BRANDS' ECO Transição sustentável traz competitividade às empresas
A conferência "Leading the Sustainable Transition", organizada pelo Santander, reuniu vários especialistas e empresários para discutirem a importância da sustentabilidade para a vida das empresas.
A sustentabilidade das empresas pode ser um fator decisivo para a sua sobrevivência no atual mercado, cada vez mais exigente com os critérios ESG. Mas como fazer a transição? O que está em risco se ela não acontecer? E quais as principais vantagens? Estas questões foram respondidas por vários especialistas e empresários que se reuniram na conferência “Leading the Sustainable Transition”, organizada pelo Santander, que decorreu na Exponor, na feira EMAF, este ano com o tema “Create a Sustainable Future”.
Na abertura da sessão, Rui Constantino, Economista Chefe do Santander Portugal, fez um enquadramento dos desafios económicos e geopolíticos do país nos últimos anos e o impacto que isso teve no comportamento das empresas, bem como nas exigências dos clientes. “Olhando para a economia portuguesa, desde 2008 já tivemos grandes crises. Em 2020 tivemos o choque da pandemia e quando estávamos a entrar para uma política monetária menos restritiva, começamos a ter guerras“, começou por dizer.
As crises pré-Covid trouxeram às empresas uma necessidade de se transformarem e inovarem, o que “permitiu à economia beneficiar de um período de crescimento sólido até à pandemia”. E, fruto dessa transformação, mesmo com o impacto trazido pela Covid-19, estas empresas conseguiram recuperar muito mais rápido do que o esperado: “Em 2021, os analistas perspetivavam que o setor do turismo e das viagens aéreas só voltasse ao que era em 2026/27, mas foi muito mais rápido. Isto porque, durante a pandemia, as empresas mantiveram níveis de investimento sólidos e isso ajudou na rápida recuperação“.

O que significa ser sustentável no âmbito empresarial?
Mas onde entra a transição sustentável nesta transformação? A verdade é que a sustentabilidade de uma empresa não está apenas no fator “E” dos critérios ESG, mas sim “em todas as funções, desde a definição organizacional e logística a montante e a jusante, na forma como os processos de trabalho são organizados, como a tecnologia é introduzida, e como a informação é distribuída nos seus processos“. “Uma empresa inovadora é aberta ao exterior, tem de ter uma enorme proximidade aos seus clientes. A inovação é olhar para as necessidades do cliente e resolver os seus problemas”, afirmou Jorge Portugal, Diretor-Geral COTEC Portugal.
Neste âmbito, António Ricardo Oliveira, Administrador da OLI – Sistemas Sanitários S.A., deu o exemplo da própria empresa, que também se abriu ao exterior e, de forma gradual, começou um processo de internacionalização: “Começamos com exportações esporádicas que se tornaram constantes a ponto de justificar ter uma equipa no terreno. A inovação é relevante no processo de internacionalização porque nos permite chegar lá fora com algo diferente e melhor do que aquilo que já existe“.
Contudo, muitas vezes, para conseguirem inovar e diferenciar-se no mercado, as empresas recorrem a empréstimos que vão decidir a sua capacidade de crescimento e, por vezes, até de sobrevivência. E ser sustentável, aqui, também tem um peso considerável.
“A transição para a sustentabilidade é essencial para aumentar a resiliência das empresas, a sua diferenciação, e será uma vantagem competitiva no acesso ao financiamento. Se uma empresa não fizer este caminho, terá o risco de ser preterida na cadeia de valor e, consequentemente, ver afetada a sua capacidade de pagar o crédito. Os bancos vão ter de fazer a análise dos dados não financeiros na avaliação de risco de crédito das empresas”, explicou Cristina Melo Antunes, Responsável de Sustentabilidade do Santander Portugal.
Mesmo sendo um caminho que já não é opcional, ainda existe muita relutância por parte de várias empresas, especialmente PME, em fazerem o seu reporte ESG. No entanto, Pedro Ginjeira do Nascimento, Secretário-Geral da Associação BRP, garante que este é um processo extremamente necessário, até para organizações de pequena dimensão, na qual a governance passa apenas por uma pessoa: “Todas as empresas têm governance, ainda que seja básico. Mas nós acreditamos que a profissionalização do governance define o crescimento da empresa, isto porque se tivermos um modelo de negócio simples, no qual tudo passa pelo dono, a empresa só vai crescer até aos limites desse dono. E é aí que a profissionalização do governance é fundamental, caso contrário estamos a limitar o crescimento da empresa”.

Como fazer a transição?
Por outro lado, mesmo quando as empresas são conscientes da importância de fazer a transição para a sustentabilidade, muitas vezes deparam-se com a dificuldade de não saber como a fazer. O que é preciso? Quais os dados que têm de reportar? Como o fazer? Jorge Portugal referiu o VSME (Voluntary Reporting Standard Explained) como um dos melhores mecanismos para responder a estas questões. “Apostamos no VSME, que pode ser um ponto de partida para uma empresa que não monitoriza pontos ESG, mas não só. Ele tem 46 indicadores mínimos para as empresas identificarem. Mesmo as empresas que não são obrigadas a reportar usam este mecanismo para fazerem reporting aos seus clientes e criarem possibilidades de transformar o seu negócio“.
“Temos de saber transmitir os nossos pontos fortes e fracos. E aqui é muito importante a transparência. Há, por isso, a necessidade de os bancos recolherem dados financeiros, mas também dados não financeiros e, com esse objetivo, os bancos juntaram-se todos em volta da SIBS para que as empresas que têm mais do que um banco pudessem responder a apenas um questionário sobre os seus dados não financeiros. Preenchem o questionário apenas uma vez e serve para todos os bancos a que quiserem dar acesso. Isto facilita o financiamento“, acrescentou Cristina Melo Antunes.
A OLI foi uma das empresas que preencheu esse questionário e António Ricardo Oliveira parabenizou a iniciativa: “Nós participamos no questionário da SIBS e foi uma experiência positiva. Tínhamos receio de publicar esses dados e começar a receber questionários de todos os bancos, mas não. Por isso, acho que foi bom se juntarem porque é mais fácil para as empresas“. Este reporte, apesar de ter começado por pressão de clientes internacionais, é agora algo que “flui de forma natural” dentro da empresa, que já tem como objetivo atingir a NET Zero em 2030.
Com o objetivo de ajudar todas as empresas a chegarem a este processo “natural” de reporting, Pedro Ginjeira do Nascimento apresentou o programa que a BRP criou “para as PME profissionalizarem o seu governance”: “Criamos um pequeno manual que explica de forma simples o que é o governance, uma app que permite fazer uma autoavaliação de onde a empresa está, como se compara, e, depois, uma bolsa de conselheiros de quadros de topo das nossas empresas, que estão disponíveis para apoiar pro bono as empresas“. O objetivo é perceber que a sustentabilidade significa garantir que a empresa vai continuar no mercado. “Significa perceber como gerimos o risco, como gerimos pessoas“, concluiu.
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