Trump e Xi acordam retoma de vistos para estudantes e exportações de terras raras

  • Lusa e ECO
  • 6 Junho 2025

Trump assegurou ao homólogo chinês que EUA "adoram receber estudantes chineses" e disse que Xi lhe garantiu retoma em breve das importações de minerais de terras raras provenientes da China.

Os Estados Unidos e a China sinalizaram uma reversão do bloqueio de vistos para estudantes chineses nos EUA e a retoma das exportações chinesas de minerais de terras raras, após um telefonema entre os líderes dos dois países.

De acordo com um comunicado divulgado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, o Presidente norte-americano, Donald Trump, assegurou o homólogo chinês, Xi Jinping, que os EUA “adoram receber estudantes chineses”, sinalizando o fim do bloqueio imposto nas últimas semanas, medida que Pequim considerou “discriminatória” e uma “violação” do acordo comercial provisório negociado em Genebra, no mês passado.

Trump disse que Xi lhe garantiu que as importações de minerais de terras raras provenientes da China seriam retomadas em breve, apesar de o comunicado das autoridades chinesas não mencionar esse ponto.

“Os chineses cumprem sempre as suas promessas e transformam as ações em resultados. Uma vez alcançado um consenso, ambas as partes devem respeitá-lo. Os EUA devem encarar, com realismo, os progressos alcançados e revogar as medidas negativas tomadas contra a China”, declarou Xi a Trump, segundo a nota emitida pela diplomacia chinesa.

Esta semana, o ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, acusou Washington de violar o acordo, durante um encontro com o embaixador norte-americano em Pequim. Criticou o bloqueio de vistos para estudantes chineses e as restrições à venda de semicondutores e do software utilizado no desenvolvimento desses componentes, como obstáculos significativos à capacidade de produção de alta tecnologia.

Nenhuma das partes fez referência a este segundo ponto, que Pequim considera um ataque direto às suas ambições tecnológicas. Os semicondutores são componentes essenciais para a produção de sistemas de inteligência artificial e outras tecnologias emergentes.

O acordo alcançado em Genebra permitiu a suspensão temporária das tarifas de 125% impostas por Pequim às importações oriundas dos EUA e de 145% aplicadas pelos EUA sobre bens chineses. Ambos os líderes concordaram com a realização de uma reunião entre os dois países para prosseguir as negociações.

Segundo Trump, a delegação dos EUA será composta pelo secretário do Tesouro, Scott Bessent, o secretário do Comércio, Howard Lutnick, e Jamieson Greer, representante comercial dos Estados Unidos, estando ainda por definir a data e o local do encontro. Trump referiu ainda que Xi o convidou, bem como à primeira-dama Melania Trump, para visitar a China — convite que o líder norte-americano retribuiu.

A conversa entre os dois líderes teve lugar após dados oficiais indicarem uma diminuição acentuada do défice comercial dos EUA em abril, para o nível mais baixo desde 2023, devido à queda nas importações e ao aumento das exportações.

As importações registaram uma queda recorde de 16,3%, impulsionada por uma redução significativa nas compras à China, enquanto as exportações subiram 3%, contribuindo para a diminuição do défice.

As importações provenientes da China caíram para 25,4 mil milhões de dólares (21,5 mil milhões de euros), o valor mais baixo desde março de 2020, quando a pandemia afetou o comércio global. Já as exportações dos EUA para a China também recuaram, atingindo 8,2 mil milhões de dólares (7,1 mil milhões de euros) — o valor mais baixo em mais de quatro anos.

Telefonema de Trump a Xi mostra “ansiedade” dos EUA

A imprensa oficial de Pequim escreveu esta sexta-feira que o telefonema entre Xi Jinping e Donald Trump vai ter “um peso significativo” na resolução de divergências, destacando a “ansiedade” dos EUA e a “determinação” da China “em não ceder”.

“O facto de o telefonema ter sido feito a pedido dos EUA mostra que é a China que está em vantagem e que existe crescente ansiedade em Washington”, disse Lu Xiang, especialista da Academia Chinesa de Ciências Sociais, citado pelo ao Global Times, jornal oficial do Partido Comunista Chinês.

A imprensa oficial chinesa avançou que a conversa estava a decorrer antes de o próprio Trump a ter anunciado na sua rede social Truth Social, sublinhando que tinha sido o republicano a solicitá-la. De acordo com Lu, Xi Jinping enviou a Trump uma mensagem clara: que a China “honra e respeita o que foi acordado” e que é Washington que deve “enfrentar a realidade e tomar decisões racionais”.

O líder chinês pediu ao seu homólogo norte-americano que “aproveite ao máximo” o mecanismo de diálogo económico e comercial estabelecido no mês passado entre os dois países em Genebra, embora tenha sublinhado que devem “tratar-se de forma igual, respeitar as preocupações de cada um e procurar resultados mutuamente benéficos”.

“Agora que existe um consenso, ambas as partes devem respeitá-lo. A China fez a sua parte após as negociações de Genebra. Os EUA devem reconhecer os progressos efetuados e deixar de tomar medidas negativas contra a China”, afirmou.

Em maio, os dois países acordaram numa redução tarifária mútua, embora nos últimos dias Pequim tenha acusado Washington de não ter honrado o acordo, ao aplicar medidas de “supressão extrema”, como o controlo das exportações de semicondutores e o cancelamento de vistos para estudantes chineses.

Os EUA acusaram a China de bloquear novas licenças de exportação de terras raras – Pequim controla 70% do mercado mundial – e de outros componentes essenciais para o fabrico de semicondutores e veículos elétricos, argumentando que as restrições de Pequim à venda destes materiais críticos constituíam uma violação das tréguas de Genebra.

Alguns analistas apontam para “estrangulamentos burocráticos” face à “enchente de pedidos” para obter as autorizações agora necessárias para importar terras raras da China, enquanto outros argumentam que Pequim ou compreende que não fazem parte do acordo de Genebra ou simplesmente não está disposta a abdicar dessa carta, pelo menos enquanto as negociações continuarem.

“Não deve haver mais dúvidas sobre a complexidade dos produtos de terras raras”, disse Trump no Truth Social após o telefonema, sem entrar em detalhes.

Para Lu Xiang, os Estados Unidos “devem entender que correm o risco de se prejudicar” e, neste momento, “devem também estar conscientes da complexidade da desvinculação económica com a China”. “A China quer falar, mas não fará concessões sob pressão. A notícia positiva é que, ao conversarem, os dois líderes terão conseguido compreender melhor as principais preocupações um do outro na gestão das suas diferenças, o que ajudará a trazer mais estabilidade à relação bilateral”, acrescentou.

Li Haidong, professor da Universidade de Negócios Estrangeiros da China, também salientou que estes contactos são “vitais para abrir caminho” para retomar as negociações. “Washington tem sido incoerente, enquanto Pequim tem mantido uma estratégia clara e coerente”, acrescentou o especialista, para quem “a China não tem qualquer intenção de se afastar dos Estados Unidos”, mas tenciona dialogar em pé de igualdade.

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