BRANDS' ECO “500 mil carregamentos mensais já evitaram a emissão de cerca de 75 mil toneladas de CO2”
Luís Barroso, CEO da MOBI.E, partilha como funciona a rede de carregamento para veículos elétricos, o papel da MOBI.E, quais os desafios e oportunidades e, ainda, as expectativas para o futuro.
A mobilidade elétrica tem vindo a ganhar destaque como uma das principais soluções para a transição energética e a redução da pegada ambiental nas cidades. À medida que os veículos elétricos se tornam mais acessíveis e as infraestruturas de carregamento se expandem, aumenta o interesse por esta alternativa sustentável em detrimento dos veículos a combustão.
Em Portugal, o setor tem registado um crescimento significativo, impulsionado por políticas públicas, incentivos fiscais e a crescente consciencialização sobre a importância da descarbonização. Contudo, a adoção em massa da mobilidade elétrica ainda enfrenta desafios, como o desenvolvimento de uma rede de carregamento robusta e a adaptação das cidades a esta nova realidade.
Neste ponto, Luís Barroso, CEO da MOBI.E, entidade que gere a rede de carregamento para veículos elétricos, explica mais detalhadamente quais são esses desafios, mas também as oportunidades desta nova realidade.
Qual tem sido o percurso da MOBI.E desde a sua fundação até ao momento?A MOBI.E iniciou a sua atividade em 2015, tendo sido responsável pela criação de uma rede piloto para carregamento de veículos elétricos que garantisse pelo menos um posto de carregamento em cada um dos municípios do país e de um mercado regulado de mobilidade elétrica. Ao mesmo tempo, atuava no mercado regulado da mobilidade elétrica como Entidade Gestora da rede de Mobilidade Elétrica (EGME), com a responsabilidade de gestão e monitorização dos fluxos de informação da rede de postos de carregamento elétricos.
Em 2020, com o início pleno da fase de mercado da mobilidade elétrica, a MOBI.E reposicionou-se no mercado, de forma a promover a universalidade do modelo Mobi.E, cooperando com todos os parceiros e agindo como facilitador de todos os stakeholders que queiram desenvolver negócios na área da mobilidade elétrica, mantendo, ao mesmo tempo, as suas funções de EGME.
"Desde o início da fase plena de mercado, a rede nacional de carregamento, a rede Mobi.E, registou um crescimento impressionante, passando de 850 postos para mais de 5400, disponibilizando, atualmente, mais de 9400 pontos de carregamento, o que permite aos mais de 235 mil utilizadores efetuarem mensalmente mais de 500 mil carregamentos que já evitaram a emissão de cerca de 75 mil toneladas de CO2, desde janeiro deste ano.”
Através da sua plataforma de gestão, a MOBI.E garante a ligação de todos os pontos de carregamento operados pelos Operadores de Pontos de Carregamento (OPC) num mesmo sistema, fazendo com que a rede de carregamento nacional funcione como a rede Multibanco, onde cada Utilizador de Veículo Elétrico (UVE) possa aceder a todos os pontos através de um meio, cartão ou app, fornecido por um Comercializador de Energia da Mobilidade Elétrica (CEME) e ter acesso em tempo real, numa única plataforma, à localização, disponibilidade, potência e custo de utilização de cada posto.
No final de 2023, com a entrada em funcionamento de uma nova plataforma de gestão da rede, a MOBI.E iniciou o processo de internacionalização com o objetivo de manter Portugal como referência internacional em termos de infraestruturas de carregamento, de apoiar a internacionalização de empresas nacionais do setor e de captar novas fontes de receitas que permitam reduzir os custos de utilização da rede Mobi.E.
Desde o início da fase plena de mercado, a rede nacional de carregamento, a rede Mobi.E, registou um crescimento impressionante, passando de 850 postos para mais de 5400, disponibilizando, atualmente, mais de 9400 pontos de carregamento, o que permite aos mais de 235 mil utilizadores efetuarem mensalmente mais de 500 mil carregamentos que já evitaram a emissão de cerca de 75 mil toneladas de CO2, desde janeiro deste ano.
Quais são os principais desafios e oportunidades que a MOBI.E enfrenta no contexto da transição energética e da mobilidade elétrica em Portugal?Os desafios são vários, sendo o principal o combate constante às diversas campanhas de desinformação, quer sobre a mobilidade elétrica, em geral, quer sobre a rede Mobi.E, em particular. Depois, acompanhar a evolução tecnológica de um mercado recente em forte expansão. Por último, o de ser bem-sucedida nas ações de sensibilização que realizamos junto de diversos stakeholders, como as empresas distribuidoras de energia, municípios, entidades reguladoras, para que definam, dentro das suas competências, procedimentos específicos que permitam desburocratizar os processos de instalação de postos de carregamento e acelerar a transição energética.
