É oficial. Italianos entram no capital da Impresa e ficam com participação de 32,9% por 17,3 milhões
Os italianos da MFE são os novos acionistas do grupo dono da SIC e do Expresso. A entrada é feita com uma posição minoritária através de uma aumento de capital e evita uma OPA.
A Impresa, dona da SIC e do Expresso, tem novos acionistas. Em breve, à Mediaset Itália, Mediaset Espanha e ProSeibenSat.1 vai juntar-se a participação na Impresa no grupo MFE. O controlo do grupo fundado por Francisco Pinto Balsemão, e que nasceu com o Expresso, passa assim a ter como segundo maior acionista o grupo italiano Media For Europe, fundado por Silvio Berlusconi, que tem como desafio tornar-se o principal grupo de media da Europa.
Depois de avanços e recuos, e como avançou o ECO/+M, a operação será feita por aumento de capital na empresa cotada, a Impresa, com a entrada dos italianos com uma posição acionista de 32,934%, o que pode dispensar a obrigação de uma OPA. O aumento de capital é de 17,325 milhões e será subscrito na íntegra pela MFE. Francisco Pedro Balsemão mantém-se como CEO.
Após a entrada do novo acionista, e de acordo com o acordo conhecido, o controlo da Impresa continuará a ser exercido pela Impreger, que passará a deter 33,7% do grupo, e cuja acionista maioritária é a Balseger, por sua vez detida em partes iguais pelos cinco filhos de Francisco Pinto Balsemão.
“O Acordo de Investimento prevê ainda a celebração de um acordo parassocial entre a MFE e a Impreger (o “Acordo Parassocial”) relativamente ao futuro governo da Impresa e que atribui direitos à MFE em linha com a sua participação e prevê a continuidade de controlo por parte da Impreger“, lê-se no comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
A plena produção de efeitos do acordo de investimento assinado esta quarta-feira depende agora da confirmação, por parte da CMVM, de que a MFE não terá a obrigação de lançamento de uma OPA, da confirmação, por parte da banca, de que o acordo não determina o acionamento de cláusulas de resolução ou de vencimento antecipado em contratos de financiamento celebrados pela Impresa e da aprovação, pela Assembleia Geral da Sociedade (a ser convocada no prazo de 5 dias úteis), de autorização ao Conselho de Administração da Sociedade para deliberar e realizar o aumento de capital.
“Esta parceria, a concretizar-se, colocará a MFE como um acionista relevante e um parceiro da Impresa, potenciando a possibilidade de a Sociedade reforçar a posição no setor dos media em Portugal e criando uma base sólida para acelerar a execução do plano estratégico da mesma, em particular no que respeita ao seu crescimento, à expansão da atividade digital e ao potencial desenvolvimento de novas áreas de negócio”, escreve o grupo no comunicado ao mercado.
“A Impresa prosseguirá a sua atividade no curso normal dos negócios, em termos consistentes com o seu plano estratégico e com as obrigações de informação ao mercado“, prossegue o grupo.
“Estamos muito orgulhosos com esta parceria, já que a MFE é um grupo de media líder na Europa, com quem partilhamos uma visão de futuro baseado na produção de conteúdos de qualidade, na proximidade aos espectadores e na inovação tecnológica. A minha família e eu gostaríamos de agradecer a Pier Silvio Berlusconi, à sua família e a toda a equipa da MFE pela confiança e pelo espírito de colaboração com que este acordo foi construído“, escreve Francisco Pedro Balsemão, CEO da Impresa, em nota enviada às redações.
“A Impresa traz para este projeto a sua experiência ímpar, os seus valores reconhecidos de liberdade e independência jornalística em Portugal e a sua ligação única com o público português. Estamos convictos de que teremos a capacidade de desenvolver sinergias tangíveis e duradouras que beneficiem todas as partes envolvidas, em particular no que respeita ao seu crescimento, à expansão da atividade digital e ao potencial desenvolvimento de novas áreas de negócio”, prossegue.
