Impresa e MFE, a anatomia de um negócio

Carla Borges Ferreira,

A conversa com a MFE começou há mais de dois anos. Após vários avanços e recuos, o acordo está fechado, com os italianos a injetarem 17,3 milhões, que lhes dá uma participação de 32,9% na Impresa.

ECO Fast
  • A Media For Europe (MFE) anunciou a sua entrada no capital da Impresa, tornando-se o segundo maior acionista com 32,9% após um aumento de capital de 17,325 milhões de euros.
  • O controlo da Impresa continuará com a Impreger, que detém 33,7% e é controlada pela família Balsemão, mantendo a estrutura de poder existente.
  • A MFE vê a expansão em Portugal como parte de uma estratégia para competir com gigantes internacionais, reforçando a proximidade entre os mercados publicitário de Espanha e Portugal.
Pontos-chave gerados por IA, com edição jornalística.

Dois meses. Foi exatamente este o período de tempo que decorreu desde que, a 26 de setembro, o ECO/+M avançou que a Impresa estava a negociar a entrada da Media For Europe (MFE) no capital do grupo e ontem, dia 26 de novembro, dia em que o acordo foi anunciado aos mercados, em Portugal e Itália. Com um aumento de capital de 17,325 milhões inteiramente subscrito pelo grupo liderado por Pier Silvio Berlusconi, a MFE torna-se o segundo maior acionista da Impresa, com uma participação de 32,9%. O controlo da dona da SIC e do Expresso continuará a ser exercido pela Impreger — que passará a deter 33,7% do grupo, e cuja acionista maioritária é a Balseger, por sua vez detida em partes iguais pelos cinco filhos de Francisco Pinto Balsemão, após o desaparecimento deste, em outubro — dizem a uma só voz os dois grupos.

“A partir de hoje, trabalharemos juntos para impulsionar novos desenvolvimentos, combinando espírito empresarial com pragmatismo. Iniciaremos de imediato colaborações operacionais, incluindo na venda de publicidade e na plataforma digital”, avançava na quarta-feira aos mercados o CEO do grupo italiano, e já presente em Espanha, Alemanha, Áustria, Suíça.

A MFE vê a expansão europeia como crucial, sendo a escala decisiva para competir com players internacionais como a Netflix ou o YouTube, e Portugal faz agora parte da estratégia de escalada. “Os grandes investidores publicitários consideram Espanha e Portugal como um único mercado e, graças a esta nova parceria com a Impresa e a Mediaset España, iremos reforçar ainda mais o nosso posicionamento no mercado europeu“, apontava na quarta-feira Pier Silvio Berlusconi.

Os dois grupos esperam que a operação se concretize no prazo de 45 a 60 dias. Para tal, o aumento de capital da Impresa terá de ser aprovado — nos próximos cinco dias será marcada uma assembleia geral, para dar poderes ao conselho de administração para deliberar e realizar o aumento de capital –, a banca terá de confirmar que a celebração do acordo não determina o acionamento de cláusulas de resolução ou de vencimento antecipado em contratos de financiamento e a CMVM terá também de confirmar que esta participação, e o acordo parassocial associado, não implica a obrigatoriedade de lançar uma oferta publica de aquisição sobre a totalidade das ações do grupo. Este, sabe o ECO, terá sido um ponto fulcral das negociações nas últimas semana e condição para que o acordo fosse fechado.

Ultrapassadas estas três condições, com o parassocial ainda por desvendar e não se sabendo como se consubstanciará a participação da MFE na gestão e no dia-a-dia do grupo, o que parece certo neste momento é que a Impresa continuará a ter como CEO Francisco Pedro Balsemão e que Espanha e Portugal se tornam mais próximas, nomeadamente para o mercado publicitário.

Este, já em setembro tinha aplaudido o negócio, com três agências de meios a considerarem, ainda sem serem conhecidos os termos da operação, uma notícia excelente para a indústria, para a Impresa e para o mercado e a dizerem que “tudo o que traga solidez a este setor deve ser aplaudido”. Ora, tratando-se de um grande e aparentemente sólido grupo de media, as portas parecem então estar abertas, agora com escala ibérica.

Chega assim ao fim um impasse que se prolonga há vários meses. Ou, pelo menos, este capítulo. Aliás, a MFE terá sido apresentada à Impresa por António Horta Osório, que entrou na administração da Impresa com o objetivo de trazer novos acionistas para o grupo.

Entrou então, há 13 meses, outra figura central neste processo, Pedro Barreto, que tinha sido administrador do BPI — banco que suportou ao longo de décadas o grupo Impresa –, que iniciou um roadshow junto de grupos familiares portugueses com um plano para investirem na Impreger, a holding da família Balsemão que controla ligeiramente acima de 50% da Impresa SGPS, sociedade cotada que, por sua vez, controla a SIC e o Expresso. O plano tinha a ambição de permitir uma recapitalização, mas mantendo a atual estrutura de poder, liderada pela família Balsemão.

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