Quanto a oportunidades, o facto de atualmente a MOBI.E ser compreendida como uma referência no processo de desenvolvimento da mobilidade elétrica nacional permite-nos participar mais facilmente em fóruns internacionais e acompanhar in loco os progressos que o setor vai registando. Ao mesmo tempo, permite capitalizar o nosso know-how no processo de internacionalização em curso com especial foco em Espanha e na América Latina.
Em termos de inovação, que iniciativas têm sido implementadas para melhorar a infraestrutura de carregamento no país?Desde logo, apostamos na constante atualização e melhoria da plataforma de gestão da rede, através da qual monitorizamos em tempo real toda a informação. É graças a esta plataforma que a MOBI.E partilha dados, em tempo real, referentes à utilização da rede, garantindo duas valências que caracterizam o modelo português de mobilidade elétrica e que o recente Regulamento Europeu, AFIR, persegue: a total interoperabilidade e o livre acesso aos dados. Na prática, esta plataforma torna possível que qualquer utilizador de veículo elétrico, independentemente do contrato de energia que tenha estabelecido com o seu comercializador, consiga carregar em qualquer posto disponível da rede de acesso público e, ao mesmo tempo, fornece ao UVE informação útil em tempo real sobre todos os pontos de carregamento ligados à rede.
Também ao nível dos meios de pagamento, a rede Mobi.E tem sido inovadora. Desde abril de 2021, foram implementadas, em conjunto com alguns CEMEs, soluções de pagamento Ad-Hoc com QR Code e, mais uma vez, no cumprimento da legislação europeia, começaram este ano a aparecer os primeiros postos com terminais de pagamento automático.
Fruto da especialização de funções entre CEMEs e OPCs, que permite a segregação de consumos de energia, o modelo Mobi.E dispõe de uma inovação única que permite alargar a espaços de acesso privado, como as garagens dos UVEs e das empresas, a experiência de carregamento da rede de acesso público. Para isso, precisam de se constituir como Detentores de Posto de Carregamento (DPC): uma solução pensada sobretudo para empresas e condomínios, que permite partilhar os postos de carregamento próprios, onde cada um, através do seu cartão/app, é responsável pelos consumos de energia para carregar a sua viatura.
"Detentores de Posto de Carregamento (DPC): uma solução pensada sobretudo para empresas e condomínios, que permite partilhar os postos de carregamento próprios, onde cada um, através do seu cartão/app, é responsável pelos consumos de energia para carregar a sua viatura.”
Além disso, a MOBI.E está a estruturar outras inovações, tais como a criação de uma janela única da mobilidade elétrica, onde todos os stakeholders possam realizar os seus pedidos de forma virtual no mesmo portal – contratações de energia, licenciamentos, etc; a realização de um piloto com a E-Redes com o objetivo de aproveitar os mecanismos de gestão flexível das redes de energia na rede Mobi.E; e a ambição de avançar para um piloto que permita soluções de plug & charge em toda a rede Mobi.E.
Brevemente, também esperamos contar com um mecanismo de E-Credits inovador, que permita servir de fonte de financiamento adicional às empresas do setor, sustentado no real impacto positivo que a mobilidade elétrica tem na sustentabilidade ambiental e não em meras estimativas.
Como é que a MOBI.E está a colaborar com outras empresas ou entidades públicas para acelerar a adoção de veículos elétricos em Portugal?Além do apoio que a equipa da MOBI.E presta a todos os atores que fazem parte e tenham interesse em pertencer à rede, temos também desenvolvido um trabalho de sensibilização e de apoio a um conjunto de entidades que prestam serviço público, como as empresas distribuidoras de energia, a DGEG, a ENSE e os municípios.
Neste momento, está em fase de desenvolvimento o Projeto piloto “Ruas Elétricas”, que visa a instalação de postos de carregamento em zonas residenciais e comerciais, sem estacionamento próprio, e que envolve 62 municípios que manifestaram interesse em participar. Até ao final de 2025, este piloto irá disponibilizar 156 postos de carregamento, que totalizam 312 pontos de carregamento, num investimento global de dois milhões de euros, cofinanciado pelo Fundo Ambiental.
Em Portugal, o que é que ainda falta fazer?Os bons resultados que Portugal tem vindo a atingir em termos de transição energética e que colocam o país, em termos de quota de mercado do registo de veículos totalmente elétricos e Plug In, à frente da França, Reino Unido, Alemanha, Espanha ou Itália, é fruto de termos sido felizes na definição de uma solução estruturada para apoiar a transição e da consistência que temos sabido manter em termos de apoios e regras de mercado.
