Só as famílias mais carenciadas estão a perder poder de compra

O Banco de Portugal estima que as famílias portuguesas vão registar um aumento do seu poder de compra até 2023. Sorte diferente têm as famílias mais carenciadas que vão perder 1,6% da sua riqueza.

O custo de vida está a aumentar significativamente desde desde o início do ano. Porém, não afeta da mesma forma e com o mesmo impacto todas as famílias, assinala o Banco de Portugal no Boletim Económico de dezembro. E apesar de as famílias com rendimentos mais baixos serem as que registam um maior aumento percentual do seu rendimento disponível em 2022 e 2023, são as únicas que perdem poder de compra neste período.

As últimas previsões do banco central apontam para uma contínua subida dos preços da generalidade dos produtos no próximo ano, com a taxa de inflação média a situar-se nos 5,3% depois de fechar este ano nos 8,1%.

No mesmo sentido seguirão as taxas de juro: se hoje a Euribor a 3 meses está nos 2%, os contratos de futuros apontam para uma taxa perto dos 3% em julho. Num crédito à habitação a 30 anos indexado à taxa Euribor a 3 meses com um spread de 1%, esta situação traduz-se num aumento da prestação de 57 euros por cada 100 mil euros de financiamento.

Estas situações levam o Banco de Portugal a reconhecer que “a subida da inflação e das taxas de juro aumentam a pressão sobre os orçamentos das famílias.” No entanto, no Boletim Económico de dezembro, o banco central liderado por Mário Centeno refere que “estes choques têm impactos diferenciados nas famílias, em função das suas características socioeconómicas.”

Neste contexto, apesar de as famílias com rendimentos mais baixos (inferior a 26 mil euros por ano) e com créditos bancários à taxa variável (sobretudo com crédito à habitação) serem as que registam um maior aumento percentual do seu rendimento disponível em 2022 e 2023 (cerca de 7,5% ao ano face a 5,7% da média das famílias), são as únicas que perdem poder de compra neste período.

Segundo cálculos do Banco de Portugal, o poder de compra (rendimento disponível menos o agregado de despesas em bens alimentares e energéticos e prestações com créditos) das famílias mais carenciadas vai registar uma queda média de 1,6% por ano entre 2022 e 2023, que compara com um aumento de 1% do poder de compra das famílias portuguesas.

“Os resultados do exercício sugerem que a generalidade das famílias consegue manter um volume de consumo de bens essenciais igual ao de 2021 e satisfazer o serviço da dívida a partir do rendimento corrente, sem pôr em causa outro tipo de despesas”, refere o Banco de Portugal no boletim Económico de dezembro.

Pressão sobre o poder de compra das famílias

Fonte: Banco de Portugal.

O principal motivo de corrosão do poder de compra das famílias é a subida do preço da generalidade dos produtos: os cálculos dos técnicos do banco central apontam para que as famílias com menos de 26 mil euros de rendimento por ano tenham de acomodar no seu orçamento familiar uma taxa de inflação média anual de 6,8% (entre 2022 e 2023), que compara com uma taxa de inflação média das famílias portuguesas de 3,5% neste período.

A somar ao aumento do custo do cabaz alimentar e energético é ainda preciso contabilizar a subida das taxas de juro, que consome, em média, mais 2,3% por ano do rendimento dos agregados familiares mais carenciados, 1,6 vezes acima do que sucede com a média das famílias portuguesas.

Isto significa que, o aumento esperado do rendimento entre 2022 e 2023 para as famílias mais carenciadas não cobre o aumento do preço das despesas de bens essenciais e o aumento das prestações com créditos bancários.

“Ainda assim, o valor da diferença é reduzido, não ultrapassando 20% do valor global de que as famílias terão beneficiado, em média, com as moratórias e a taxa de esforço média destas famílias mantém-se abaixo de 25%, com um aumento em 2023 face a 2021 de 1,7 pontos percentuais”, conclui o Banco de Portugal no Boletim de dezembro.

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