“O legado de Francisco Pinto Balsemão na formação do panorama mediático português é muito reconhecido e é altamente considerado pela MFE. O envolvimento contínuo da família Balsemão será fundamental para impulsionar a direção estratégica da Impresa e enfrentar os desafios que se avizinham”, acrescenta por sua vez a MFE, em comunicado enviado no mercado italiano.
Fundado em 1980 por Silvio Berlusconi, o grupo Mediaset é um dos principais grupos de media da Europa, com presença em televisão, produção audiovisual, publicidade e plataformas digitais.
O início ocorreu com o lançamento do Canale 5 em 1980, seguido de Italia 1 e Rete 4, desafiando a emissora estatal RAI e consolidando uma posição de liderança na televisão italiana. Nas décadas seguintes, o grupo expandiu canais temáticos e produção própria, tornando-se uma referência em termos de conteúdos e também na publicidade.
A estrutura acionista sempre foi marcada pelo controlo familiar, com a holding Fininvest a manter cerca de 33,8% do capital e controlo do grupo. Em 2021, a criação da MFE – MediaForEurope consolidou Mediaset Itália e Mediaset España, permitindo sinergias nos dois mercados.
A expansão internacional destacou-se em Espanha, com a criação do Mediaset España em 2009, dono de canais como Telecinco e Cuatro. Espanha representa hoje cerca de 27% da audiência comercial do grupo, considerando o público entre os 18 e 54, enquanto em Itália o grupo lidera o mercado publicitário com 40,9% de quota de marcado.
Financeiramente, a MFE — cotada nas bolsas de Milão e Madrid — mantém resultados sólidos. Em 2024, a receita consolidada atingiu 2,95 mil milhões de euros, com lucro 137,9 milhões de euros. Já este ano, o grupo liderado por Píer Silvio Berlusconi registou um lucro líquido de 51,4 milhões de euros. A dívida líquida consolidada caiu para 460,9 milhões de euros, uma queda de 33,3% em relação aos 691,5 milhões no final de 2024, enquanto a dívida financeira líquida ajustada caiu para 340,7 milhões.
Já em setembro, o grupo controlado pela família Berlusconi – cuja história foi marcada por alguma controvérsia, sobretudo durante os mandatos de Silvio Berlusconi, primeiro-ministro de Itália em vários mandatos (1994–1995, 2001–2006, 2008–2011) e que faleceu em 2023 — anunciou que garantiu mais de 75% da emissora alemã ProSiebenSat.1 após uma aquisição que a prepara para se tornar a maior emissora aberta da Europa.
A MFE vê a expansão europeia como crucial, sendo a escala decisiva para competir com players internacionais como a Netflix ou o YouTube, aponta a Reuters.
A Impresa confirmou as negociações num comunicado enviado na madrugada de 27 de setembro à CMVM. “Face às notícias divulgadas na comunicação social, a Impresa informa que lhe foi comunicado pelo seu acionista maioritário que este se encontra a desenvolver contactos, em exclusividade, com o grupo MFE com vista à avaliação de potenciais operações societárias para a aquisição de uma participação relevante na Impresa”, refere, “embora não exista, nesta data, qualquer acordo vinculativo entre o acionista e a MFE para o efeito”, dizia na altura.
António Horta Osório entrou na administração da Impresa com esse objetivo, saiu sem o cumprir, e entrou outra figura central neste processo. Pedro Barreto, que tinha sido administrador do BPI — banco que suportou ao longo de décadas o grupo Impresa –, substitui Horta Osório e inicia um roadshow junto de grupos familiares portugueses com um plano para investirem na Impreger, a holding da família Balsemão que controla ligeiramente acima de 50% da Impresa SGPS, sociedade cotada que, por sua vez, controla a SIC e o Expresso.
O plano tinha a ambição de permitir uma recapitalização, mas mantendo a atual estrutura de poder, liderada pela família Balsemão.
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