Cibersegurança e tecnologia: a abordagem britânica
Embaixador do Reino Unido em Portugal explica a estratégia britânica para promover a cibersegurança, bem como a adaptação a tecnologias em crescimento, como a inteligência artificial.
Em março deste ano, o Governo Britânico publicou uma versão atualizada da sua Análise Integrada de Segurança, Defesa, Desenvolvimento e Política Externa. Intitulada “Responder a um mundo mais disputado e volátil”, esta revisão de 2023 ajusta a visão de longo prazo do Reino Unido, no contexto de mudanças significativas no cenário geopolítico — sobretudo a guerra brutal da Rússia contra a Ucrânia.
Um aspeto central da visão do Reino Unido é o foco na tecnologia e na ciência, que tem um papel crítico para a nossa segurança nacional e abre oportunidades de inovação e liderança.
O Reino Unido vai reforçar a resiliência nestas áreas a longo prazo, investindo, até 2024/25, 20 mil milhões de libras por ano em investigação e desenvolvimento, e reorganizando as estruturas de governo para permitir um maior enfoque e dinamismo nesta área crítica para a nossa prosperidade e segurança futuras.
Recorrendo aos seus pontos fortes em áreas como cibersegurança, computação quântica e inteligência artificial (IA), o Reino Unido procurará trabalhar com parceiros internacionais, como Portugal, para enfrentar os desafios globais, reforçar a segurança e resiliência, fortalecer a democracia e impulsionar a prosperidade.
Na base da nossa Análise Integrada, está uma série de subestratégias que definem a nossa visão de forma mais clara. A Estratégia Nacional de Cibersegurança do Reino Unido, por exemplo, que inspirou o lançamento de um Diálogo Cibernético Reino Unido-Portugal em 2022, com a realização de um seminário que juntou indústria, decisores políticos, académicos e especialistas em segurança para discutir a abordagem global e holística dessa estratégia.
No início deste ano aprofundámos este debate, através de dois eventos para i) explorar os cabos submarinos como infraestrutura crítica para o ciberespaço, para a economia digital e o normal funcionamento das nossas sociedades modernas e; ii) debater o papel das tecnologias quânticas para o Espaço. Estas discussões bilaterais ilustraram a necessidade de uma ampla colaboração, entre governos, empresas e universidades, tanto a nível interno como internacional. Realçaram também a importância de um equilíbrio político e regulatório que permita a inovação, promova a disseminação de tecnologias emergentes na indústria e impulsione o progresso global e, ao mesmo tempo, preserve a nossa segurança partilhada.
Outro vetor crucial da abordagem do Reino Unido é a nossa Estratégia Internacional para a Tecnologia, publicada em março. Esta estratégia assenta em quatro princípios fundamentais – abertura, responsabilidade, segurança e resiliência – e ajudar-nos-á a moldar as futuras tecnologias e um modelo de governação global de uma forma que impulsione o progresso tecnológico e reforce a segurança mundial.
A governação continua a ser crucial, uma vez que a nossa capacidade de orientar a tecnologia dependerá fortemente das regras e normas que implementarmos. Trabalhando com países que partilham as mesmas ideias, como Portugal, queremos conceber regras e regulamentos de vanguarda a nível global para criar garantias e promover o consenso entre os parceiros. Embora este artigo tenha sido (ainda) escrito por mão humana, a importância das regras e padrões é particularmente relevante em áreas vibrantes das tecnologias emergentes, como a IA. O rápido desenvolvimento de novas soluções como o ChatGPT e outras ferramentas de aprendizagem de línguas, abre um mundo de novas oportunidades, mas também levanta dúvidas e coloca desafios relacionados com a privacidade, a propriedade intelectual e a partilha de dados.
O Reino Unido tem a sorte de beneficiar de uma posição muito privilegiada. É o principal destino de investimento em tecnologia da Europa e acolhe o quarto maior número de unicórnios do setor da tecnologia no mundo. O Reino Unido também tem quatro das dez melhores universidades do mundo e ocupa o quarto lugar no Índice Global de Inovação, contando portanto com um setor tecnológico em expansão e um mundo académico de excelência a nível mundial para construir e implementar a sua visão, proporcionar liderança de pensamento, enfrentar desafios e concretizar oportunidades globais para reforçar a prosperidade e a segurança nas nossas sociedades. Desenvolver uma forte relação entre o Reino Unido e Portugal nestas áreas continuará a ser uma prioridade para a minha equipa na Embaixada.
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