Isto não invalida que não se devam introduzir melhoramentos na legislação. Aqui, desde logo, gostaria de salientar a necessidade urgente de regular a utilização da produção descentralizada para utilização na rede Mobi.E, uma medida que irá contribuir em muito para reduzir os custos de carregamento em toda a rede de acesso público, a regulação de um mecanismo de E-credits que permita criar uma fonte de financiamento alternativa para suportar os investimentos das empresas do setor, criar mecanismos harmoniosos e céleres de licenciamento de ocupação de espaço na via pública para a instalação de carregadores, bem como mecanismos específicos e céleres para os procedimentos de ligação de carregadores às redes de distribuição de energia. Não menos importante, fazer cumprir a lei, penalizando fortemente empresas que procurem atuar à margem da lei, criando formas de concorrência desleal que minam a confiança e a credibilidade do mercado.
"Já quanto ao UVE ter conhecimento do custo do carregamento no final de cada sessão, é uma questão que está em vias de ser ultrapassada rapidamente, uma vez que a MOBI.E, com a nova plataforma de gestão, informa, em tempo real, os CEMEs das características de cada carregamento, pelo que, neste momento os CEMEs estão a desenvolver as ferramentas necessárias dentro das suas plataformas para poderem dar a informação do custo do carregamento logo após o final de cada sessão.”
Ao nível do funcionamento da rede Mobi.E, uma das dificuldades que é mais apontada pelos UVEs relaciona-se com a pouca perceção do custo do carregamento, uma vez que tradicionalmente os CEMEs colocam o seu tarifário em função dos kWh, enquanto os OPCs utilizam, inúmeras vezes, tarifários baseados em outras variáveis como o tempo ou o carregamento. Embora seja apologista que o mercado deva ter liberdade para estabelecer os tarifários num regime de concorrência, ainda para mais num mercado que está a dar os primeiros passos, não devemos ignorar estas críticas constantes dos UVE. Muito embora, atualmente, várias apps permitam a qualquer UVE poder estimar o custo do seu carregamento, o que é certo é que estas soluções, por si só, parecem não ser suficientes, sendo necessário os próprios intervenientes definirem formas mais eficazes de responderem a esta necessidade dos UVEs.
Já quanto ao UVE ter conhecimento do custo do carregamento no final de cada sessão, é uma questão que está em vias de ser ultrapassada rapidamente, uma vez que a MOBI.E, com a nova plataforma de gestão, informa, em tempo real, os CEMEs das características de cada carregamento, pelo que, neste momento os CEMEs estão a desenvolver as ferramentas necessárias dentro das suas plataformas para poderem dar a informação do custo do carregamento logo após o final de cada sessão.
A conferência Outlook Auto reflete uma maior intenção de promover o diálogo sobre mobilidade sustentável e elétrica no setor automóvel. Como avalia a importância deste tipo de eventos?A MOBI.E fez questão de apoiar e estar presente neste evento, atendendo a que a promoção da mobilidade elétrica está entre um dos nossos grandes propósitos e objetivos, como foi referido anteriormente, sendo uma das formas mais eficazes de combater as campanhas de desinformação. Envolver o mercado, estimular a discussão, contribuir para uma maior literacia nesta área e criar sinergias entre os setores, perceber os melhores caminhos de futuro e como conseguimos lá chegar, em conjunto, é uma prioridade para nós, pelo que iniciativas como esta, não só merecem o nosso reconhecimento, como um forte empenho para o seu sucesso.
Como imagina o futuro da mobilidade elétrica e sustentável daqui a 10 anos?Num mercado dinâmico, em forte expansão e desenvolvimento tecnológico, 10 anos é o tempo necessário para atingir uma nova realidade, basta atentar na evolução registada nos últimos 10 anos, em termos de autonomia, capacidade das baterias, potência dos carregadores, sistemas de segurança dos veículos ou automatização dos processos de fabrico dos veículos, onde a componente ambiental é cada vez mais real.
Neste horizonte temporal, será possível massificar soluções de carregamento plug & charge que irão transformar radicalmente a boa experiência de carregamento para o UVE. Também a autonomia das baterias e a rapidez de carregamento irão evoluir favoravelmente e o recurso à IA será tanto maior à medida que esta tecnologia também vá evoluindo.
"Espera-se que, daqui a 10 anos, a esmagadora maioria do transporte público em circulação seja descarbonizada, enquanto o transporte de mercadorias de curta distância estará totalmente eletrificado e o longo curso estará a meio caminho do processo de descarbonização.”
Espera-se que, daqui a 10 anos, a esmagadora maioria do transporte público em circulação seja descarbonizada, enquanto o transporte de mercadorias de curta distância estará totalmente eletrificado e o longo curso estará a meio caminho do processo de descarbonização.
Assistiremos, ainda, a uma tendência crescente de soluções de mobilidade partilhada descarbonizada, onde a posse do veículo terá uma importância decrescente.
Estas dinâmicas de mobilidade partilhada serão tanto maiores quanto maior for a evolução para os veículos autónomos que, sem dúvida, irão transformar de forma disruptiva os padrões de mobilidade a que estamos habituados. Embora não seja expectável a sua massificação num horizonte temporal de 10 anos, espera-se que neste prazo já seja possível existirem soluções seguras desta tecnologia.
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