Incerteza na ProSieben um mês após compra pelos italianos MFE que estão a negociar entrada na Impresa
O grupo MFE está a negociar com a Impresa, dona da SIC, uma eventual compra do grupo. Já adquiriu uma participação maioritária na alemã e endividada ProSieben, mas o rumo ainda está por definir.
A ProSieben, segunda maior televisão privada alemã, onde os italianos MFE, em negociações com a Impresa, passaram a ter uma participação maioritária há um mês, continua sem saber o futuro dos trabalhadores ou linha editorial a seguir.
O grupo MFE – MediaForEurope está a negociar com a Impresa, dona da SIC e do Expresso, uma eventual entrada no grupo, mas até ao momento não há acordo fechado.
A recente aquisição da alemã ProSieben – das últimas aquisições do grupo MFE – foi seguida muito de perto pelo Governo alemão, de acordo com os media locais.
No final de julho, o ministro da Cultura alemão, Wolfram Weimer, expressou a sua preocupação à Der Spiegel, convidando o presidente executivo (CEO) da MFE, Pier Silvio Berlusconi, para uma conversa na chancelaria sobre o futuro da segunda maior emissora privada de televisão do país.
“A minha preocupação prende-se com a questão de saber se a independência jornalística e económica será preservada mesmo após uma mudança de propriedade“, revelou o governante, na altura.
A garantia surgiu mesmo antes de finalizada a aquisição, mas não convenceu todos. “Não pretendemos um controlo total, mas sim uma flexibilidade que nos permita definir uma direção clara com base numa visão partilhada“, assumiu Pier Silvio Berlusconi, realçando o mesmo compromisso ao Governo alemão.
A MFE garante querer preservar a independência editorial e a identidade nacional da ProSiebenSat.1, com conteúdos locais, depois de ter alcançado uma maioria de três quartos (75,61%), que lhe confere controlo e influência, mas para já continua a incerteza.
A Associação Alemã de Jornalistas (DJV) alertou recentemente para o risco de a emissora alemã ser gradualmente influenciada pela linha populista de Berlusconi e para a perda de empregos. A MFE não oferece qualquer garantia de que a diversidade mediática e o jornalismo crítico continuem, apontou Mica Beuster, presidente federal da DJV.
O Centro para o Pluralismo e a Liberdade dos media confirma que os laços estreitos da família Berlusconi com a política permanecem mesmo depois da morte de Sílvio Berlusconi. O partido populista de direita Forza Itália, atualmente parte da maioria do governo, continua a receber financiamento da família.
A ProSiebenSat.1 está altamente endividada: apresentou resultados operacionais negativos recorde em 2023 e resultados positivos marginais em 2024. Na primavera, o grupo anunciou a eliminação de cerca de 430 postos de trabalho devido à recente queda nos negócios.
“Os cortes de postos de trabalho serão realizados de forma socialmente responsável, através de um programa de despedimento voluntário. A empresa chegou a acordo sobre esta questão em conversações com os representantes dos trabalhadores”, pode ler-se na página oficial.
A MFE começou a investir na ProSiebenSat.1 em 2019. A Oferta Pública de Aquisição (OPA) foi lançada em março deste ano e o processo terminou em setembro. A operação tem uma avaliação implícita do grupo alemão em mais de 1,8 mil milhões de euros, tendo a oferta incluído uma parte em dinheiro e outra em ações da MFE.
Com maioria e controlo, a MFE fortalece a sua presença numa região muito importante da Europa de língua alemã (Alemanha, Áustria, Suíça), o que expande consideravelmente a sua base de audiência e potencial receita publicitária.
Em termos estratégicos, o objetivo passa por criar um grande grupo europeu de televisão gratuita, financiada por publicidade, para melhor competir com gigantes de streaming e plataformas digitais.
“A MFE terminou o seu 10.º semestre consecutivo com resultados positivos e um crescimento contínuo nos lucros. Estes resultados, somados ao nosso trabalho, dão-nos a estabilidade necessária para enfrentar o desafio de nos tornarmos o principal operador de TV e media da Europa”, afirmou o CEO da MFE, no comunicado de resultados do primeiro semestre, no final de setembro.
Entre janeiro e junho, o lucro subiu 24,4% homólogos para 130,2 milhões de euros, com receitas consolidadas de 1.436,8 milhões de euros, menos 2,7% do que um ano antes. O grupo tem como acionista maioritário a Fininvest, detida pela família do antigo primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi.
A Fininvest tem atividade em vários setores em Itália: telecomunicações, media – a editora Mondadori e o grupo de televisão Mediaste -, banca, como também no desporto, com o clube de futebol Monza A.C.
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