CNA diz que “travão” para vinha é precoce e fala em jogo político sobre fundos
"Se há algum problema de stocks ou excesso de produção ele não se resolverá pela falta de investimento no setor. Até é um bocado contraproducente falar nisso”, afirmou o dirigente da CNA Pedro Santos.
A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) classificou esta segunda-feira como precoce e “contraproducente” a ideia de o Governo aplicar um “travão” nos apoios à vinha, temendo novos protestos do setor, e falou em “jogo político” sobre a execução de fundos europeus.
O ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes, admitiu, em entrevista ao Público, a necessidade de aplicar um “travão” ao apoio para a nova vinha, notando que o setor já fala na vindima verde (apanha dos frutos sem estarem maduros para posterior destruição).
“A nós parece-nos um bocado estranho falar já em travões ao apoio ao investimento e reestruturação. A análise de candidaturas ainda a decorre. Os projetos ainda vão ser executados até 2025 e depois é que se verá. Grande parte da verba, em 2025, pode estar gasta. Se há algum problema de stocks ou excesso de produção ele não se resolverá pela falta de investimento no setor. Até é um bocado contraproducente falar nisso”, afirmou o dirigente da CNA Pedro Santos, em declarações à Lusa.
Para a confederação, esta abordagem do Governo “peca por defeito” e o problema tem que ser tratado a nível europeu. A CNA lembrou que o próprio ministro, enquanto eurodeputado, participou em decisões que levaram ao aumento da área da vinha na União Europeia (UE). Conforme sublinhou, cada país tem direito a aumentar, anualmente, a área de vinha regulada pela UE em 1,2%, uma decisão que “está a causar e pode continuar a causar excesso de vinha no mercado”.
Ver esta questão “apenas e só com medidas nacionais” contribui para a manutenção de um problema de mercado. Já relativamente à vindima verde, Pedro Santos disse ser uma intervenção no mercado, como a destilação, que já é aplicada há vários anos. A CNA referiu ainda não estar tranquila quanto ao impacto que a entrevista dada pelo ministro e o próprio Programa do Governo possam ter no setor, acreditando que os protestos, sobretudo, da agricultura familiar, que disse estar esquecida, vão continuar.
No que diz respeito à execução dos fundos europeus, outro dos temas abordados por José Manuel Fernandes, os agricultores dizem fazer parte “do jogo político” quem entra “queixar-se sempre da herança que tem”. Contudo, a CNA apontou que, mais do que falar em execução, é importante resolver os problemas do setor, evitando que os agricultores abandonem a sua profissão.
“De facto, nesse jogo de quem executou não entramos. O que nos interessa é que os problemas sejam resolvidos e os problemas resolvem-se com alterações de políticas. Esperamos que o senhor ministro ainda corrija muito do que está no Programa do Governo”, vincou. A CNA já tinha solicitado uma reunião com o ministro da Agricultura, que deverá acontecer ainda esta semana.
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