Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA), no valor de 1,7 milhões de euros.

A empresa está no país desde os finais da década de 1990, através da Roff, ainda sob o nome de Grupo GFI. No final de 2020, com a integração de quatro empresas – Roff, Gfi, i2s e Iecisa – nasceu a Inetum Portugal. Com presença em Lisboa, Porto, Aveiro, Bragança e Covilhã, a consultora tem em Portugal um mercado estratégico para a gigante dos serviços digitais, que fatura 2,5 mil milhões de euros.

Pedro Gomes Santos é, desde outubro de 2024, o CEO em Portugal, respondendo a Manuel Garcia del Valle, CEO da Inetum Iberia & Latam, e ao CEO do grupo, Jacques Pommeraud. A empresa justifica a nomeação do gestor com o objetivo de “liderar a próxima fase da Inetum em Portugal”.

Segundo a descrição feita pela própria empresa, “a Inetum Portugal ambiciona ser o parceiro local de eleição para a transformação digital, prestando serviços de excelência e alavancando tecnologias inovadoras como a GenAI, em colaboração com parceiros estratégicos e líderes de mercado como a SAP, Microsoft, Salesforce e ServiceNow”.

Sogenave também lucrou com Estado

Segundo dados da Iberinform, a Sogenave faturou 228 milhões de euros em 2023 e registou um resultado líquido de 2,14 milhões de euros. Com 376 funcionários e oito plataformas logísticas em Lisboa, Porto, Algarve, Covilhã, Viseu e nas ilhas de São Miguel, Terceira e Madeira, a empresa de Loures reivindica ser “um dos maiores operadores nacionais em fornecimento alimentar e não alimentar” em Portugal.

Tal como outras clientes da Spinumviva, a empresa de Loures, liderada por Alexandre Bastos, também ganhou contratos de vários milhões com o Estado central. Segundo o Portal Base, o valor total dos contratos fechados com a empresa aproximam-se dos nove milhões de euros, através do fornecimento de produtos alimentares a vários órgãos do Estado.

O contrato com o valor mais elevado remonta a julho de 2024 e foi assinado com o Instituto da Segurança Social. Em causa está o fornecimento de cereais de pequeno-almoço no âmbito do Fundo Europeu de Auxílio às Pessoas Mais Carenciadas – FEAC, por 1,8 milhões, pelo período de 335 dias. Concorreram outras três entidades.

A empresa ganhou ainda outros concursos, nomeadamente um contrato de 963 mil euros com Estado-Maior do Exército, ou outro do 911,6 mil euros com o Ministério da Defesa Nacional.

Grupel fornece Marinha

João Pintado é o diretor de marketing da Grupel.Grupel

A empresa de geradores Grupel liderada por Marco Santos está hoje presente em mais de 70 países nos 5 continentes, que representam cerca de 80% do seu volume global de negócios. Segundo dados da Iberinform, a empresa com sede em Vagos, Aveiro, fechou o ano de 2023 com uma faturação superior a 35 milhões de euros.

A Grupel iniciou a sua atividade, em 1976, e é hoje “a maior unidade de produção de grupos eletrogéneos, em Portugal, operando nos 5 continentes e com mais de 50 distribuidores”, reclama a empresa no seu site.

Uma consulta pelo Portal Base mostra que esta cliente da empresa familiar de Luís Montenegro apenas ganhou um concurso com ligações ao Estado. Em causa está um contrato de 34.500 euros para fornecer à Marinha “dois grupos eletrogéneos”.

Beetsteel e Rodáreas e Portugalenses Transportes sem contratos

As outras três empresas – Beetsteel, Rodáreas e Portugalenses Transportes – reveladas por Montenegro não aparecem em contratos com o Estado desde 2 de abril do ano passado.

Com sede em Braga e fábrica industrial em Fafe, a Beetsteel é especializada na construção e instalação de estruturas metálicas, atuando ainda na área da serralharia e no mobiliário urbano, tendo fechado 2023 com volume de negócios superior a três milhões de euros, segundo a Iberinform.

Já a Portugalenses Transportes apresenta uma faturação na casa dos 25,9 milhões de euros e uma equipa de 176 pessoas. A empresa de logística e transporte conta com 20 anos de atividade.

As duas empresas Rodáreas indicadas na nova declaração de Montenegro são autónomas e com personalidade jurídica própria. Tratam-se de gestoras de postos de combustíveis que pertencem ao grupo Joaquim Barros Rodrigues.

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