BRANDS' ECO Melhor método de poupança: a prazo ou sem prazo?
Miguel Ferreira, professor na Nova SBE, e Miguel Costa Santos, CEO da Corum Portugal, discutem em podcast quais os melhores métodos de poupança para as famílias portuguesas.
Numa era de desafios financeiros e metas económicas, a procura por métodos de poupança eficazes torna-se uma missão vital para as famílias portuguesas. No universo das opções, surge a dicotomia entre a poupança a prazo e sem prazo, que desafia a sabedoria convencional e coloca em destaque a eterna questão: qual destas estratégias oferece o caminho mais sólido para a estabilidade financeira?
Para responder a esta e outras questões, Miguel Ferreira, professor na Nova SBE, e Miguel Santos, CEO da Corum Portugal, juntaram-se num podcast, onde exploraram os maiores desafios de poupança vividos pelos portugueses, as razões para isso acontecer e as formas de colmatar esses problemas, com escolhas de poupança mais eficientes.
“As famílias portuguesas estão, desde os anos 2000, a poupar menos. Houve uma tendência decrescente. A pandemia foi um período excecional, mas que foi resultado de as pessoas estarem em casa, consumirem menos e, consequentemente, pouparem mais e acumularem mais riqueza. Assistiu-se ao mesmo nos outros países, portanto a subida em Portugal foi uma tendência geral e, resolvida a questão da pandemia, voltou-se aos mesmos níveis de poupança, de cerca de 15%, que havia antes da pandemia“, começou por dizer Miguel Ferreira.
De acordo com o professor, os rendimentos mais baixos são uma das explicações para estes níveis de poupança baixos, mas considera que a falta de literacia financeira continua a ser a razão mais substancial para isso acontecer: “Portugal está entre os piores países da UE em termos dos níveis de conhecimentos financeiros da nossa população. Essa falta de literacia financeira também tem um efeito negativo sobre a poupança porque as pessoas, por um lado, não percebem a importância de fazerem alguma poupança e de essa poupança ser planeada, e, por outro lado, também não sabem onde investir essas poupanças“.
“Poupamos mal porque não utilizamos os instrumentos certos que existem. Há um esforço para que as pessoas os conheçam, mas há uma falta de conhecimento muito grande de quem tem poupanças, ainda que pequenas, de decidir pelos instrumentos certos. Os incentivos também não são os melhores e, portanto, o que nós vemos é que as pessoas investem mal o pouco que têm. Mas o facto de as pessoas não procurarem outros produtos ou os produtos mais indicados deve-se à falta de literacia financeira das pessoas”, disse, por sua vez, Miguel Santos.
Dentro dos instrumentos à disposição, Miguel Ferreira considera que se dá “demasiada importância aos certificados de aforro e aos depósitos a prazo“: “É preciso perceber que as taxas de juro pagas pelo Estado, quer seja em certificados de aforro ou obrigações do tesouro, devem acompanhar as taxas de juro do mercado porque o próprio Estado tem de fazer uma gestão eficiente da dívida pública para o bem de todos. E acho que também não devemos olhar demasiado para o Estado como tendo que ser a solução de todos os problemas e estar a oferecer produtos de poupança mais atrativos para as famílias“.
Falta de literacia financeira é o principal entrave ao investimento
Nesse sentido, o professor afirmou que “sempre que uma família quer poupar mais para o longo prazo, seja para a reforma, para a saúde ou para a educação dos filhos, deve investir em produtos financeiros que dão rentabilidade significativamente mais alta no longo prazo, a mais de cinco anos, como as ações, que, historicamente, nos últimos cinco anos, dão, em média, uma rentabilidade de cerca de 8% acima das taxas sem risco”.
Contudo, a falta de literacia financeira e de cultura em investimento também tem sido entrave na tomada de decisão do investimento em ações. “Temos vários estudos que mostram que as decisões financeiras das pessoas em idade adulta são bastante melhores se já tiverem tido educação financeira em jovens. Por isso, a elevação dos níveis de literacia financeira é um aspeto fundamental para conseguirmos que as pessoas poupem e que invistam nos produtos financeiros adequados para os objetivos do seu investimento“, garantiu.
Nesta linha, Miguel Santos destacou a facilidade de acesso à informação hoje em dia, através da Internet e das redes sociais, mas alertou para o facto de estas plataformas poderem passar informações erradas e criarem ainda mais obstáculos na decisão de poupança e investimento: “Se nós percorrermos qualquer rede social, vemos imensos especialistas em literacia financeira, mas o resultado prático é aquele que sabemos: nenhum, continuamos em último. As pessoas continuam a investir mal. Portanto, há um trabalho muito importante que tem de ser feito, seguramente nas escolas, mas não só. Portanto, o tema da literacia financeira é um tema muito importante, mas ainda não se descobriu a forma certa de educar as pessoas nesta área tão sensível“.
“Existem soluções no mercado para as pessoas fazerem complementos de reforma. Existem muitas e boas, comprovadas, de acordo com os objetivos de cada um e com o momento da vida em que está. Existem inúmeros instrumentos no mercado à disposição das pessoas para poderem investir e poupar adequadamente. Não é por falta de instrumentos que não temos o dinheiro bem investido, é claramente por falta de conhecimento“, continuou.
Por sua vez, Miguel Ferreira falou sobre o programa de literacia financeira para pessoas em idade adulta, desenvolvido pela Nova SBE: “Em média, as pessoas que procuram o nosso programa têm à volta de 40 anos e temos mais de 2/3 de mulheres. As pessoas, no fundo, procuram melhorar os seus níveis de literacia financeira, em geral, mas, em particular, em tudo o que tenha a ver com crédito – à habitação, ao consumo, cartões de crédito. Procuram também informação sobre como planear e ter um orçamento familiar e conseguir programar a poupança. E, depois, toda a parte de investimento, de forma a saber qual o produto mais adequado aos seus objetivos e ao seu perfil de risco. Também procuram saber lidar com dificuldades financeiras, perceber quais são os mecanismos disponíveis, onde encontrar aconselhamento quando os níveis de rendimento que têm não são suficientes para fazer face à responsabilidade de crédito”.
Regulamentação e opções de investimento além dos bancos
O professor falou, ainda, da regulamentação a que os bancos estão sujeitos como outro entrave ao investimento. “A regulamentação tem um bom objetivo, que é proteger as pessoas, mas também cria barreiras e dificuldades ao investimento de longo prazo porque para fazer um investimento num produto com mais risco, mas que é mais adequado para um investimento de longo prazo, como seja a reforma ou a educação, a regulamentação impõe uma série de obrigações que são muito complexas e que acabam por afastar os investidores e as famílias desses produtos financeiros”, referiu.
Ainda assim, Miguel Santos manteve a convicção de que o maior problema é a falta de conhecimento: “Eu não vejo o tema da transparência de informação como um ponto na dificuldade em investir bem. É uma questão de literacia. A falta de conhecimento é gigante“.
“Também é importante mudar o paradigma da distribuição e de as pessoas perceberem que podem comprar produtos financeiros não só através dos bancos, que estão sujeitos a muita regulamentação. Tem-se assistido, noutros países europeus, a uma percentagem cada vez maior da população que investe através de plataformas digitais. Hoje em dia, há ´supermercados´ que vendem produtos financeiros bons e que dão todas as garantias e nos quais a oferta é muito maior, as comissões são mais baixas, portanto podemos investir poupanças através de plataformas digitais, que são igualmente seguras e que têm vantagens significativas na distribuição de produtos financeiros“, concluiu Miguel Ferreira.
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