Ser racional tem de estar sempre na moda

Temos muita informação, mas não temos melhor informação, e, seguramente, há muito menor conhecimento.

Vivemos tempos de extremismos e populismos, onde quem é o rei da fanfarronice, e grita mais alto, é mais escutado. O barulho impôs-se ao silêncio, os sintomas de irracionalidade venceram a tranquilidade das águas calmas. E os valores valem tanto como o Banco Popular.

É um mundo próximo do manicómio. Dizem que a genialidade é prima da loucura, mas os homens que comandam o mundo, as pessoas que condicionam as percepções da maioria, têm pouco de genial e muito de desequilibrado (para ser brando).

A linguagem é muito mais agressiva, os títulos de imprensa e televisão têm de ser bélicos ou escorrer sangue para chamar a atenção. Sim, porque apesar do barulho que reina, as pessoas estão cada vez mais amorfas e acríticas e é neste caldeirão, onde se perderam as referências, que se impõem uma série de lideranças que não têm qualquer categoria, sapiência ou orientação para comandar.

Surgem assim os homens que “falam para as pessoas”, isto é, os que escolhem os temas que o povo quer ouvir, que descambam para o populismo simples do combate contra a corrupção, contra o sistema, contra as instituições que sempre foram as guardiães de uma sociedade. Mas se espremermos bem essa mensagem, se cuidadosamente estudarmos a “persona”, o que escorre é apenas uma mão cheia de nada.

Não é que não tenhamos razão para criticar as mesmas, temos com certeza, elas têm vindo a degradar-se e a qualidade dos seus protagonistas tem sido corroída ao longo do tempo. Precisamos de boa gente, que não seja timorata, de bem, com currículo, com substância, mas o que vemos nas novas lideranças que assustam o mundo não é nada disso. Parece que um bando de trogloditas ocupou as cadeiras do poder.

O discurso do ódio e do extremismo assentou arraiais, quando o que precisamos é de uma renovação construtiva da democracia. A perversão da pós-verdade e o mau uso de uma internet que permite a qualquer um produzir conteúdos e emitir mensagens, alteraram radicalmente a concepção do universo mediático e a maneira de fazer política.

Temos muita informação, mas não temos melhor informação, e, seguramente, há muito menor conhecimento. A ascensão de banalidades e “fait-divers” a notícia confundiram o público e retiraram consistência ao que verdadeiramente interessa e deve mover uma comunidade. E em tempos de crise tudo isto se agudiza.

É por isso que afirmo que, apesar da racionalidade parecer distante e pouco relevante, ser racional tem de estar sempre na moda. «Pois mesmo na torrente, tempestade, eu diria até no torvelinho da paixão, é preciso conceber e exprimir sobriedade – o que engrandece a acção», escrevia Shakespeare em “A Tempestade”. A insanidade destes tempos irá passar, é uma moda passageira. Só a racionalidade nos levará a bom porto.

Nota: Por decisão pessoal, o autor não escreve de acordo com o novo acordo ortográfico

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