Japoneses e franceses interessados na compra da Inapa
Administração da Inapa recebeu abordagens da gigante Japan Pulp & Paper para ficar com 100% da empresa e de investidores franceses visando apenas a operação naquele país e no setor das embalagens.
Nas últimas semanas, já confrontados com a situação de aperto financeiro que acabou por levar a Inapa a pedir um empréstimo de 12 milhões de euros aos três maiores acionistas para enfrentar a carência de tesouraria de curto prazo da subsidiária alemã, que acabou rejeitado pela Parpública e abriu caminho à insolvência, os administradores do grupo de distribuição de papel, que renunciaram ao cargo esta segunda-feira, avaliaram duas propostas para a venda da totalidade do capital ou de parte das operações.
Segundo apurou o ECO, a abordagem que visava a compra de 100% da empresa agora sediada em Sintra, que emprega cerca de 200 pessoas em Portugal, foi realizada pela gigante Japan Pulp & Paper Co (JPP), embora não tenha chegado a entregar uma proposta formal. Cotado na bolsa de Tóquio e com perto de 5.000 trabalhadores a nível global, o produtor e distribuidor asiático tem operações europeias no Reino Unido e mostrou interesse em expandir-se para as geografias mais fortes no negócio da Inapa, como Alemanha, França e Portugal.
Além dessa abordagem por parte deste conglomerado internacional, referida pelo CEO Frederico Lupi na carta enviada a 18 de julho ao secretário de Estado do Tesouro e das Finanças, João Silva Lopes, quando recorreu ao Governo para tentar desbloquear o financiamento de emergência, o ECO sabe que também foi avaliada, e era do conhecimento da Parpública, a existência de uma proposta formal de MBO (Management Buy Out), apoiada por um grupo de investidores franceses, mas focada apenas na operação naquele país e na área das embalagens (packaging).
O ECO questionou o Ministério das Finanças e a Parpública sobre estas demonstrações de interesse na Inapa, mas não obteve resposta até à hora de publicação deste artigo. Fundado em 1965 e cotado na Bolsa de Lisboa desde 1980, o grupo que em 2023 registou prejuízos de oito milhões de euros e viu as receitas baixaram 20% para 968,7 milhões de euros, tem atualmente como principais acionistas a entidade que gere as participações do Estado (44,89%), a Nova Expressão (10%) e o Novobanco (6,55%).
Na perspetiva dos investidores, sobretudo dos detentores de ações, “a existência de um comprador não é garantia de qualquer salvaguarda do património”, salienta o trader do Banco Carregosa, Pedro Oliveira, notando ao ECO que “em boa verdade, uma eventual compra poderia ser efetuada por um valor simbólico”. E nesta nova fase, vaticina Nuno Mello, analista da XTB, “muito dificilmente alguém terá interesse num projeto tão ruinoso e num mercado em decadência por culpa da digitalização”.
O Ministério liderado por Joaquim Miranda Sarmento esclareceu na segunda-feira que o chumbo desta operação de financiamento foi decidido depois de três entidades estatais terem “concluído que a proposta [da Inapa] não reunia condições sólidas, nem demonstrava a viabilidade económica e financeira que garantisse o ressarcimento do Estado”. Além disso, salientou que a empresa “não apresentou qualquer estratégia de recuperação” e que se trata de uma empresa privada que não tem “uma atividade considerada como estratégica para a economia portuguesa”.
Também o ministro da Economia, questionado sobre o tema durante uma conferência de imprensa, advertiu que “é muito importante assegurar o cuidado e proteção do dinheiro dos contribuintes de cada vez que se tomam decisões de reestruturação e de apoios a empresas”. “Muitas vezes é mais fácil clamar por apoios públicos, mas muitas vezes é preciso ver o interesse público, avaliar bem onde é que ele está”, acrescentou Pedro Reis.
Acelera reestruturação com fecho de armazéns e despedimentos
Com o negócio do papel em perda acentuada na Europa e as estimativas a apontarem para que tenha desaparecido um terço deste mercado nos últimos dois anos, no início deste ano, como o ECO avançou, o grupo decidiu “antecipar e acelerar” o processo de reestruturação das operações logísticas na Alemanha, França e Portugal, que incluía o encerramento de vários armazéns e a redução do número de trabalhadores.
Em Portugal, o número de instalações foi reduzido para metade. Além de ter saído do escritório que ocupava no centro de Lisboa e mudado a sede da holding para Sintra, onde passaram a trabalhar 150 pessoas, encerrou um armazém que tinha no Porto, na zona de Campanhã, concentrando em Santa Cruz do Bispo (Matosinhos) as funções logísticas e administrativas no Norte do país.
Já no mercado alemão, que representa mais de 60% das vendas, a empresa contava concluir ainda este ano todo o projeto de reinstalação logística, que estava calendarizado apenas para 2025. O plano revisto previa baixar o número de localizações de 14 para 11, com Frederico Lupi a explicar na altura que implicava a “centralização em quatro armazéns principais, que passam a ser o eixo da distribuição” nas três áreas de negócio: papel, embalagem e comunicação visual.
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